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Editorial

Editorial

Este é o último número de 2009 da Revista Psicologia & Sociedade. Além de apresentar os artigos, a resenha e a entrevista que o compõem, considero o momento oportuno para apresentar aos leitores, avaliadores e autores, neste editorial, algumas informações sobre o trabalho de editoração deste periódico. São informações que possibilitam visualizar o esforço que vem sendo dedicado por este periódico à divulgação de pesquisas e discussões tendo em vista o desenvolvimento da Psicologia Social numa postura crítica, transformadora e interdisciplinar, esforço este que tem se refletido em sua projeção nacional e internacional.

É significativo o aumento do volume de manuscritos submetidos à Revista Psicologia & Sociedade nos últimos anos: foram 172 submissões em 2007, 242 em 2008 e 366 no ano de 2009. Esses números refletiram, por um lado, o reconhecimento do periódico na área, por outro, implicaram em expressiva sobrecarga de trabalho para as editoras e o corpo de consultores ad hoc: isto porque os manuscritos consoantes com o perfil da revista foram submetidos à avaliação de pelo menos dois pareceristas, sendo que a maior parte foi reavaliada, após modificações, tantas vezes quantas necessárias até o aceite final.

Outro resultado do aumento do número de submissões diz respeito ao tempo para publicação dos manuscritos aprovados, geralmente maior do que gostaríamos. Isso se deve, por um lado, ao número expressivo de submissões em processo editorial, mas também às restrições orçamentárias que não permitem ampliar o número de artigos publicados em cada número da revista na mesma proporção. Cabe registrar a redução de recursos que vimos recebendo das agências de fomento, o que contribuiu para dificultar a situação.

De modo geral, os consultores respondem positivamente aos nossos convites e contribuem expressivamente para a qualificação dos trabalhos analisados e do periódico como um todo. Quando isso não acontece, ou quando nossas solicitações não são respondidas, o processo editorial se torna mais lento, demandando novas buscas por avaliadores credenciados nos campos de conhecimento em questão e novos convites. Somos, portanto, gratos aos colaboradores que gentilmente dedicam horas à apreciação e elaboração de pareceres para os manuscritos submetidos à avaliação por pesquisadores nacionais e estrangeiros, com variados graus de formação acadêmica e que atuam/pesquisam em diferentes campos.

Essa diversidade, visível no que se refere aos autores, se reflete, necessariamente, no corpo de avaliadores, e se objetiva em números da revista que se caracterizam pela tessitura plural, seja em relação às temáticas abordadas, às escolhas teóricas e/ou metodológicas. Essa diversidade está presente neste número da revista Psicologia & Sociedade, e a apresentação, ainda que breve, de seus capítulos, permitirá ao leitor reconhecê-la.

O artigo "Psicologia e a produção do cuidado no campo do bem-estar social", de João Paulo Macedo e Magda Dimenstein, discute concepções e práticas de cuidado de psicólogos que atuam no campo das políticas sociais, especificamente no âmbito da Saúde (SUS) e Assistência Social (SUAS). Esse tema também é o foco de Ricardo Burg Ceccim e Analice de Lima Palombini, no artigo "Imagens da infância, devir-criança e uma formulação à educação do cuidado".

Das práticas às políticas que alicerçam práticas: a discussão de concepções de juventudes expressas em políticas públicas para jovens no Brasil é o foco de Marcia Frezza, Cleci Maraschin e Nair Silveira dos Santos no artigo "Juventude como problema de políticas públicas". Na mesma linha de problematização, o artigo "O perfil dos usuários do CAPSAD-Blumenau e as políticas públicas em saúde mental", de autoria de Jeovane Gomes de Faria e Daniela Ribeiro Schneider, apresenta reflexões sobre as práticas nos novos dispositivos de atenção à saúde, como os CAPS – Álcool e Drogas e sua relação com as políticas realizadas pelo Ministério da Saúde. O artigo "Avaliação do centro de atenção psicossocial infantil de Cascavel/PR", de Ana Silvia Scandolara, Angela Rockenbach, Emerson Aparecido Sgarbossa, Lilian Rafaela Linke e Nelsi Salete Tonini, soma esforços nessa direção. A justificativa da necessidade destes trabalhos e de outros que os antecederam está na importância da discussão das políticas públicas e seus efeitos.

