Acessibilidade / Reportar erro

APRENDIZAGEM INTERORGANIZACIONAL E CAPACIDADE ABSORTIVA: INVESTIGAÇÃO EM PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS

RESUMO

Objetivo:

Esta pesquisa analisa a influência da aprendizagem interorganizacional (AIO) sobre a capacidade absortiva (Acap), potencial (Pacap) e realizada (Racap), no ambiente de pequenas e médias empresas (PMEs).

Originalidade/valor:

O estudo contribuiu para o entendimento e a expansão das pesquisas da AIO operacionalizadas por meio dos elementos da Acap. A compreensão desses elementos é fundamental para o desenvolvimento de novas competências das PMEs brasileiras e/ou de países emergentes, imersas em setores dinâmicos e de alta mobilidade tecnológica, para se adaptarem e desenvolverem novas capacidades dinâmicas.

Design /metodologia/abordagem:

A pesquisa foi realizada por meio de uma survey em uma amostra de 215 PMEs do setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC) no estado de Santa Catarina, Brasil. Os dados foram analisados a partir da técnica de modelagem de equações estruturais.

Resultados:

Os resultados demonstraram que as relações de AIO são capazes de influenciar o desenvolvimento de novas competências e possuem forte influência sobre o desenvolvimento da Acap. A habilidade das organizações em adquirir, assimilar, aplicar e internalizar os conhecimentos disponíveis no setor, por meio de relações interorganizacionais, foi fundamental para a adaptação e sobrevivência.

PALAVRAS-CHAVE
Aprendizagem organizacional; Aprendizagem interorganizacional; Capacidade absortiva; Pequenas e médias empresas; Setor de tecnologia da informação e comunicação

ABSTRACT

Purpose:

This research analyzes the influence of interorganizational learning (IOL) on the absorptive (Acap), potential (Pacap) and realized (Racap) capacities on the environment of small and medium enterprises (SMEs).

Originality/value:

The study contributed to the understanding and expansion of IOL research operationalized through the elements of Acap. The understanding of these elements are fundamental for the development of competencies of SMEs from Brazil and/or emerging countries embedded on dynamic sectors and high technology mobility to adapt and develop new dynamic capabilities.

Design/methodology/approach:

The research was conducted by a survey with a sample of 215 organizations of the information technology and communication (ITC) sector in the State of Santa Catarina, Brazil. The data were analyzed using the structural equation modeling technique.

Findings:

The results showed that the relationships of IOL influence the development of new capabilities and have a strong influence over absorptive capacity development. The organizations ability to acquire, assimilate, apply and internalize the available knowledge in the sector through interorganizational relations was fundamental for their adaptation and survival.

KEYWORDS
Organizational learning; Interorganizational learning; Absorptive capacity; Small and medium enterprises; Information and communication technology sector

1. INTRODUÇÃO

A dinâmica da capacidade absortiva (absorptive capacity - Acap) apresenta uma forte relação com os processos de aprendizagem organizacional (AO), e sua construção é baseada em processos de aprendizagem que são direcionados à exploração, assimilação, transformação e aplicação de conhecimentos externos (Camisón & Forés, 2010Camisón, C., & Forés, B. (2010). Knowledge absorptive capacity: New insights for its conceptualization and measurement. Journal of Business Research, 63(7), 707-715. doi:10.1016/j.jbusres.2009.04.022
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2009.0...
; Lane, Koka, & Pathak, 2006Lane, P. J., Koka, B. R., & Pathak, S. (2006). The reification of absorptive capacity: A critical review and rejuvenation of the construct. Academy of Management Review, 31(4), 833-863. doi:10.5465/AMR.2006.22527456
https://doi.org/10.5465/AMR.2006.2252745...
). Consequentemente, a formação e o desenvolvimento da Acap também dependeriam da consolidação de um ambiente de aprendizagem na organização, nos quais se destacariam as práticas de aprendizagem intra e interorganizacionais (Gebauer, Worch, & Truffer, 2012Gebauer, H., Worch, H., & Truffer, B. (2012). Absorptive capacity, learning processes and combinative capabilities as determinants of strategic innovation. European Management Journal, 30(1), 57-73. doi:10.1016/j.emj.2011.10.004
https://doi.org/10.1016/j.emj.2011.10.00...
). Nesta pesquisa, objetiva-se analisar a influência da aprendizagem interorganizacional (AIO) na Acap. Complementarmente, propõe-se o seguinte: 1. verificar se existe influência da AIO na capacidade absortiva potencial (potential absorptive capacity - Pacap) e 2. investigar se há influência da AIO na capacidade absortiva realizada (realized absorptive capacity - Racap).

