RESUMO
No período entre a publicação dos artigos escritos para o jornal O Estado de S. Paulo e a redação de Os sertões, Euclides da Cunha muda radicalmente sua opinião sobre o significado da revolta de Canudos, mas em nenhum momento, antes ou depois da publicação do livro, ele registra as razões dessa mudança ou propõe uma autocrítica a seu posicionamento anterior. O presente artigo examina esse silêncio, procurando diagnosticá-lo a partir do quadro teórico fornecido pela psicologia das massas adotada no livro, especialmente a de autoria do psiquiatra Nina Rodrigues. Sendo usada por Euclides para compreender a “loucura coletiva” que teria acometido os sertanejos, uma tal teoria psicológica, que caracteriza essa doença coletiva como contagiosa, poderá dar pistas sobre a “contaminação” do próprio autor da denúncia contra a República, explicando, ao menos em parte, sua omissão ao não se incluir entre os causadores da tragédia.
PALAVRAS-CHAVE:
Euclides da Cunha; Autocrítica; Doença mental; Psicologia das massas; Contágio