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Formação em bioética: adaptação das atividades para a forma remota

Resumo

A equipe de formação em bioética dos cursos da área da saúde da Universidade de O’Higgins, Chile, estrutura seus cursos de acordo com as necessidades locais. Foi realizada uma pesquisa qualitativa com a participação de ingressantes de 2018 para identificar as necessidades de formação em bioética da comunidade local para a reformulação dos cursos. Os cursos ministrados em três anos consecutivos sofreram alteração no primeiro semestre de 2020 devido à crise sanitária. Esta reflexão analisa se a participação, a produção coletiva e o questionamento foram preservados como uma conquista dos propósitos de formação nos cursos ministrados presencialmente. Dada a circunstância e os resultados obtidos, o programa e projeto foi alterado da modalidade presencial para a virtual, uma vez que se conheceram as necessidades dos alunos. A partir da experiência docente apresentada, conclui-se que, mesmo diante da situação de emergência sanitária, os objetivos da formação em bioética foram alcançados.

Palavras-chave
Bioética; Programa; Metodologia; Oficinas; Estudos de caso

Resumen

El equipo de formación en bioética de carreras sanitarias en la Universidad de O´Higgins, Chile, diseña sus cursos según las necesidades locales. Se realiza una investigación cualitativa tomando la cohorte de ingreso de 2018 cuyo propósito fue identificar las necesidades formativas en bioética de la comunidad local para el rediseño de los cursos. Los cursos impartidos en tres años consecutivos cambian el primer semestre del 2020 debido a la crisis sanitaria. Esta reflexión revisa si la participación, producción colectiva y cuestionamiento se conservan como logro de los propósitos formativos en los cursos impartidos presencial. Dada la contingencia y los resultados obtenidos, se modifica el programa y diseño presencial a uno virtual, puesto que se han conocido los requerimientos estudiantiles. De la experiencia docente sistematizada y presentada, se concluye que aún frente a la situación de contingencia sanitaria se alcanzan los objetivos para la formación en bioética.

Palabras clave
Bioética; Programa; Metodología; Talleres; Estudios de caso

Abstract

Bioethics professors from health programs at O’Higgins University, Chile, structure their courses based on local needs. A qualitative study was conducted with undergraduates, first-years in 2018, to identify the bioethics teaching needs of the local community for program reformulation. Courses taught for three consecutive years underwent changes in the first semester of 2020 due to the sanitary crisis. This article analyzes whether participation, collective production and questioning were preserved as an achievement of in-person teaching purposes. Given the context and the results obtained, program and project underwent changes when translated into the virtual modality, since student needs were known. The teaching experiences presented allow us to conclude that the bioethics teaching objectives were met despite the sanitary emergency.

Keywords
Bioethics; Program; Methodology; Workshops; Case studies

No ensino da bioética é fundamental aproximar os alunos e as alunas de práticas de deliberação, análise e discussão casuística de problemáticas que extrapolam o âmbito do conhecimento técnico-científico da formação profissional. Hoje é preciso tomar contato com a responsabilidade e a análise dos temas contemporâneos de discussão sobre a justificativa e os limites da pesquisa científica, conhecer as regulamentações e convenções internacionais, desenvolver habilidades para articular e formular problemas morais e, por fim, compreender o trabalho profissional como uma contribuição para a construção social da realidade.

Nesse sentido, o grupo docente deve zelar para que os cursos ministrados procurem uma conexão natural com as disciplinas científicas que se desenvolvem nas grades curriculares e para que a gestão de conceitos humanísticos prepare os alunos e as alunas para compreender o ambiente social e jurídico oferecido pelo referencial sociocultural para sua prática profissional.

Para isso, no quadro de uma estrutura curricular, o programa dos cursos é concebido tendo sempre em mente os temas prioritários. Além disso, é levada em consideração a necessidade de transmitir aos alunos os elementos axiológicos que norteiam a escolha profissional e o embasamento ético, filosófico, histórico e cultural que permite a compreensão da bioética, da sua linguagem e dos seus princípios.

Destaca-se a prioridade de formar os alunos e as alunas não somente em conhecimentos teóricos e fundamentos éticos, mas em atitudes éticas permanentes que constituam modelos de comportamento. Entre conhecimentos e atitudes éticas, exige-se uma relação circular entre os e as participantes do curso, continuamente nutrida por aspectos de transparência nas avaliações, nas metodologias utilizadas, no trabalho de diretrizes e orientações na equipe docente e no cultivo de atitudes consistentes com as habilidades vitais, portanto, os professores devem ter conhecimentos de bioética e condutas pessoais consistentes.

A tarefa educativa da bioética consiste em tentar responder à diversidade de realidades, problemas e conflitos morais que surgem nas sociedades democráticas modernas, caracterizadas pelo pluralismo e pela globalização, tendo em conta os quatro pilares essenciais da educação (aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver), definidos pela Comissão Internacional de Educação para o século XXI (Unesco). Assim, o desafio da educação em bioética é priorizar e garantir os dois últimos pilares como tarefa essencial. Para isso, exige-se que os educadores em bioética tenham as competências necessárias para ensinar, transferindo o conhecimento adquirido em sua formação acadêmica e profissional.