As organizações dependem do conhecimento externo e de sua Acap para melhorar seu desempenho e garantir sua adaptação e sobrevivência ao dinamismo do mercado ao qual pertencem. O esforço de absorção de conhecimento externo varia conforme as condições do contexto ambiental em que as organizações estão inseridas (Koerich, Cancellier, & Tezza, 2015Koerich, G. V., Cancellier, É. L. P., & Tezza, R. (2015). Capacidade de absorção, turbulência ambiental e desempenho organizacional: Um estudo em empresas varejistas catarinenses. Revista de Administração Mackenzie, 16(3), 238. doi:10.1590/1678-69712015/administracao.v16n3p238-267
https://doi.org/10.1590/1678-69712015/ad...
). Naturalmente, para as pequenas e médias empresas (PMEs) instaladas em países em desenvolvimento, a AIO tem papel fundamental na Acap para fornecer elementos mínimos de sobrevivência organizacional (Ernst, 2010Ernst, D. (2010). Upgrading through innovation in a small network economy: Insights from Taiwan's IT industry. Economics of Innovation and New Technology, 19(4), 295-324. doi:10.1080/10438590802469560
https://doi.org/10.1080/1043859080246956...
; Zonta & Amal, 2017Zonta, T. C., & Amal, M. (2017). Institutions, networks and the international growth of born globals from emerging markets. Anais do XLI Encontro da Anpad, São Paulo, SP, Brasil.). Esses atributos tornam-se ainda mais relevantes se as PMEs estiverem localizadas em setores dinâmicos e de alta mobilidade tecnológica, como os setores de tecnologia de informação e comunicação (TIC).

No caso brasileiro, essa lacuna ainda é mais evidente, pois os estudos de Acap encontrados na literatura caracterizam-se, principalmente, como teóricos e concentram-se no contexto de empresas de grande porte (Koerich & Cancellier, 2017Koerich, G. V., & Cancellier, E. L. P. de L. (2017). Capacidade de absorção: Levantamento e análise de pesquisas quantitativas e principais constructos relacionados. Seminários de Administração, São Paulo, SP, Brasil, 20.). Existe um forte domínio de investigações sobre Acap nos ambientes de economias desenvolvidas (Flatten, Greve, & Brettel, 2011Flatten, T. C., Greve, G. I., & Brettel, M. (2011). Absorptive capacity and firm performance in SMEs: The mediating influence of strategic alliances. European Management Review, 8(3), 137-152. doi:10.1111/j.1740-4762.2011.01015.x
https://doi.org/10.1111/j.1740-4762.2011...
), evidenciando-se a necessidade de pesquisas em países emergentes como o Brasil. Observamos, ainda, que poucos estudos têm analisado a Acap no ambiente de PMEs (Cassol, Gonçalo, & Ruas, 2016Cassol, A., Gonçalo, C. R., & Ruas, R. L. (2016). Redefining the relationship between intellectual capital and innovation: The mediating role of absorptive capacity. BAR-Brazilian Administration Review, 13(4), 2-25. doi:10.1590/1807-7692bar2016150067
https://doi.org/10.1590/1807-7692bar2016...
; Cassol, Zanesco, Martins, & Marietto, 2019Cassol, A., Zanesco, D., Martins, C. B., & Marietto, M. L. (2019). Capacidade absortiva como moderadora da relação entre inovatividade organizacional e desempenho inovador de pequenas e médias empresas brasileiras. Interciencia, 44(1), 15-22.), o que agrava mais essa lacuna, considerando-se a importância desse tipo de empresa para o país. Para as PMEs, a Acap é significativa porque depende da capacidade da organização em desenvolver e expandir a base de conhecimento organizacional de forma eficaz e rápida (Flatten, Engelen, Zahra, & Brettel, 2011Flatten, T. C., Greve, G. I., & Brettel, M. (2011). Absorptive capacity and firm performance in SMEs: The mediating influence of strategic alliances. European Management Review, 8(3), 137-152. doi:10.1111/j.1740-4762.2011.01015.x
https://doi.org/10.1111/j.1740-4762.2011...
). Nessa direção, buscamos entender o problema entre a AIO e a Acap no ambiente de PMEs de TIC, a fim de contribuirmos para preencher a lacuna de pesquisas sobre ACAP em PMEs no Brasil e em países emergentes. Nossa intenção é buscar responder à pergunta de pesquisa:

