Editorial

O volume 11, número 1, de março de 2013, do Cadernos EBAPE.BR marca mais uma transição editorial do periódico. Nesse sentido, agradeço à Diretoria da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (EBAPE/FGV) pela confiança para coordenar este periódico da instituição, idealizado pelo saudoso professor Marcelo Milano Falcão Vieira (in memoriam). O desafio de dar continuidade ao brilhantismo das gestões anteriores e de manter a qualidade do periódico não é pequeno, e, para isso, espero poder contar com a contribuição do corpo editorial, dos avaliadores ad hoc, da equipe editorial e da comunidade acadêmica da área como um todo, por meio da submissão de artigos. Reafirmo, assim, o compromisso de manter a linha editorial baseada em perspectivas interdisciplinares e críticas. Visando a conferir maior agilidade ao processo de decisão editorial, comunico a ampliação do número de editores associados, com a inclusão dos seguintes professores: Airton Cardoso Cançado (UFT), José Roberto Pereira (UFLA), Pablo Aurélio Monje-Reyes (Universidade do Chile) e Rosimeri de Fátima Carvalho da Silva (UFRGS). Agradeço à assistente editorial Fabiana Braga Leal e ao auxiliar editorial Anderson Ricci pelo apoio no processo de familiarização com os procedimentos operacionais, além de Anderson Felisberto Dias, desk reviewer do periódico. Estendo, ainda, agradecimentos aos editores e avaliadores ad hoc que contribuíram com a seleção dos artigos publicados neste número.

O artigo Usos e significados do conhecimento histórico em estudos organizacionais: uma (re)leitura do taylorismo sob a perspectiva do poder disciplinar, de autoria de Eloisio Moulin de Souza e Alessandra Mello da Costa, problematiza - por meio da ampliação dos usos e significados do conhecimento histórico proposta pela perspectiva da nova história e pela genealogia de Michel Foucault - abordagens de estudos organizacionais mais convencionais que assumem como objeto de pesquisa os grandes feitos de grandes homens da história da Administração, mais especificamente Taylor.

O taylorismo também é tema do artigo O ideário taylorista, a gestão da subjetividade e o poder pastoral, de Bruno Eduardo Procopiuk Walter, Carolina Andrea Gómez Winkler e João Marcelo Crubellate. Os autores analisam o ideário taylorista concernente à relação entre operários e gestores a partir da categoria do poder pastoral, proposta por Michel Foucault. Concluem que, no âmbito do taylorismo, o poder pastoral se manifesta, mas não com um sentido parhesiastico, revelando um processo de configuração de verdades a respeito do sujeito operário, ou trabalhador, que o coloca em condição de objeto da gestão nas relações estabelecidas entre a gestão e o operário.

Yvon Pesqueux e Isabella Francisca Freitas Gouveia de Vasconcelos, em Teoria da Ação Comunicativa e responsabilidade social empresarial: uma proposta de pesquisa, tratam da Teoria da Ação Comunicativa e propõem uma agenda de pesquisa sobre a adoção de fóruns de debate de inspiração habermasiana nas organizações, visando à fixação de agendas de desenvolvimento sustentável para empresas, organizações e diversos setores da economia.

Em Participação social como elemento de análise da sustentabilidade: estudo do Programa Brasileiro de DST/AIDS, Maria Matilde Zraik Baracat e Farley Simon Nobre apresentam um estudo sobre a participação social na construção das políticas públicas de controle do HIV/AIDS no Brasil e buscam caracterizar a participação social enquanto medida de análise qualitativa da sustentabilidade social. Os autores concluem que a participação social se insere na perspectiva do desenvolvimento sustentável, uma vez que é a partir desse mecanismo que a sociedade civil, especialmente grupos menos favorecidos, consegue obter representatividade junto ao Poder Público e contribuir efetivamente para a construção da democracia.

