Acessibilidade / Reportar erro

"Tricotando as redes de solidariedade": as culturas organizacionais de uma loja autogestionada de economia popular solidária de Porto Alegre

Resumos

O presente artigo tem por objetivo descrever e analisar uma experiência de Economia Popular Solidária, levada a efeito pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, sob a ótica da cultura organizacional. A determinação, por parte do poder público local, de um sistema e um processo autogestionários em uma loja que comercializa produtos oriundos de diferentes grupos de artesãos não vem se concretizando de acordo com as expectativas. Para identificar os aspectos que vêm obstacularizando ou auxiliando na implementação da autogestão, utilizamo-nos do método etnográfico e das técnicas de observação participante e entrevistas para desnudar a cultura organizacional. Os resultados apontam para uma fragmentação cultural, com três blocos de artesãs que atuam na mesma loja, compartilhando visões diferenciadas sobre o que seja Economia Popular Solidária: o bloco dos voluntários, o bloco da socialização e o bloco dos beneficiados. A não observância, por parte do setor público, dessa heterogeneidade cultural, acrescida do desconhecimento daquilo que vem a ser o projeto autogestionário da Prefeitura, tem impedido uma ação mais engajada dos envolvidos.


This article intends to describe and analyze a Solidary Popular Economy experience carried out by the Porto Alegre City Hall from the organizational culture perspective. The local authorities' determination to establish a self-run system and process in a shop that sells products from various groups of artisans has not been meeting expectations. Resources used to identify the aspects that either hinder or help the self-management implementation included the ethnographic method and the participative observation techniques, as well as interviews to expose the organizational culture. Results indicate a cultural fragmentation, with three groups of artisans in the same shop sharing different views on what Solidary Popular Economy is: the voluntaries group, the socialization group and the beneficiaries group. The non-observance of that cultural heterogeneity on the part of authorities, and furthermore the poor dissemination that leads to disinformation about the City Hall's project have prevented a more engaged action by those involved.


ARTIGO

"Tricotando as redes de solidariedade": as culturas organizacionais de uma loja autogestionada de economia popular solidária de Porto Alegre

Neusa Rolita CavedonI, Deise Luiza S. FerrazII

IProfª PPGA/EA/UFRGS

IIDoutoranda PPGA/EA/UFRGS

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo descrever e analisar uma experiência de Economia Popular Solidária, levada a efeito pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, sob a ótica da cultura organizacional. A determinação, por parte do poder público local, de um sistema e um processo autogestionários em uma loja que comercializa produtos oriundos de diferentes grupos de artesãos não vem se concretizando de acordo com as expectativas. Para identificar os aspectos que vêm obstacularizando ou auxiliando na implementação da autogestão, utilizamo-nos do método etnográfico e das técnicas de observação participante e entrevistas para desnudar a cultura organizacional. Os resultados apontam para uma fragmentação cultural, com três blocos de artesãs que atuam na mesma loja, compartilhando visões diferenciadas sobre o que seja Economia Popular Solidária: o bloco dos voluntários, o bloco da socialização e o bloco dos beneficiados. A não observância, por parte do setor público, dessa heterogeneidade cultural, acrescida do desconhecimento daquilo que vem a ser o projeto autogestionário da Prefeitura, tem impedido uma ação mais engajada dos envolvidos.

ABSTRACT

This article intends to describe and analyze a Solidary Popular Economy experience carried out by the Porto Alegre City Hall from the organizational culture perspective. The local authorities' determination to establish a self-run system and process in a shop that sells products from various groups of artisans has not been meeting expectations. Resources used to identify the aspects that either hinder or help the self-management implementation included the ethnographic method and the participative observation techniques, as well as interviews to expose the organizational culture. Results indicate a cultural fragmentation, with three groups of artisans in the same shop sharing different views on what Solidary Popular Economy is: the voluntaries group, the socialization group and the beneficiaries group. The non-observance of that cultural heterogeneity on the part of authorities, and furthermore the poor dissemination that leads to disinformation about the City Hall's project have prevented a more engaged action by those involved.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Paulo Peixoto de. Autogestão. In: CATTANI, Antonio David. A outra economia. Porto Alegre: Veraz Editores, 2003. p. 20-26.

BALANDIER, Georges. Antropo-lógicas. São Paulo: Cultrix, 1976. BANCAL, Jean. Proudhon: pluralismo e autogestão os fundamentos. Brasília: Novos Tempos, 1984. p. 188

BARBOSA, Lívia. Cultura e empresas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. 56p.

___________. Igualdade e meritocracia: a ética do desempenho nas sociedades modernas. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1999. 215p. BAZTÁN, A. Aguirre. Etnografia. Barcelona: Marcombo, 1995.

CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1998. 611p.

CATTANI, Antonio David. A outra economia: os conceitos essenciais. In: CATTANI, Antonio David. A outra economia. Porto Alegre: Veraz Editores, 2003.

CAVEDON, Neusa Rolita. Antropologia para administradores. Porto Alegre: UFRGS, 2003.

GUILLERM, Alain; BOURDET, Yvon. Autogestão: uma mudança radical. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976. p. 229

ICAZA, Ana Mercedes Sarria; TIRIBA, Lia. Economia Popular. In: CATTANI, Antonio David. A outra economia. Porto Alegre: Veraz Editores, 2003, p.101-109.

JAIME, JR. Pedro. Pesquisa em organizações. Civitas, v. 3, n. 2, jul.-dez. 2003, p. 436-456.