  • Qual é a influência da AIO na Acap?

A dinâmica de atuação das organizações de tecnologia as caracteriza como intensivas em inovação e conhecimento (Teixeira, Oliveira, & Curado, 2018Teixeira, E. K., Oliveira, M., & Curado, C. M. M. (2018). Knowledge management process arrangements and their impact on innovation. Business Information Review, 35(1), 29-38. doi:10.1177/0266382118757771
https://doi.org/10.1177/0266382118757771...
). Trata-se também de organizações nas quais o compartilhamento e a elaboração do conhecimento são fatores críticos para existência delas e para a qualidade dos resultados organizacionais (Nonaka & Von Krogh, 2009Nonaka, I., & Von Krogh, G. (2009). Perspective tacit knowledge and knowledge conversion: Controversy and advancement in organizational knowledge creation theory. Organization science, 20(3), 635-652. doi:10.1287/orsc.1080.0412
https://doi.org/10.1287/orsc.1080.0412...
). A partir dessa premissa, pressupõe-se que empresas caracterizadas como TIC possuem um grande desafio na transformação dos conhecimentos oriundos da AIO e no desenvolvimento de novas capacidades.

Este artigo está estruturado da seguinte forma: além desta introdução, apresenta-se o quadro teórico que fornece suporte às hipóteses. Em seguida, indicam-se os procedimentos metodológicos, e posteriormente se apresentam a análise dos dados e resultados e as considerações finais.

2. QUADRO TEÓRICO E HIPÓTESES

Esta seção fornece suporte teórico às hipóteses propostas para esta pesquisa, oriundas da teoria de AIO e Acap.

2.1 Aprendizagem interorganizacional no ecossistema de PMEs do setor de TIC

A AO é o processo pelo qual as ações e rotinas organizacionais são modificadas e aperfeiçoadas, a partir de uma base de conhecimento prévio existente (Fiol & Lyles, 1985Fiol, C. M., & Lyles, M. A. (1985). Organizational learning. Academy of Management Review, 10(4), 803-813.) aliado à aquisição de novos conhecimentos, à distribuição e à interpretação da informação. O processo de aprendizagem nas organizações é responsável pela transformação do conhecimento criado pelo indivíduo em ações direcionadas aos objetivos organizacionais (Easterby-Smith & Lyles, 2011Easterby-Smith, M., & Lyles, M. A. (Eds.). (2011). Handbook of organizational learning and knowledge management. Chichester: Wile.).