Essa tarefa consistirá em acompanhar o processo dialógico (indagar e questionar), propor e exercitar em todos os momentos as bases para o diálogo democrático, estabelecer junto com os alunos os caminhos para identificar os valores (começando pela descoberta), proporcionar, por meio de métodos e fontes, as formas de pesquisar sobre o novo conhecimento, proporcionar conhecimentos teóricos em suas aulas e intervenções, promover o debate sobre a priorização de problemas, convidando-os a identificar possíveis vias de solução, perguntar sobre justificativas e alternativas e promover a argumentação para a defesa pública 11. Vidal SM. Nuevas y viejas preguntas en la educación en bioética. In: Vidal SM, editora. La educación en bioética en América Latina y el Caribe: experiencias realizadas y desafíos futuros [Internet]. Montevideo: Unesco; 2012 [acesso 15 maio 2021]. p. 15-35. Disponível: https://bit.ly/3RdMEj9
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Para cumprir esse desafio, é fundamental implementar uma metodologia que promova o desenvolvimento dessas habilidades e competências, sob o compromisso de formar uma cidadania integradora, autônoma e responsável na tomada de decisões.

Entre os conteúdos do ensino da bioética devem ser incluídos temas de saúde pública que reflitam sobre os problemas mais relevantes da comunidade 22. Estany Bécares A. Enseñanza de la bioética en las facultades de medicina: ¿qué se está haciendo mal? Aten Primaria [Internet]. 2020 [acesso 15 maio 2021];52(1):58. DOI: 10.1016/j.aprim.2019.05.006, como o sistema de atendimento de saúde, o meio ambiente, a responsabilidade cívica, elementos facilitadores da relação clínica, entre outros. Ao integrá-los no ensino clínico, ganham uma relevância particular a discussão de casos clínicos, a utilização de exemplos pelos docentes e a reflexão sobre diversos temas, como a autonomia das pessoas, seja em situação de deficiência ou não, a dor e o sofrimento, a precariedade e a vulnerabilidade do ser humano, as decisões no início e no fim da vida etc. Para poder captar isso, por exemplo, é necessário conhecer o conceito e o processo de consentimento informado, em que os alunos são obrigados a testemunhar sua rigorosa aplicação, e não somente conceitos teóricos a esse respeito.

O ensino deve incluir, de forma relevante, a discussão de casos reais. Esses casos não devem ser apenas casos paradigmáticos com grandes dilemas éticos, mas também, e frequentemente, casos quotidianos que os profissionais de saúde em formação deverão enfrentar em sua prática.

Sistematização: implementação do processo formativo

1ª etapa: levantamento de temas regionais prioritários

Para levantar essas informações, são convocados ao final do primeiro semestre os alunos ingressantes nos cursos da saúde de 2018 que têm cursos de bioética no programa. A consulta é realizada por meio da aplicação de uma entrevista com três perguntas abertas a 21 jovens que ingressam para cursar um dos três cursos da Escola de Saúde ministrados na Universidade de O’Higgins (UOH).

Os critérios de inclusão são: ser estudante regular dos cursos de medicina, enfermagem ou terapia ocupacional, cursando o primeiro ano ou encerrando o primeiro semestre, e que se desloquem para estudar de alguma localidade da região 33. López Aguilera F. Región de O'Higgins. Gobierno de Chile [Internet]. 2021 [acesso 15 maio 2021]. Disponível: https://www.gob.cl/regiones/region-de-ohiggins/
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A pesquisa é realizada com estudantes participantes voluntários/as (com consentimento informado estabelecido no momento do convite para participar do estudo). Os eixos de discussão apresentados na pesquisa são os seguintes:

  1. Necessidade de formar jovens cidadãos da região em saúde;

  2. Necessidades em saúde percebidas em sua localidade (considerando a perspectiva de gênero);

  3. Contribuições do modelo bioético situado.

As respostas entregues são analisadas para levantar os principais conceitos fornecidos. A revisão das opiniões produz as seguintes observações: Os alunos e as alunas participantes da pesquisa relatam que a formação na mesma localidade é uma possibilidade de estabelecer um vínculo mais humanizado entre o profissional de saúde e o paciente, proporcionando um atendimento equitativo, justo e acessível a todos os membros da comunidade, reconhecendo, em cada comunidade e região, suas necessidades e características do contexto.

Cabe destacar três eixos nos quais se movem as opiniões: os valores, como base fundamental em sua formação profissional, a gestão comunitária e o selo de compromisso social oferecido pela UOH em sua missão. Com relação aos valores, declaram-se liberdade de pensamento e de expressão; atitude reflexiva, dialógica e crítica no exercício das tarefas intelectuais, formação das pessoas em seu desenvolvimento espiritual e material, com sentido ético, cívico, respeitoso com o meio ambiente, os direitos humanos, a solidariedade e a responsabilidade social.