No artigo "Juízo e ação moral: desafios teóricos em psicologia", Leonardo Lemos de Souza e Mario Sergio Vasconcelos trazem para o debate, com a mesma postura crítica e problematizadora dos artigos anteriores, as possibilidades e limites na construção de referenciais teóricos e metodológicos que articulem diferentes perspectivas de análise psicológica da moralidade. Outro artigo que tem como foco questões teóricas e metodológicas é "A genealogia em Foucault: uma trajetória". Seus autores, Flavia Cristina Silveira Lemos e Hélio Rebello Cardoso Júnior, apresentam a genealogia enquanto modo de escrever a história como pergunta/problema, onde ganha destaque a multiplicidade de acontecimentos dispersos, raros, heterogêneos.

Em "Martí y la Psicologia", Diego Jorge González Serra nos apresenta as idéias de um dos heróis da história cubana com o objetivo de demonstrar que existe um pensamento psicológico nos escritos de José Martí. Bader Sawaia, por sua vez, em "Psicologia e desigualdade social: uma reflexão sobre liberdade e transformação social", afirma que a Psicologia tem o dever de resguardar a dimensão humana nas análises e intervenções sociais, e o compromisso com o planejamento de uma práxis ético/estética de transformação social.

Questões políticas também estão presentes no artigo "De jovem a estudante: apontamentos críticos", onde Samir Pérez Mortada reflete sobre a transformação do jovem em estudante e sobre o sentido político dessa passagem. Preocupação com a formação do estudante de psicologia, por sua vez, está presente em "O lugar da psicologia social na formação dos psicólogos", artigo em que Ligia Claudia Gomes de Souza e Edson Alves de Souza Filho apresentam pesquisa realizada com professores de psicologia social no Brasil. chegando à conclusão que estes buscam, ao ensinar, sensibilizar os alunos para os problemas sociais relacionados com a disciplina.

Problemas sociais e contemporâneos são abordados nos demais artigos que compõem este número. Em "Violencia social y discurso político presidencial venezoelano: un estudio psicosocial", Luis Alberto D'Aubeterre Alvarado analisa discursos do presidente da Venezuela a partir da compreensão da violência social como complexo processo psico-socio-político-histórico. O modo como moradores de uma capital brasileira definem o medo é o tema do artigo "O que é medo? Um adentrar no imaginário dos habitantes da cidade de João Pessoa, Paraíba", de Mauro Guilherme Pinheiro Koury. Já Michelle Regina da Natividade discute questões relacionadas à identidade profissional em "Vidas em risco: a identidade profissional dos bombeiros militares".

Questões de gênero e aculturação considerando suas implicações nas migrações internacionais é o foco de Roberta de Alencar-Rodrigues, Marlene Neves Strey e Leonor Cantera Espinosa em "Marcas do gênero nas migrações internacionais das mulheres". Em "Gênero e os sentidos do trabalho social", por sua vez, Jacy Corrêa Curado e Vera Sonia Mincoff Menegon discutem os sentidos do trabalho social, tendo como foco as relações entre gênero e trabalho. "Repertórios sobre lesbianidade na mídia televisiva: desestabilização de modelos hegemônicos?" é outro artigo que traz questões de gênero para o debate, problematizando os efeitos da introdução da temática lesbianidade em telenovelas. Tomando como objeto de análise as tecnologias da informação e comunicação contemporâneas que transformam as relações espaço-tempo, finaliza o rol de artigos deste número o trabalho de Ana Maria Nicolaci-da-Costa, intitulado "A difícil tarefa de compreender os arranjos espaciais contemporâneos".

Completam este número de Psicologia & Sociedade uma resenha e uma entrevista. A resenha de Patrícia Beatriz Argôllo Gomes Kirst, intitulada "Clínica e virtualidade: encontros com o impessoal", apresenta aos leitores deste periódico o livro de Luis Eduardo Aragon que discute a virtualidade nos encontros clínicos. A "Entrevista com Ian Hacking", apresentada por Luciana Vieira Caliman e Rogério Gomes de Almeida, é a primeira de quatro entrevistas, cujas traduções serão publicadas por este periódico, que discutem o modo como a ciência tem sido repensada em nossos tempos no âmbito dos Science Studies.

A última edição de 2009 de Psicologia & Sociedade, portanto, mantém a diversidade e pluralidade que têm caracterizado o periódico. Essa diversidade, no entanto, não se perde em direções sem fim, pois seus múltiplos fios se entretecem com a tônica da crítica ao supostamente conhecido, com a provocação de pretensas verdades, com as dúvidas que alertam para a necessidade de atenção constante às naturalizações e hegemonias. Tarefa árdua. Esperamos que a essas vozes possam se somar muitas outras, com as quais será possível dialogar em números vindouros.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Maio 2010
  • Data do Fascículo
    Dez 2009
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