A literatura de AO aponta duas principais abordagens de análise. A primeira delas é a aprendizagem intraorganizacional, que trata a aprendizagem dentro das organizações e faz referência ao aprendizado baseado nas expe riências formais e integradas dos indivíduos que compartilham diferentes bases de conhecimento e aprendem de forma compartilhada (Fiol & Lyles, 1985Fiol, C. M., & Lyles, M. A. (1985). Organizational learning. Academy of Management Review, 10(4), 803-813.; Crossan, Lane, & White, 1999Crossan, M. M., Lane, H. W., & White, R. E. (1999). An organizational learning framework: From intuition to institution. Academy of Management Review, 24(3), 522-537. doi:10.5465/AMR.1999.2202135
https://doi.org/10.5465/AMR.1999.2202135...
; Argote & Ophir, 2002Argote, L., & Ophir, R. (2002). Intraorganizational learning. In J. A. C. Baum (Ed.), The Blackwell companion to organizations (pp. 181-207). Oxford: Blackwell Business., Holmqvist, 2003Holmqvist, M. (2003). A dynamic model of intra-and interorganizational learning. Organization Studies, 24(1), 95-123. doi:10.1177/0170840603024001684
https://doi.org/10.1177/0170840603024001...
). Já a segunda abordagem, a AIO, analisa as relações de aprendizado entre organizações e busca explicar como ocorre a aquisição do conhecimento entre atores e grupos de organizações (Larsson, Lars Bengtsson, & Sparks, 1998Larsson, R., Lars Bengtsson, K. H., & Sparks, J. (1998). The interorganizational learning dilemma: Collective knowledge development in strategic alliances. Organization Science 9(3), 285-305. doi:10.1287/orsc.9.3.285
https://doi.org/10.1287/orsc.9.3.285...
; Cooper & Rousseau, 1999Cooper, C. L., & Rousseau, D. M. (Eds.). (1999). Trends in organizational behavior: The virtual organization (Vol. 6). New York: Wiley.; Child, 2001Child, J. (2001). Learning through strategic alliance. In M. Dierkes, A. B. Antal, J. Child, & I. Nonaka (Eds.), Handbook of organizational learning and knowledge (pp. 657-680). Oxford: Oxford University Press.), e trata da importância do acesso ao conhecimento por meio da interação entre diferentes atores das redes interorganizacionais, considerando o vínculo da organização com outros membros de sua rede como elemento importante na aprendizagem (Wang & Zhang, 2009Wang, C. F., & Zhang, P. (2009). An empirical study on the relationship between properties of knowledge, network topology and corporation innovation performance. International Conference on Management Science and Engineering, Moscow. doi: 10.1109/ICMSE.2009.5318085
https://doi.org/10.1109/ICMSE.2009.53180...
).

A colaboração formal e, muitas vezes, informal, entre organizações, bem como a interação entre os diferentes agentes, também proporciona a AIO no ambiente de PMEs. Verifica-se que as ações colaborativas interorganizacionais nas suas mais variadas formas estão relacionadas a uma série de resultados importantes. Entre estes se percebe o compartilhamento, a transferência de conhecimento e a criação de novos conhecimentos capazes de proporcionar novas soluções para o mercado (Mozzato, Bitencourt, & Grzybovski, 2015Mozzato, A. R., Bitencourt, C. C., & Grzybovski, D. (2015). The interorganizational level in the learning continuum: Analytic conceptual scheme. International Business Research, 8(4), 94. doi:10.5539/ibr.v8n4p94
https://doi.org/10.5539/ibr.v8n4p94...
). O AIO no ambiente de PMEs impacta diretamente o desempenho das organizações, uma vez que é capaz de proporcionar um fluxo contínuo entre o conhecimento existente na organização e os novos conhecimentos oriundos da atuação interorganizacional. Para as PMEs, a relação com parceiros de alianças de longo prazo pode gerar benefícios comuns. O aprendizado adquirido requer obrigações que reduzem a capacidade de substituição mútua e aumentam o compromisso, a reciprocidade e a estabilidade da aliança (Fredrich, Bouncken, & Kraus, 2018Fredrich, V., Bouncken, R. B., & Kraus, S. (2018). The race is on: Configurations of absorptive capacity, interdependence and slack resources for interorganizational learning in coopetition alliances. Journal of Business Research, 101, 862-868. doi:10.1016/j.jbusres.2018.11.038
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2018.1...
).