Diante disso, as aulas de bioética ministradas nos cursos de saúde têm como objetivo desenvolver as capacidades pessoais dos alunos para que compreendam os fatores de valor que determinam a situação das pessoas no mundo social. O intuito é que os estudantes apreciem o impacto do desenvolvimento do saber tecnocientífico nas relações dos seres humanos na ordem moral e ética e identifiquem os dilemas mais frequentes no âmbito da vida contemporânea que afetam a saúde e o bem-estar dos seres vivos.

Quanto à gestão comunitária, identificou-se, principalmente, a necessidade de uma comunidade autogerida, pois assim se evita o interesse de emigração de futuros profissionais de saúde para outras regiões do país. O desenvolvimento do processo de Planejamento Estratégico Participativo (PEP) do Serviço de Saúde O’Higgins baseia-se nos desafios apresentados pela gestão do sistema de saúde chileno. Tais desafios remontam, por um lado, à reforma de saúde e às regulamentações legais que instalaram a ideia de governança em saúde, mas não geraram estratégias concretas para sua abordagem, e, por outro lado, à abordagem da saúde pública presente na gestão, em que a perspectiva biomédica ainda prevalece sobre outras abordagens alternativas de saúde pública que colocam as coletividades no centro da questão 44. Gutiérrez Soto P, Torres Gilberto C. Planificación estratégica participativa en salud; Desde la investigación acción a la gobernanza colectiva. In: Paño Yáñez P, Rébola R, Suárez Elías M, editores. Procesos y metodologías participativas: reflexiones y experiencias para la transformación social [Internet]. Buenos Aires: Clacso; 2020 [acesso 15 maio 2021]. p. 346-67. DOI: 10.2307/j.ctvtxw3sz.21
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Os alunos e as alunas dos cursos de saúde se identificam com o selo social da universidade, uma vez que, durante o processo de sua formação acadêmica, devem realizar trabalhos sociais que lhes permitam vincular-se ao contexto cultural da região, reconhecendo as necessidades das diferentes localidades a que pertencem. O perfil institucional e seu selo de responsabilidade social são plenamente coerentes com a participação ativa nos níveis de formação 55. López DA, Troncoso Ahués E. Ámbitos estratégicos para el desarrollo de universidades: análisis de un caso. Dilemas Contemporáneos: Educación, Política y Valores [Internet]. 2021 [acesso 16 jun 2022];9:13. DOI: 10.46377/dilemas.v9i1.2838.

Com relação às diferenças de gênero no acesso à saúde, foi possível identificar algumas que podem ser atribuídas ao gênero feminino, afirmando, por exemplo, que os e as profissionais de saúde mais velhos têm um tratamento machista com as mulheres, expresso em linguagem informal e pouco profissional. Atitudes que também estão associadas à condição socioeconômica das mulheres que procuram assistência, isto é, pessoas que vivem em áreas rurais e com um baixo índice socioeconômico. Os avanços relativos às políticas públicas em matéria de igualdade de gênero não são suficientes 66. Hernández Arancibia VP. Equilibrio trabajo-familia, bienestar subjetivo y percepción de equidad de género, en funcionarios y funcionarias del Servicio de Salud Pública, de la Región del Libertador Bernardo O'Higgins [monografia] [Internet]. Talca: Universidad de Talca; 2019 [acesso 16 jun 2022]. Disponível: https://bit.ly/3uKelIZ
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, e é primordial continuar trabalhando a temática, principalmente entre as pessoas que estão se formando para atuar na saúde.

Por fim, destacam-se os temas-chave na formação em bioética, como a tomada de decisões, a relação interpessoal voltada para valores e a educação em bioética aberta à comunidade. Defende-se que o modelo bioético contribui para a tomada de decisões em toda a sua complexidade, com as quais se depararão em seu trabalho como profissionais, conferindo-lhes critérios éticos de discernimento.

No que diz respeito às relações interpessoais, as competências alcançadas em bioética contribuem para proporcionar bem-estar ao paciente e fortalecem o respeito ao próximo e o tratamento humanizado, baseado na não discriminação e na inclusão. A educação em bioética aberta à comunidade é uma necessidade para contribuir para a reflexão sobre questões emergentes e contingentes, empoderando as pessoas para a tomada de decisões de forma autônoma. Permitiria estabelecer critérios comuns para a aplicação de princípios éticos, a fim de conseguir conscientizar as pessoas sobre o autocuidado, sobre o cuidado da vida e do meio ambiente.

2ª etapa: concepção do programa do curso

De acordo com os dados coletados no trabalho realizado com os alunos e as alunas, a concepção do curso de ética e bioética para os três cursos é apresentada a seguir, conforme a formulação de curso baseada em competências. As competências são habilidades complexas que permitem aos alunos e às alunas pensar e agir em diferentes áreas. O curso de ética e bioética responde a duas áreas de competência, as humanas e a genérica. Dentre as competências humanísticas que contribuem para o perfil do egresso, inclui-se:

  • Atua em coerência com os valores e princípios éticos que fundamentam o exercício de sua profissão, para proteger a qualidade de vida e a saúde das pessoas, famílias e comunidades, considerando uma abordagem jurídica e bases epistemológicas.

