Acessibilidade / Reportar erro

Nietzsche e a sociofisiologia do eu1 1 Uma versão em inglês desse artigo foi publicada em SIEMENS, H. W. 'Nietzsche's Socio-Physiology of the Self', in: CONSTÂNCIO, J. BRANCO, M. & Ryan, B. (ed.s). Nietzsche and the Problem of Subjectivity. de Gruyter, 2015, pp. 629-653.Esse artigo tem por base um trabalho sobre as implicações políticas do pensamento de Nietzsche, especialmente sua crítica dos valores democrático-liberais (Siemens 2006, Siemens 2009a), bem como meu artigo Empfindung para a Nietzsche-Wörterbuch (NO 2011). Eu gostaria de agradecer a João Constâncio pela oportunidade de apresentar e debater uma versão anterior desse artigo em um workshop em Lisboa. Tradução de Daniel Temp. Revisão Técnica de Rogério Lopes.

Resumo

Este artigo examina as considerações de Nietzsche acerca das fontes sociais e históricas do eu como um contra-argumento à concepção liberal de indivíduo. Defendo que Nietzsche oferece não apenas uma crítica contundente à concepção associal e previamente individuada de pessoa, à qual se conecta a noção liberal de liberdade (compreendida como o direito individual de escolha de sua própria concepção de bem), como ainda um contra-conceito alternativo de pessoa e de soberania. Seus argumentos visam mostrar, em sua dimensão crítica, que o indivíduo ou pessoa é inseparável de seus objetivos ou valores, que são socialmente constituídos, e que nossa capacidade como indivíduos, especialmente para a agência soberana, é o produto de uma longa história e pré-história social. Em sua dimensão construtiva, encontramos em Nietzsche a contra alegação de que a manutenção e o cultivo de nossas capacidades (para reflexão e agência soberanas) são dependentes de relações de um antagonismo ponderado entre nós mesmos enquanto indivíduos, ou antes: como dividua. Esses argumentos serão desenvolvidos no que se segue em consonância com quatro principais linhas de pensamento: sobre as origens sociais e o caráter da (auto) consciência (§I); sobre a (pré) história e a constituição social de nossa capacidade como indivíduos soberanos [sovereign] (§II); sobre as origens sociais do fenômeno moral (como internalização de normas comuns) (§III); e sobre a destruição fisiológica do sujeito moral substancial, seguida da reconstrução fisiológica (§IV).

Palavras-chave
soberania; sociofisiologia; natureza; moral

Grupo de Estudos Nietzsche Rodovia Porto Seguro - Eunápolis/BA BR367 km10, 45810-000 Porto Seguro - Bahia - Brasil, Tel.: (55 73) 3616 - 3380 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: cadernosnietzsche@ufsb.edu.br