Esta pesquisa trata a AO a partir da abordagem interorganizacional (AIO) como base no conceito de que o processo de aprendizagem entre as organizações ocorre pela atuação em rede, alianças estratégicas, colaboração formal e por meio da interação entre diferentes agentes (Child, 2001Child, J. (2001). Learning through strategic alliance. In M. Dierkes, A. B. Antal, J. Child, & I. Nonaka (Eds.), Handbook of organizational learning and knowledge (pp. 657-680). Oxford: Oxford University Press.; Holmqvist, 2003Holmqvist, M. (2003). A dynamic model of intra-and interorganizational learning. Organization Studies, 24(1), 95-123. doi:10.1177/0170840603024001684
https://doi.org/10.1177/0170840603024001...
; Wang & Zhang, 2009Wang, C. F., & Zhang, P. (2009). An empirical study on the relationship between properties of knowledge, network topology and corporation innovation performance. International Conference on Management Science and Engineering, Moscow. doi: 10.1109/ICMSE.2009.5318085
https://doi.org/10.1109/ICMSE.2009.53180...
; Ernst, 2010Ernst, D. (2010). Upgrading through innovation in a small network economy: Insights from Taiwan's IT industry. Economics of Innovation and New Technology, 19(4), 295-324. doi:10.1080/10438590802469560
https://doi.org/10.1080/1043859080246956...
; Crossan, Mauer, & White, 2011Crossan, M. M., Mauer, C. C., & White, R. E. (2011). Reflections on the 2009 AMR decade award: Do we have a theory of organizational learning? Academy of Management Review, 36(3), 446-460. doi:10.5465/amr.2010.0544
https://doi.org/10.5465/amr.2010.0544...
; Mozzato & Bitencourt, 2014Mozzato, A. R., & Bitencourt, C. C. (2014). Understanding interorganizational learning based on social spaces and learning episodes. Brazilian Administration Review, 11(3), 284-301. doi:10.1590/1807-7692bar2014370
https://doi.org/10.1590/1807-7692bar2014...
; Zonta & Amal, 2017Zonta, T. C., & Amal, M. (2017). Institutions, networks and the international growth of born globals from emerging markets. Anais do XLI Encontro da Anpad, São Paulo, SP, Brasil.). Argumentamos que as relações interorganizacionais entre as PMEs participantes de redes, alianças estratégicas, clusters ou arranjos produtivos locais promovem o melhor desempenho dessas organizações. As relações estabelecidas em tais configurações tendem a resultar em interação e aprendizagem interorganizacionais. Embora não se negue a competição entre empresas do mesmo setor, as estratégias de cooperação se tornaram uma fonte geradora de vantagem competitiva (Ernst, 2010Ernst, D. (2010). Upgrading through innovation in a small network economy: Insights from Taiwan's IT industry. Economics of Innovation and New Technology, 19(4), 295-324. doi:10.1080/10438590802469560
https://doi.org/10.1080/1043859080246956...
; Mozzatto & Bitencourt, 2014Mozzato, A. R., & Bitencourt, C. C. (2014). Understanding interorganizational learning based on social spaces and learning episodes. Brazilian Administration Review, 11(3), 284-301. doi:10.1590/1807-7692bar2014370
https://doi.org/10.1590/1807-7692bar2014...
).

2.2 Capacidade absortiva

A Acap incorpora, em muitos aspectos, o conceito de capacidades dinâmicas (CD) introduzido por Teece, Pisano e Shuen (1997)Teece, D., Pisano, G., & Shuen, A. (1997). Dynamic capabilities and strategic managerial. Strategic Managerial Journal, 18(7), 509-533. doi:10.1002/(SICI)1097-0266(199708)18:7<509::AID-SMJ882>3.0.CO;2-Z
https://doi.org/10.1002/(SICI)1097-0266(...
. A CD representa um alto nível de capacidade que permite às organizações se reconfigurar de forma contínua por meio do acúmulo de conhecimento e responder mais rápida e eficazmente às mudanças nos mercados. Tal capacidade exige que as organizações analisem seu ambiente e, em seguida, filtrem o conhecimento interno e se apropriem dele, de modo que ele oriente suas ações futuras (Cassol et al., 2019Cassol, A., Zanesco, D., Martins, C. B., & Marietto, M. L. (2019). Capacidade absortiva como moderadora da relação entre inovatividade organizacional e desempenho inovador de pequenas e médias empresas brasileiras. Interciencia, 44(1), 15-22.). Logo, a Acap é representada pela habilidade das organizações em identificar e assimilar conhecimentos disponíveis no ambiente interorganizacional e, a partir da reconfiguração do conhecimento prévio existente, criar novas rotinas e processos organizacionais capazes de promover uma CD. Consequentemente, por meio da Acap, a organização é capaz de aproveitar conhecimentos preexistentes nela, aliados a conhecimentos adquiridos de fontes externas, transformando-os em novos recursos e capacidades (Cohen & Levinthal, 1990Cohen, W. M., & Levinthal, D. A. (1990). Absorptive capacity: A new perspective on learning and innovation. Administrative Science Quarterly, 35(1), 128-152. doi:10.2307/2393553
https://doi.org/10.2307/2393553...
).