Entre as competências genéricas declaradas, incluem-se:

  • Utiliza competências comunicacionais que facilitam a interação com pessoas, famílias, comunidades e equipes de trabalho, aumentando a eficácia de seu trabalho e evitando ou resolvendo conflitos;

  • Mantém uma atitude de permanente autoconhecimento, autocuidado, autocrítica e aprimoramento em sua tarefa profissional com o objetivo de melhorar seu desempenho e suas conquistas com relação à saúde das pessoas.

O objetivo formativo do curso é que os alunos e as alunas identifiquem, reflitam e resolvam, por meio do método deliberativo, dilemas éticos presentes no âmbito da vida contemporânea que impactam a saúde e o bem-estar dos seres vivos. Quanto ao impacto do desenvolvimento do saber científico-técnico nas relações do ser humano na ordem moral e ética, o intuito é que os estudantes desenvolvam capacidades pessoais para poder tomar decisões autônomas no mundo social e profissional no que diz respeito aos diferentes fatores de valor. Foram explicitados os seguintes resultados de aprendizagem:

  • Identifica dilemas éticos por meio do método deliberativo, com a finalidade de resolver problemas gerados no âmbito da saúde e do bem-estar do ser humano;

  • Aplica propostas éticas que norteiam a educação ética e a responsabilidade cívica dos cidadãos com o objetivo de identificar linhas de ação nos diversos casos clínicos;

  • Delibera e aplica elementos da ética da responsabilidade com o propósito de buscar possíveis linhas de ação diante dos dilemas gerados pelo desenvolvimento científico-técnico e seu impacto nas relações dos seres humanos, no contexto profissional e ambiental.

Os conteúdos, de acordo com a demanda levantada na pesquisa aplicada aos alunos no ano de 2018, foram organizados em duas unidades:

Unidade 1: Fundamentos éticos

  • Desenvolvimento vocacional e profissional;

  • Princípios éticos e morais no ser humano;

  • Dilemas éticos na formação universitária;

  • Atitudes éticas que favorecem o encontro interpessoal.

Unidade 2: Bioética

  • Ética cívica e bioética;

  • Ética do cuidado e bioética;

  • Bioética e meio ambiente;

  • Deliberação e bioética.

É preciso ressaltar neste trabalho que a grade curricular de cada curso retoma esses conteúdos para revisá-los à luz das funções e atribuições específicas de cada perfil profissional.

3ª etapa: seleção das metodologias docentes

As metodologias de ensino da bioética desenvolvem-se num contexto que permite ao aluno adquirir não somente conteúdos teóricos, mas também uma capacidade reflexiva e avaliativa das situações que ele terá de resolver no âmbito de sua profissão 77. Couceiro-Vidal A. Enseñanza de la bioética y planes de estudios basados en competencias. Educ Méd [Internet]. 2008 [acesso 16 junho 2022];11(2):69-76. Disponível: https://bit.ly/4845dx3
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. Essa complexa aprendizagem exige o desenvolvimento de atividades de inter-relacionamento pessoal nos programas de docência presencial realizados:

  • Oficinas reflexivas baseadas em dilemas

As práticas de oficina são desenvolvidas de diversas formas, que são adaptadas de acordo com o nível formativo para o qual o curso é ministrado. No primeiro ciclo da grade curricular, as oficinas reflexivas giram em torno de dilemas da ética cívica e da ética do estudante universitário. No ciclo de formação profissional são abordados dilemas das práticas docentes e da abordagem clínica aos usuários. Nessa segunda etapa, são confrontados os fundamentos éticos de cada disciplina da saúde.

Esse método de ensino de bioética busca desenvolver habilidades de análise crítica e propostas inovadoras para os conflitos. O objetivo explicitado no início das atividades é criar um ambiente de debate construtivo e de ampla participação, baseado no resgate de concepções e linguagens comuns.

A finalidade docente é instalar espaços para o desenvolvimento da autonomia e da autogestão, reconhecendo possibilidades de aprendizagem colaborativa e construtivista de valores cívicos e profissionais.

As competências em jogo nessas oficinas são a exploração e a indagação de soluções para as dificuldades ético-morais apresentadas, buscando relacionar as possibilidades cognitivas com a criatividade que vai sendo gerada por meio da deliberação dos membros do grupo de trabalho 88. Gaudlitz M. Encantar a los alumnos en la bioética: el método socrático. Rev Educ Cienc Salud [Internet]. 2008 [acesso 16 junho 2022];5(1):41-4. Disponível: https://bit.ly/4ablAtS
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  • Estudos de caso

Este instrumento pedagógico visa desenvolver competências que permitam aos profissionais analisar e tomar decisões específicas em situações que habitualmente extrapolam os protocolos técnicos habituais, para a resolução de problemas clínicos.

