Resumo
Este artigo inicia com uma análise das associações semânticas, tropológicas e metafísicas do nosso moderno conceito de “experiência”, as quais distinguem esse conceito, na sua forma e no seu conteúdo, em relação a seus contrários. Esses, não apenas incluem as noções gerais, tais quais Razão, Educação e Ciência, mas também indicam de que modo a “experiência” tem sido pensada e vivida em oposição às mídias, verbais e representacionais, de textos, de livros impressos e da escrita em geral. A desconstrução (Derrida) e a teoria das mídias (McLuhan) oferecem-nos maneiras de entender de que modo a emergência de nosso conceito de “experiência” depende, na medida em que se opõe, das mídias escritas, dos livros e das práticas e instituições implicadas (como a leitura e a escola). “Experiência” per se é, talvez, impensável sem tais mídias e suas práticas institucionalizadas. Mais do que da teoria moderna, entretanto, é uma das funções maiores da literatura moderna a de ilustrar essa relação, de conflito e dependência, e, também, encarná-la em sua própria forma enquanto escrita literária. Além da oposição entre escrita e “experiência”, coloca-se a questão a respeito da natureza do conceito equívoco de “experiência literária”. O que se deveria entender por isso? Dessa maneira, este artigo explora esse conceito através de dois textos que tentaram dar à “experiência” sua forma própria: os Ensaios, de Montaigne, e A náusea, de Sartre.
Palavras-chave:
escrita; experiência; Montaigne; Sartre