Resumo
Este estudo, orientado pelo enfoque qualitativo de pesquisa social em saúde, discute a inserção de psicólogos nos serviços de atenção primária do Sistema Único de Saúde, por meio da Estratégia Saúde da Família (ESF). O objetivo do trabalho é analisar especificidades da atuação dos psicólogos nos referidos serviços, focalizando nas práticas desenvolvidas visando ao reconhecimento e à autonomia profissional. A técnica empregada para a construção do material empírico foi a entrevista semiestruturada, junto a 18 psicólogos com ampla experiência na atenção e formação para a ESF. O referencial teórico adotado se orienta pelos conceitos de poder simbólico e habitus, centrais na sociologia de Pierre Bourdieu. Também são retomados elementos teóricos procedentes da sociologia das profissões. Como resultados, evidenciam-se tensões concernentes às lutas por autonomia profissional. Um habitus profissional se apresenta como ilustrativo das práticas ditas específicas e distintivas do psicólogo: o saber lidar com conflitos interpessoais; ser agente problematizador e mediador nas relações interprofissionais; e a capacidade de reconhecer processos históricos constituintes das subjetividades e tramas relacionais. Alguns desafios à autonomia profissional são identificados: a expectativa social e o prestígio associados aos modelos clássicos de atuação clínica; o acolhimento de uma sobrecarga de trabalho em territórios de grande extensão; e a necessidade de elaborar posicionamentos que façam contraponto e complemento ao modelo biomédico.
Palavras-chave:
Psicologia; Sistemas de Saúde; Atenção Primária à Saúde; Profissionalização; Atenção Básica à Saúde