Os estudos de caso como aprendizagem baseada em fatos têm maior desenvolvimento e são mais utilizados nas profissões de saúde nas diferentes ciências e técnicas ministradas na formação em saúde, na qual se inclui a bioética, e são aplicáveis a todas as profissões que integram a equipe de atendimento 99. Llacsa Soto L. Enseñanza de la bioética en la educación universitaria. Apuntes de Bioética [Internet]; 2019 [acesso 6 abr 2020];2(1):61-8. DOI: 10.35383/apuntes.v2i1.242
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Os participantes de um estudo de caso em bioética realizarão debates e explicações sobre situações o mais próximas possível da realidade laboral. O interesse pela formação em saúde e, especialmente, em bioética clínica, por meio da metodologia implementada no curso, responde à necessidade de fornecer orientações prudentes aos casos que surgem na prática clínica, os quais não se sabe como resolver, ou diante de possíveis dúvidas sobre as decisões tomadas. Esses casos se caracterizam por apresentar dilemas de valores morais ou éticos das pessoas envolvidas (profissionais, usuários, família e comunidade).

A análise de caso, mediante o método deliberativo, deve considerar os fatos, os valores envolvidos, os princípios bioéticos, os aspectos jurídicos das profissões e os direitos das pessoas, para considerar um possível curso de ação, orientado à tomada de decisões prudentes.

A categorização axiológica dos possíveis cursos de ação, que podem ou não ser decididos diante de um dilema, segue o consenso de vários autores. As ações obrigatórias são aquelas que correspondem à bioética mínima, que constituem deveres; as ações permitidas representam a bioética máxima, que podem ser realizadas caso haja um consenso que favoreça o bem-estar subjetivo das pessoas envolvidas; e as ações proibidas são aquelas que vão contra princípios éticos ou legais 1010. Júdez J, Gracia D. La deliberación moral: el método de la ética clínica. Med Clín [Internet]; 2001 [acesso 6 abr 2020];117(1):18-23. DOI: 10.1016/S0025-7753(01)71998-7
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11. Figueroa G. Responsabilidad profesional: máximos, mínimos, excelencia y veracidad. Rev Méd Chile [Internet]. 2006 [acesso 6 abr 2020];134(2):251-57. DOI: 10.4067/S0034-98872006000200017
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-1212. Losada Sierra M, Barrios Tao H. Pasividad ética entre eficiencia máxima y mínima. Rev Latinoam Bioét [Internet]. 2016 [acesso 6 abr 2020];16(31-2):70-81. DOI: 10.18359/rlbi.1674.

  • Dramatizações

A dramatização de um conflito é uma estratégia de aprendizagem integrativa, por isso é deixada para o final do curso ou unidade, por transmitir mensagens de forma colaborativa, com sentido educativo 1313. Bosch-Barrera J, Briseño García HC, Capellà D, Castro Vila C, Farrés R, Quintanas A et al. Enseñar bioética a estudiantes de medicina mediante el aprendizaje basado en problemas (ABP). Cuad Bioét [Internet]. 2015 [acesso 6 abr 2020];26(2):303-9. Disponível: https://bit.ly/3uOfZcG
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A apresentação em grupo representa a “encenação grupal” de uma situação, em que os alunos colocam em prática não somente sua competência comunicativa, entendida como a transmissão verbal, mas também a coordenação entre os diferentes membros do grupo, tais como a expressão corporal, o posicionamento das funções específicas e o referencial teórico, incorporando todos os conteúdos do curso de forma complementar.

As dramatizações, as representações ou performances de um dilema bioético também são conhecidas como simulações, nas quais os alunos e as alunas interpretam e adotam posições e papéis para interpretar situações o mais próximas possível da realidade. Dessa forma, favorece-se um conjunto de competências necessárias e adequadas ao seu desenvolvimento profissional 1414. Morales Ortega JM. Dramatización del conocimiento: simulaciones en el contexto de los estudios jurídico-laborales de grado y de posgrado. REJIE Nueva Época [Internet]. 2018 [acesso 6 abr 2020];(17):81-98. DOI: 10.24310/REJIE.2018.v0i17.4161
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4ª etapa: a adaptação para a formação em tempos de pandemia

Dada a situação crítica da pandemia de covid-19 no início do ano acadêmico de 2020, a Reitoria e a Vice-Reitoria para os Assuntos Acadêmicos da Casa de Estudos decidem substituir temporariamente as atividades docentes presenciais por uma modalidade remota on-line. A forma de ministrar as aulas seria em modo virtual para preservar a saúde e o bem-estar dos membros da comunidade acadêmica e contribuir para reduzir o avanço dos contágios na região.