LIMA, Ana Luiza Machado de Codes. O fenômeno da Economia Solidária: reflexões em um campo de estudo controverso. In: ENCONTRO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 25, 2001. Campinas, Anais... [S.I]: 2001. CD-ROM.

MANCE, Euclides André. Redes de colaboração solidária. In: CATTANI, Antonio David. A outra economia. Porto Alegre: Veraz Editores, 2003, p. 219-226

MARTIN, Joanne e FROST, Peter. The organizational cultura war games: a struggle for intellectual dominance. In: CLEGG, Stewart R., HARDY, Cynthia e NORD, Walter R. Handbook of organization studies. Londres: Sage, 1996, p. 599-621

MOTTA, Fernando C. Prestes. Burocracia e autogestão (a proposta de Proudhon). São Paulo: Brasiliense, 1981. p. 170

NAKANO, Marilena. Anteag: a autogestão como marca. In: SINGER, Paul; SOUZA, André Ricardo de. A Economia Solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego. São Paulo: Contexto, 2000. p. 65-80

SINGER, Paul. Economia solidária: um modo de distribuição e distribuição. In: SINGER, Paul; SOUZA, André Ricardo de. A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego. São Paulo: Contexto, 2000. p. 11-30

SINGER, Paul. Economia solidária. In: CATTANI, Antonio David. A outra economia. Porto Alegre: Veraz Editores, 2003, p. 116-125

TIRIBA, Lia. A economia popular solidária no Rio de Janeiro: tecendo os fios de uma nova cultura do trabalho. In: SINGER, Paul; SOUZA, André Ricardo de. A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego. São Paulo: Contexto, 2000. p. 221-244

WARNIER, Jean-Pierre. La mundializacion de la cultura. Barcelona: Gedisa, 2002.

  • ALBUQUERQUE, Paulo Peixoto de. Autogestão. In: CATTANI, Antonio David. A outra economia Porto Alegre: Veraz Editores, 2003. p. 20-26.
  • BALANDIER, Georges. Antropo-lógicas. São Paulo: Cultrix, 1976.
  • BANCAL, Jean. Proudhon: pluralismo e autogestão os fundamentos Brasília: Novos Tempos, 1984. p. 188
  • BARBOSA, Lívia. Cultura e empresas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. 56p.
  • ___________. Igualdade e meritocracia: a ética do desempenho nas sociedades modernas Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1999. 215p.
  • BAZTÁN, A. Aguirre. Etnografia. Barcelona: Marcombo, 1995.
  • CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1998. 611p.
  • CATTANI, Antonio David. A outra economia: os conceitos essenciais. In: CATTANI, Antonio David. A outra economia. Porto Alegre: Veraz Editores, 2003.
  • CAVEDON, Neusa Rolita. Antropologia para administradores Porto Alegre: UFRGS, 2003.
  • GUILLERM, Alain; BOURDET, Yvon. Autogestão: uma mudança radical Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976. p. 229
  • ICAZA, Ana Mercedes Sarria; TIRIBA, Lia. Economia Popular. In: CATTANI, Antonio David. A outra economia Porto Alegre: Veraz Editores, 2003, p.101-109.
  • JAIME, JR. Pedro. Pesquisa em organizações. Civitas, v. 3, n. 2, jul.-dez. 2003, p. 436-456.
  • LIMA, Ana Luiza Machado de Codes. O fenômeno da Economia Solidária: reflexões em um campo de estudo controverso. In: ENCONTRO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 25, 2001. Campinas, Anais.. [S.I]: 2001. CD-ROM.
  • MANCE, Euclides André. Redes de colaboração solidária. In: CATTANI, Antonio David. A outra economia Porto Alegre: Veraz Editores, 2003, p. 219-226
  • MARTIN, Joanne e FROST, Peter. The organizational cultura war games: a struggle for intellectual dominance. In: CLEGG, Stewart R., HARDY, Cynthia e NORD, Walter R. Handbook of organization studies. Londres: Sage, 1996, p. 599-621
  • MOTTA, Fernando C. Prestes. Burocracia e autogestão (a proposta de Proudhon) São Paulo: Brasiliense, 1981. p. 170
  • NAKANO, Marilena. Anteag: a autogestão como marca. In: SINGER, Paul; SOUZA, André Ricardo de. A Economia Solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego. São Paulo: Contexto, 2000. p. 65-80
  • SINGER, Paul. Economia solidária: um modo de distribuição e distribuição. In: SINGER, Paul; SOUZA, André Ricardo de. A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego São Paulo: Contexto, 2000. p. 11-30
  • SINGER, Paul. Economia solidária. In: CATTANI, Antonio David. A outra economia Porto Alegre: Veraz Editores, 2003, p. 116-125
  • TIRIBA, Lia. A economia popular solidária no Rio de Janeiro: tecendo os fios de uma nova cultura do trabalho. In: SINGER, Paul; SOUZA, André Ricardo de. A economia solidária no Brasil: a autogestão como resposta ao desemprego. São Paulo: Contexto, 2000. p. 221-244
  • WARNIER, Jean-Pierre. La mundializacion de la cultura. Barcelona: Gedisa, 2002.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Out 2014
  • Data do Fascículo
    Dez 2006
Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia Av. Reitor Miguel Calmon, s/n 3o. sala 29, 41110-903 Salvador-BA Brasil, Tel.: (55 71) 3283-7344, Fax.:(55 71) 3283-7667 - Salvador - BA - Brazil
E-mail: revistaoes@ufba.br