A Acap depende, principalmente, do compartilhamento de conhecimento dentro da organização, ou seja, da sua Pacap, não dependendo unicamente dos relacionamentos com o ambiente externo (Cohen & Levinthal, 1990Cohen, W. M., & Levinthal, D. A. (1990). Absorptive capacity: A new perspective on learning and innovation. Administrative Science Quarterly, 35(1), 128-152. doi:10.2307/2393553
https://doi.org/10.2307/2393553...
). A Acap depende de processos e rotinas, de dentro da organização, que permitam comunicar, compartilhar e transferir conhecimentos (Lane et al., 2006Lane, P. J., Koka, B. R., & Pathak, S. (2006). The reification of absorptive capacity: A critical review and rejuvenation of the construct. Academy of Management Review, 31(4), 833-863. doi:10.5465/AMR.2006.22527456
https://doi.org/10.5465/AMR.2006.2252745...
). Consequentemente, cumpre um papel importante na obtenção do equilíbrio entre explorar recursos e capacidades resultantes da interação interorganizacional, uma vez que permite que as organizações acessem novos conhecimentos, novas parcerias e a percepção de novos nichos de mercado (Ferreira & Ferreira, 2017Ferreira, G. C., & Ferreira, J. J. (2017). Absorptive capacity: An analysis in the context of Brazilian family firms. Revista de Administração Mackenzie, 18(1), 174-204. doi: 10.1590/1678-69712017/administracao.v18n1p174-204
https://doi.org/10.1590/1678-69712017/ad...
).

Zahra e George (2002)Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
https://doi.org/10.5465/amr.2002.6587995...
propuseram uma reconceitualização da expressão Acap. O conceito multidimensional proposto pelos autores asseverou que a Acap é composta pelas capacidades de identificação, assimilação, transformação e aplicação do conhecimento com fins comerciais. Os autores indicaram que a Acap é dividida em dois diferentes subconjuntos: 1. Pacap, que envolve as dimensões de aquisição e assimilação do conhecimento; e 2. Racap, que enfatiza as dimensões de transformação e aplicação do conhecimento (Zahra & George, 2002Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
https://doi.org/10.5465/amr.2002.6587995...
). Esses dois diferentes subconjuntos definidos pelos autores são relevantes e necessitam ser investigados, uma vez que as organizações permeiam contextos diferentes. Uma organização pode ter maior capacidade de compreender problemas técnicos complexos (aquisição e assimilação), porém não ser capaz de utilizar esse conhecimento (transformar e aplicar).