Solicita-se aos professores e às professoras responsáveis e especialistas de cada curso que analisem a flexibilidade dos horários de aulas, tanto assíncronas como síncronas, a adaptação das metodologias por desenvolver e as avaliações. Isso implicou uma reprogramação do ano acadêmico, de forma a facilitar os tempos de resposta às condições excecionais e difíceis em que se desenvolvem as atividades formativas 1515. Arora AK, Srinivasan R. Impact of pandemic COVID-19 on the teaching-learning process: a study of higher education teachers. Prabandhan: Indian Journal of Management [Internet]. 2020 [acesso 6 abr 2020]:13(4):43-56. DOI: 10.17010/pijom/2020/v13i4/151825
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Nesse mesmo âmbito, os conteúdos utilizam diversas metodologias acordadas entre professores e alunos para o desenvolvimento do curso na plataforma virtual de ensino www.campus.uoh.cl. As aulas devem ser gravadas e carregadas na plataforma web da universidade em um prazo de 48 horas, para que quem não puder participar da atividade de forma síncrona possa esclarecer suas dúvidas e revisar o material posteriormente.

A literatura referente à docência virtual afirma que é possível desenvolver diversas atividades colaborativas, tais como pesquisas, projetos, resolução de casos e discussões em grupo, entre outras, de forma remota. A sala de aula virtual é o principal espaço de ensino e aprendizagem. Esse ambiente estimula no estudante a autoaprendizagem, o desenvolvimento do pensamento crítico e do trabalho cooperativo em equipe 1616. Naranjo Muñoz ML, González Cárdenas CE. Experiencia de la enseñanza de la bioética en el modelo de educación a distancia. Memorias [Internet]. 2018 [acesso 6 abr 2020];(1):547-58. Disponível: https://bit.ly/47MXcgg
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,1717. Redinger JW, Cornia PB, Albert TJ. Teaching during a pandemic. J Grad Med Educ [Internet]. 2020 [acesso 6 abr 2020];12(4):403-5. DOI: 10.4300/JGME-D-20-00241.1
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A figura do professor também sofre uma mudança nesse modelo, pois seu papel passa a ser mais o de tutor ou orientador com as seguintes responsabilidades:

  • Organizar o curso;

  • Fornecer informações como especialista;

  • Motivar o aluno com as ferramentas disponíveis na internet, tirando dúvidas, orientando e promovendo trabalhos em grupo 1818. Rodríguez Yunta E, Valdebenito Herrera C, Lolas Stepke F. Enseñanza virtual de la bioética: desafíos. Act Bioeth [Internet]. 2008 [acesso 6 abr 2020];14(1):47-53. DOI: 10.4067/S1726-569X2008000100006.

Nesse novo contexto, as atividades práticas são adaptadas, fazendo-se as seguintes alterações.

Cada professor especialista em alguma das temáticas contidas nos cursos pesquisa canais disponíveis na internet (por exemplo, YouTube) com vídeos públicos de curta duração (7 a 10 minutos) relacionados aos temas e que oferecem a possibilidade de analisar e debater dilemas bioéticos.

Da mesma forma, são verificadas notícias e algumas crônicas da imprensa oficial, que refletem situações de tomada de decisões bioéticas na situação de pandemia, para desenvolver uma análise situacional em grupo e deliberar sobre possíveis soluções para as dificuldades. Alguns tópicos selecionados são os seguintes:

Pacientes com deficiência e crise devido à covid-19: as necessidades e os medos das famílias 1919. Toro D, Ramírez N. Pacientes con discapacidad y crisis por covid-19: Las necesidades y temores de las familias. Emol [Internet]. 12 jun 2020 [acesso 16 maio 2020]. Disponível: https://bit.ly/3NcgzaA
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Profissionais de saúde denunciam discriminação devido à covid-19 quando se lhes solicita que não utilizem elevadores e espaços comuns 2020. Salgado D, Ruiz-Tagle D. Personal de salud acusa discriminación por Covid-19: les piden no usar ascensores y espacios comunes. Biobiochile.cl [Internet]. 6 abr 2020 [acesso 6 abr 2020]. Disponível: https://bit.ly/484tq6G
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Policiais militares prenderam homem que tentou fugir do controle sanitário com salvo-conduto falsificado 2121. Carabineros detuvo a hombre que intentó evadir control sanitario con salvoconducto falsificado. CNN Chile [Internet]. 16 maio 2020 [acesso 11 jun 2020]. Disponível: https://bit.ly/3Gvxh0P
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O luto em tempos de pandemia 2222. Misito V. El duelo en tiempos de pandemia. La Tercera [Internet]. 16 jun 2020 [acesso 16 jun 2020]. Disponível: https://bit.ly/488r4no
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Os e as integrantes do curso formam grupos e escolhem um representante para realizar as oficinas de discussão. Cada professor apresenta um tema em aproximadamente 40 minutos, gravando a sessão na plataforma Zoom. Terminada a apresentação, os alunos expressam sua opinião (por áudio ou mensagem), trocam opiniões, pontos de vista e interpretações sobre o tema e, a seguir, passam para as oficinas de reflexão em grupos menores. O trabalho em grupo é registrado em um relatório escrito que cada representante do grupo deixa na plataforma com prazo limite até a próxima sessão, considerado como trabalho autônomo do aluno.