Claudio Lopes Pereira, Lidia Micaela Segre e Rejane Prevot Nascimento, no artigo A ampliação das estruturas de controle por meio das tecnologias de informação e comunicação: a onipresença do "panóptico eletrônico" no setor bancário analisam as novas configurações de controle no processo de reestruturação e modernização produtiva dos bancos privados. Os autores descrevem os aspectos do controle do trabalho através da intensificação do uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) e analisam a percepção dos trabalhadores sobre esse controle. Concluem que o controle coercitivo e punitivo deu lugar a um tipo de controle mais sutil, que inclui mecanismos de adesão ativa e cooperante desses profissionais.

No artigo Os significados da virtualização do trabalho: manifestações discursivas das percepções tecnológicas, processuais e pessoais nas relações intraorganizacionais, Daniel Jardim Pardini, Carlos Alberto Gonçalves, Ângela Maria Martins Paiva e Alexandre Teixeira Dias analisam, a partir dos discursos dos atores que exercem o trabalho virtual, percepções acerca da tecnologia, dos processos e comportamentos manifestados no uso da virtualização. Os autores ressaltam que os resultados reforçam as contribuições teóricas sobre a dificuldade, por parte dos envolvidos, para aceitar a total desvinculação presencial do trabalho em função da necessidade da sociabilidade.

Em Identidades naufragadas: o impacto das organizações na (re)construção do universo simbólico dos ribeirinhos de Salto Santiago, Adriana Vinholi Rampazo e Elisa Yoshie Ichikawa analisam o papel de diferentes organizações na (re)construção da identidade dos ribeirinhos deslocados compulsoriamente de seus territórios para a construção da Usina Hidrelétrica Salto Santiago, localizada na região centro-sul do Paraná, na década de 1970. Através do caso estudado, concluem que as diferentes organizações que rodeiam os indivíduos influenciam de formas diversas os múltiplos agentes que compõem a sociedade atual. Elas têm discursos e ideologias complexas, às vezes não tão explícitas, e jogam no campo a partir de diferentes estratégias de atuação.

Shalimar Gallon, Angela Beatriz Busato Scheffer e Betina Magalhães Bitencourt analisam, no artigo "Eu fui, voltei e ninguém viu": um estudo sobre a expectativa de carreira após a repatriação em uma empresa brasileira, a relação percebida entre repatriação e expectativas de carreira profissional por parte dos profissionais que tiveram ou estão tendo uma experiência profissional internacional em uma organização de grande porte com presença em mais de 100 países. Os autores constatam que os repatriados passam a dar mais valor ao seu desenvolvimento profissional, estabelecendo um maior vínculo consigo mesmos do que com a organização em que trabalham.

No artigo A música que encanta, o discurso que aprisiona: a distorção comunicativa em uma loja de departamentos, Fabio Vizeu e Édna Regina Cicmanec analisam a comunicação sistematicamente distorcida da gestão de uma loja de departamentos. A atenção recai sobre as práticas de comunicação que visam à motivação e ao controle dos trabalhadores. Os resultados revelam o uso dissimulado da linguagem, com conteúdos que sinalizam a competitividade e agressividade.

Alexandre de Pádua Carrieri, Ana Rosa Camillo Aguiar e Ana Paula Rodrigues Diniz, em Reflexões sobre o indivíduo desejante e o sofrimento no trabalho: o assédio moral, a violência simbólica e o movimento homossexual, analisam a violência simbólica sofrida pelo trabalhador homossexual, buscando delimitar o contexto social e de produção de subjetividade no qual ocorre tal violência. Refletem acerca da possibilidade de ir além do conceito de assédio moral, aprofundando o conceito de violência simbólica e introduzindo a violência no espaço social e de produção de subjetividade contemporâneos.

Na seção opinião, retomamos a discussão sobre Os desafios da produção de conhecimento em Administração no Brasil. Carlos Osmar Bertero, Rafael Alcadipani, Sandro Cabral, Alexandre Faria e Luciano Rossoni reproduzem a discussão realizada no EnANPAD 2012, durante um painel em que o tema foi abordado e onde tais desafios foram debatidos.

Desejo a todos uma ótima leitura!

Fernando G. Tenório

Editor

Datas de Publicação