2.2.1 Capacidade absortiva potencial

A Pacap, para Flatten et al. (2011)Flatten, T. C., Greve, G. I., & Brettel, M. (2011). Absorptive capacity and firm performance in SMEs: The mediating influence of strategic alliances. European Management Review, 8(3), 137-152. doi:10.1111/j.1740-4762.2011.01015.x
https://doi.org/10.1111/j.1740-4762.2011...
, é averiguada pela: 1. Aquisição, que é definida como a capacidade de identificar e obter conhecimentos e informações externas; e 2. Assimilação, que se refere às rotinas e aos processos da organização que permitem análise, compreensão e interpretação das informações e dos conhecimentos adquiridos externamente. Esse fluxo de aquisição e assimilação de conhecimento suporta a Pacap dentro das organizações. Estudos atuais, como Flatten et al. (2011)Flatten, T. C., Greve, G. I., & Brettel, M. (2011). Absorptive capacity and firm performance in SMEs: The mediating influence of strategic alliances. European Management Review, 8(3), 137-152. doi:10.1111/j.1740-4762.2011.01015.x
https://doi.org/10.1111/j.1740-4762.2011...
, Schildt, Keil e Maula (2012)Schildt, H., Keil, T., & Maula, M. (2012). The temporal effects of relative and firm-level absorptive capacity on interorganizational learning. Strategic Management Journal, 33(10), 1154-1173. doi:10.1002/smj.1963
https://doi.org/10.1002/smj.1963...
, Otto (2012)Otto, P. (2012). Dynamics in strategic alliances: A theory on interor ganizational learning and knowledge development. International Journal of Information Technologies and Systems Approach, 5(1), 74-86. doi:10.4018/jitsa.2012010105
https://doi.org/10.4018/jitsa.2012010105...
, Song (2015)Song, Z. (2015). Organizational learning, absorptive capacity, imitation and innovation: Empirical analyses of 115 firms across China. Chinese Management Studies, 9(1), 97-113. doi:10.1108/CMS-05-2014-0092
https://doi.org/10.1108/CMS-05-2014-0092...
, Picoli e Takahashi (2016)Picoli, F. R., & Takahashi, A. (2016). Capacidade de absorção, aprendizagem organizacional e mecanismos de integração social. Revista de Administração Contemporânea, 20(1), 1-20. doi:10.1590/1982-7849rac2016140036
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2016...
e Apriliyanti e Alon (2017)Apriliyanti, I. D., & Alon, I. (2017). Bibliometric analysis of absorptive capacity. International Business Review, 26(5), 896-907. doi:10.1016/j.ibusrev.2017.02.007
https://doi.org/10.1016/j.ibusrev.2017.0...
, buscam comprovar empiricamente a relação dos temas AIO e Pacap, além de sugerirem que novos estudos busquem compreender o papel da AIO sobre a aquisição e assimilação de conhecimento.

A relação entre AIO e Pacap, por meio de alianças estratégicas interorganizacionais, ocorre a partir da confiança desenvolvida pelas organizações participantes da rede. O conhecimento adquirido no trabalho colaborativo proporciona novas visões organizacionais que podem suportar diferentes estratégias (Otto, 2012Otto, P. (2012). Dynamics in strategic alliances: A theory on interor ganizational learning and knowledge development. International Journal of Information Technologies and Systems Approach, 5(1), 74-86. doi:10.4018/jitsa.2012010105
https://doi.org/10.4018/jitsa.2012010105...
) fortalecendo a Pacap. A aquisição de conhecimento a partir das alianças estratégicas é relevante, uma vez que as redes afetam as estratégias das organizações no que diz respeito à busca por conhecimentos externos que, consequentemente, são influenciados pelo processo de aprendizagem. Sendo assim, as múltiplas relações interorganizacionais possibilitam a melhoria do desempenho da organização em virtude da capacidade de adquirir conhecimento externo de suas redes (Apriliyanti & Alon, 2017Apriliyanti, I. D., & Alon, I. (2017). Bibliometric analysis of absorptive capacity. International Business Review, 26(5), 896-907. doi:10.1016/j.ibusrev.2017.02.007
https://doi.org/10.1016/j.ibusrev.2017.0...
) e internalizá-lo por meio da Pacap.

A Pacap depende do nível de conhecimento anterior que a organização possui, principalmente se esse conhecimento se desenvolve, cumulativamente, por meio de processos de AIO. Na etapa de aquisição de conhecimentos, primeira fase da Pacap, o conhecimento prévio existente na empresa se torna vital. Com base na expertise dos funcionários, na utilização de métodos de resolução de problemas e na comunicação compartilhada, a organização é capaz de reconhecer mais efetivamente quais conhecimentos externos lhe são importantes (Patterson & Ambrosini, 2015Patterson, W., & Ambrosini, V. (2015). Configuring absorptive capacity as a key process for research intensive firms. Technovation, 36, 77-89. doi:10.10 16/j.technovation.2014.10.003
https://doi.org/10.10 16/j.technovation....
).