São estabelecidos momentos de avaliação síncronos e assíncronos 2323. Moorhouse BL, Wong KM. Blending asynchronous and synchronous digital technologies and instructional approaches to facilitate remote learning. J Comput Educ [Internet]. 2021;9(1):51-70. DOI: 10.1007/s40692-021-00195-8
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, que são definidos para cada unidade ou temas abordados nos processos, e as respetivas datas de avaliação são informadas no início do programa em coordenação com o curso. Além disso, os critérios de avaliação e os instrumentos de acompanhamento são disponibilizados na mesma plataforma institucional.

Os instrumentos são desenvolvidos e negociados pela equipe docente (autoras); e é compartilhado um guia para análise de situação com método de decisão deliberativa, que é entregue aos participantes do curso, e o instrumento para avaliar o trabalho desenvolvido pelo grupo em sua oficina assíncrona.

Guia para análise bioética de caso/situação

Decisão

Com base na notícia de imprensa escolhida entre as disponíveis na plataforma; desenvolva uma análise crítica seguindo um método deliberativo apresentado em sessão síncrona. Trabalhe argumentos de acordo com a bibliografia do programa para orientar a tomada de decisão que leva à resolução do conflito.

Sugere-se usar o seguinte esquema (Quadros 1 e 2):

Quadro 1
Guia para aplicar método deliberativo

Quadro 2
Avaliação da aplicação do método deliberativo

Discussão

O uso de recursos interativos de comunicação virtual e a aproximação dos discentes às temáticas da bioética, como possível espaço formativo fora do contexto presencial, renovam a dinâmica pedagógica, oferecendo um cenário inovador que redesenha a personalização, à medida que os alunos e as alunas têm a possibilidade de acessar a plataforma em local e horário de sua preferência conforme sua disponibilidade. Dessa forma, os ambientes virtuais de aprendizagem podem ser potentes para reconstruir as dimensões do ensino, abrindo a perspectiva de outra sala de aula, realocada no espaço virtual e com características próprias 2424. Warmling, Cristine Maria, Pires, Fabiana Schneider, Baldisserotto, Julio, & Levesque, Martiné. La enseñanza de la bioética: evaluación de un objeto virtual de aprendizaje. Rev. bioét. (Impr.) [Internet]. 2016 [acesso 7 dez 2023];24(3):503-14. DOI: 10.1590/1983-80422016243150. A partir dessa experiência, surge a possibilidade de formar professores voltados para a realidade de cada aluno.

O ensino em meios virtuais tem sido considerado uma atividade atrativa e potencialmente imersa, nas expectativas dos participantes; a plataforma digital universitária fomenta o aprendizado autodirigido individual e em grupo. Isso se reflete na avaliação positiva que os alunos fazem da modalidade virtual. Durante o desenvolvimento do semestre foram aplicadas duas pesquisas, a primeira para a avaliação intermediária e a segunda ao concluir o período, e entre os comentários positivos destacam-se:

“Agradecem-se os espaços de conversa e escuta disponibilizados pelas professoras, que sempre demonstraram interesse em saber o que seus alunos estavam passando, o que gera maior proximidade e confiança”;

“A virtualidade é complicada e agradeço o esforço de cada turma em busca de participação”;

“[Um] curso que permite ver perspectivas sobre como melhor enfrentar e refletir [sobre] certos casos polêmicos”;

“O formato era agradável”;

“Ao longo do curso foram apresentadas diversas situações muito propícias para reflexionar e esclarecer a partir de diversas abordagens, tanto legais como éticas, influenciando assim grande parte da formação como futuro profissional da área da saúde. Apreciam-se as conversas, reflexões e instâncias de análise de diversas situações que foram bem realizadas durante as aulas”;

“As aulas síncronas funcionaram bastante bem e não foram tão extensas”;

“Muito didático, o que o torna agradável, prazeroso e enriquecedor”;

“É compreensível a dificuldade de conseguir uma colaboração ampla do corpo discente dada a modalidade do semestre, mas foi algo que se conseguiu à medida que transcorreram as aulas”;

“Considero que os discursos e situações levantadas no curso, não só pelas professoras, mas também pelos alunos e pelas alunas, são uma grande contribuição para a construção de uma perspectiva humanitária para o trabalho que vamos realizar num futuro próximo e para melhorar o próprio ambiente da nossa carreira”;

“Sinto que os aspectos e conhecimentos adquiridos serão significativamente úteis para o futuro profissional e pessoal”;

“Incentiva o trabalho em equipe”;

“É um curso que permite o desenvolvimento de atividades deliberativas e reflexivas, o que é muito benéfico para o nosso futuro desenvolvimento profissional e, portanto, desenvolve competências que nos permitem realizar melhor as atividades, sem dúvida será um curso cuja utilidade e aplicação serão cotidianas em meu futuro.”

A formação em bioética clínica, especialmente desenvolvida na análise de casos e situações que surgem na prática profissional, cumpre o propósito docente de possibilitar um processo reflexivo e deliberativo sobre ações e decisões éticas.

Os hábitos de aprendizagem autodirigida fomentam a busca de alternativas, a gestão do tempo e a capacidade projetiva, competências que contribuem para a melhoria contínua da qualidade da atenção em saúde, além de oferecer uma abordagem para enfrentar os desafios do mundo real.

