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Os partidos e a opinião pública

Os partidos e a opinião pública

Hamilton Cardoso

Jornalista

Além do prestígio global dos partidos, o IBOPE, o Instituto Gallup e a Folha de S. Paulo investigaram também, ainda que por ângulos diferentes, o perfil do eleitorado e dos partidos. Ou seja: buscaram saber qual o peso das diferenças de faixas etárias, assim como o sexo, as regiões e cidades em que os partidos têm mais influências e como são percebidos pelos entrevistados. É disto que passaremos a tratar: do perfil dos partidos.

A primeira conclusão que aparece é que a juventude brasileira prefere, principalmente, o PMDB (47%) e o PT (12%), enquanto a população mais idosa tende a simpatizar-se com o PDS e o PTB. O PDT, segundo as pesquisas do Instituto Gallup, de agosto de 84, tem simpatizantes espalhados por todas as idades, em proporções mais ou menos iguais.

A faixa etária com mais eleitores do PDS, segundo o Gallup, vai dos 30 aos 49 anos (25%), mas também atinge os que têm mais de 50 (23%), faixa onde o PTB encontra a maioria (6%) dos seus simpatizantes.

Um dado revelado nas últimas eleições è praticamente confirmado pelas pesquisas do IBOPE e do Gallup; o prestígio do PMDB, apesar de estender-se por todo o país, concentra-se nas regiões Centro-Oeste (56%) e Sul (45%). É maior nas cidades médias com mais de 500 mil habitantes e nas capitais, diminuindo nas cidades pequenas, onde, a exemplo dos nordestinos, o eleitorado preferiu prestigiar o PDS. 36% do eleitorado deste partido encontra-se nas cidades com menos de 10 mil habitantes e 36% nas que têm até 5 mil habitantes. Esta porcentagem (36%) se repete no Nordeste.

O PT, por sua vez, é um partido essencialmente urbano, e seu prestígio concentra-se nas capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes da região Sudeste (13%) e Sul (6%). O mesmo ocorre com o PDT e o PTB. O primeiro, até agosto de 84, data da divulgação daquela pesquisa do Gallup, praticamente inexistia, nas cidades com até cinco mil habitantes, e concentrava suas preferências nas capitais e cidades com mais de 500 mil habitantes (5%) e na região Sul (6%) e Sudeste (5%). O segundo, apesar de aparecer nas cidades com menos de 5 mil habitantes (1%), concentrava-se nas capitais (5%) e nas mesmas regiões Sul e Sudeste (4 e 5%, respectivamente).

Há uma grande coincidência entre as pesquisas do Gallup, IBOPE e Folha de S. Paulo, indicando uma grande concentração proporcional de simpatizantes do PT nas classes ricas e médias A (13%), B (9%), C (11%) e E (3%), enquanto as simpatias para o PMDB abrangem, de forma regular, todas as classes, concentrando-se nas classes B (43%), C (43%) e D (44%). O PDS, na metade final do ano passado, tinha menor penetração nas classes A e B (respectivamente 19 e 21%), com maior repercussão nas classes D e E, com 24% de prestígio da opinião pública em cada uma. O PDT recebia maiores preferências na classe C (5%), mas mantinha um prestígio regular de 4% nas classes A e B, decrescendo na classe C (3%). O PTB invertia esse quadro, apresentando um prestígio regular de 4% nas classes mais pobres, C, D e E, decrescendo nas mais ricas, B (3%) e A (2%).

Do ponto de vista do sexo, a maior concentração de preferências pelo PDS, segundo a Folha de S. Paulo e o IBOPE (em outubro e dezembro, respectivamente), encontra-se entre as mulheres (20,6% FSP e 14,9% IBOPE). O PMDB e o PTB são partidos preferidos mais pelos homens que pelas mulheres. O primeiro com um índice de 44% no IBOPE e 48,1 % na Folha de S. Paulo, e o segundo apresentando 4,4% no IBOPE e 4,3% na Folha de S. Paulo.

As simpatias entre homens e mulheres? equilibram-se no PT. Os dados do IBOPE e da Folha de S. Paulo se contradizem, com porcentagens irrisórias indicando maior peso masculino de um lado e feminino do outro. Já o PDT apresenta uma maioria feminina entre os seus simpatizantes (9,8%, segundo o IBOPE).

O perfil ideológico destes partidos e do próprio eleitorado, investigados apenas pelo IBOPE, apresentou uma tendência conservadora e de apoio às posições de direita na sociedade. O PDS apareceu como um partido de extrema-direita, tendo como oposto o PT, classificado como extrema-esquerda. Ao centro, como uma grande frente onde cabem todas as ideologias, mas com uma leve tendência para a centro-direita, aparece o PMDB, enquanto o PDT surge como um partido de centro com fortes inclinações para o centro-esquerda. O PTB, por sua vez, apresenta três fases principais: uma de centro, outra de esquerda e um número elevado de entrevistados que se negam ou sentem incapazes de definir o seu perfil ideológico. Esta porcentagem de indefinidos foi alta, no caso do PTB, apesar de se repetir em proporções menores nos casos do PMDB e do PDT, ao contrário do PT e PDS, onde o número de entrevistados que tentaram estabelecer suas identidades ideológicas foi proporcionalmente maior.

Quanto aos próprios entrevistados, seu perfil ideológico mostrou-se ao centro, com inclinações para a direita. Num quadro de sete alternativas, aplicado igualmente para traçar o perfil ideológico dos partidos e dos entrevistados, a maioria, 27,3%,declarou-se de centro, 6,3% alinharam-se à esquerda e 7,2% identificaram-se com a direita. Outros 22,3% definiram-se como sendo de extrema-direita e, pouco mais da metade desta porcentagem, 13,2%, identificou-se com a extrema-esquerda. 7% dos entrevistados definiram-se como de centro-esquerda, e igual número como de centro-direita. Apenas 8% mostraram-se incapazes ou negaram-se a definir ou declarar a sua opção ideológica.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Fev 2011
  • Data do Fascículo
    Jun 1985
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