A adaptação das metodologias de ensino habituais da formação em bioética da realidade presencial para a realidade virtual evidencia as diversas formas de comunicabilidade que emergem diante das circunstâncias; disso emerge o grande potencial da comunicação humana, e dela a dimensão ética da necessidade de compartilhar opiniões, debater e buscar consensos. Essas competências se desenvolvem assim que é possível estabelecer uma ação comunicativa.

A comunicação baseia-se na experiência que temos do outro; mas não de uma experiência contemplativa passiva, mas daquela que surge da revisão e da compreensão desse outro. Portanto, podemos dizer que surge uma construção na medida em que o outro é coatuante ou reage ao agente comunicante.

A ação comunicativa constitui uma estrutura da ação de comunicação de um sujeito com o outro 2525. Giannini H, Fuentes JJ, Hamamé E, Álvarez I, Gardella N. Experiencia moral y acción comunicativa. Revista de Filosofía [Internet]. 2008 [acesso 7 dez 2023];64:5-15. DOI: 10.4067/S0718-43602008000100001
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. Trata-se de um modo recíproco de ser da proximidade do próximo; que, embora seja mediado pela tecnologia, nos abre para a reflexão mais profunda do processo deliberativo. O vínculo com o outro, validado para a interlocução, constitui o ponto originário da ação comunicativa e, ao mesmo tempo, de toda moral (ética) possível, no nível da convivência humana 2626. Giannini H, Hamamé E, Fuentes JJ. Notas acerca de la moralidad de la acción. Revista de Filosofía [Internet]. 2011 [acesso 7 dez 2023];67:167-82. DOI: 10.4067/S0718-43602011000100011.

Reunindo essa dimensão na experiência docente-formativa, avaliaremos seu desenvolvimento para além do limitado processo educativo. Essa ação comunicativa tem múltiplas aplicações práticas para a vida humana entregar informações pertinentes, aceitar instruções, opinar, perguntar, questionar etc. , mas parte de duas instâncias básicas, que são o encontro adequado com o outro e o desdobramento de atitudes propícias para um vínculo bem-sucedido.

Agora, esse encontro humano constitui a experiência de pessoas próximas espacial e temporalmente (embora por vezes mediadas pela tecnologia) que expõem suas iniciativas, suas preferências e seus interesses. Essa experiência implica contínuas divergências e convergências quanto a interesses que podem resultar em conflito, mas que, se forem tratadas com certa abertura para nos colocarmos na compreensão do outro, permitem alcançar uma convivência de qualidade baseada no reconhecimento e no afiançamento de valores comuns. Assim, abordamos o que H. Giannini chamou a ética da proximidade 2727. Giannini H. Hacia una ética originaria [resenha]. Revista de Filosofía [Internet]. 2000 [acesso 7 dez 2023];55:199-202. Disponível: https://bit.ly/47OQlTQ
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como fundamento para afirmar o valor de cada pessoa sem distinção e para qualquer ação desenvolvida na cotidianidade.

Considerações finais

Em síntese, a educação em bioética clínica, nos cursos universitários de saúde, é uma ferra- menta fundamental para a formação dos futuros e das futuras profissionais, uma vez que:

  • Contribui para a construção do juízo moral autônomo, por meio da problematização e análise de casos, promovendo competências, tais como o diálogo, a reflexão, a argumentação, a deliberação etc.;

  • Orienta os processos de tomada de decisão, necessários para a compreensão e o discernimento sobre os avanços da ciência e da tecnologia, dos problemas morais, sociais, políticos e econômicos das sociedades atuais e em todas aquelas situações que possam entrar em conflito com o valor fundamental da vida das pessoas;

  • Mediante a aplicação do método deliberativo, realiza-se uma análise dos fatos e valores envolvidos em determinado caso, identificam-se os problemas que surgem e os respectivos valores éticos a eles relacionados, propõem-se linhas de ação para a busca de uma solução prudente, portanto, a práxis desse método é considerada típica do ethos da profissão, cuja finalidade é contribuir para a tomada de decisões no trabalho cotidiano do profissional de saúde;

  • O uso dessas metodologias como estratégias de ensino e aprendizagem no contexto atual significou uma mudança de paradigma no desafio da aprendizagem virtual, além de ajustes metodológicos e curriculares, que têm sido aproveitados para fortalecer competências sociais, adaptar-se ao domínio das tecnologias, proporcionar um espaço de encontro, debate, diálogo, que poderiam ser incorporados nas nossas práticas docentes e estimular uma mudança proativa, que incentive o foco nas atitudes e experiências dos nossos alunos;

  • Fica evidente que, mesmo com os ajustes contingentes nas metodologias de ensino, a formação em bioética consegue habilitar competências humanísticas genéricas para os profissionais de saúde.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Abr 2024
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    14 Abr 2023
  • Revisado
    06 Jul 2023
  • Aceito
    13 Out 2023
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