Ainda intrínseco à dimensão da Pacap, o processo de assimilação é considerado um componente essencial na AO e um fator integrante para a vantagem competitiva (Fletcher & Prashantham, 2011Fletcher, M., & Prashantham, S. (2011). Knowledge assimilation processes of rapidly internationalizing firms: Longitudinal case studies of Scottish SMEs. Journal of Small Business and Enterprise Development, 18(3), 475-501. doi:10.1108/14626001111155673
https://doi.org/10.1108/1462600111115567...
). Isso ocorre porque as organizações atuam em redes em busca de internalizar recursos valiosos e estratégicos e, também, para melhorar a AIO (Jung-Erceg, Pandza, Armbruster, & Dreher, 2007Jung-Erceg, P., Pandza, K., Armbruster, H., & Dreher, C. (2007). Absorptive capacity in European manufacturing: a Delphi study. Industrial Management & Data Systems, 107(1), 37-51. doi:10.1108/02635570710719043
https://doi.org/10.1108/0263557071071904...
). Desse modo, o conhecimento assimilado pela organização não se limita a um único indivíduo, mas depende de interações e compartilhamentos entre indivíduos (Jansen, Van Den Bosch, & Volberda, 2005Jansen, J. J., Van Den Bosch, F. A., & Volberda, H. W. (2005). Managing potential and realized absorptive capacity: How do organizational antecedents matter? Academy of Management Journal, 48(6), 999-1015. doi:10.1007/BF03396721
https://doi.org/10.1007/BF03396721...
; Caccia-Bava, Guimarães, & Harrington, 2006Caccia-Bava, M. D., Guimarães, T., & Harrington, S. J. (2006). Hospital organization culture, capacity to innovate and success in technology adoption. Journal of Health Organization and Management, 20(3), 194-217. doi:10.1108/14777260610662735
https://doi.org/10.1108/1477726061066273...
), e, assim, ocorre a transferência de conhecimento (Sparrow, Tarkowski, Lancaster, & Mooney, 2009Sparrow, J., Tarkowski, K., Lancaster, N., & Mooney, M. (2009). Evolving knowledge integration and absorptive capacity perspectives upon university-industry interaction within a university. Education and Training, 51(8), 648-664. doi:10.1108/00400910911005217
https://doi.org/10.1108/0040091091100521...
) que é suportada pela AIO.

As PMEs apresentam características distintas em relação à sua estrutura e configuração organizacional com dificuldades na captação, na assimilação e no gerenciamento de conhecimentos externos. Elas buscam se fortalecer por meio das suas relações com parceiros (Ireland, Hitt, & Vaidyanath, 2002Ireland, R. D., Hitt, M. A., & Vaidyanath, D. (2002). Alliance management as a source of competitive advantage. Journal of Management, 28(3), 413-446. doi:10.1016/S0149-2063(02)00134-4
https://doi.org/10.1016/S0149-2063(02)00...
; Tracey & Clark, 2003Tracey, P., & Clark, G. L. (2003). Alliances, networks and competitive strategy: Rethinking clusters of innovation. Growth and Change, 34(1), 1-16. doi:10.1111/1468-2257.00196
https://doi.org/10.1111/1468-2257.00196...
), que são suportadas pelas práticas de AIO. Nas organizações presentes em países emergentes, a Acap e a AIO estão fortemente relacionadas (Jain, Kashiramka, & Jain, 2018Jain, S., Kashiramka, S., & Jain, P. K. (2018). Impact of organizational learning and absorptive capacity on the abnormal returns of acquirers: Evidence from cross-border acquisitions by Indian companies. Global Journal of Flexible Systems Management, 19(4), 289-303. doi:10.1007/s40171-018-0193-9
https://doi.org/10.1007/s40171-018-0193-...
; Fredrich et al., 2018Fredrich, V., Bouncken, R. B., & Kraus, S. (2018). The race is on: Configurations of absorptive capacity, interdependence and slack resources for interorganizational learning in coopetition alliances. Journal of Business Research, 101, 862-868. doi:10.1016/j.jbusres.2018.11.038
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2018.1...
), pois a AIO precede a Pacap. Sendo assim, propõe-se o seguinte:

  • Hipótese 1: A AIO das PMEs do setor de TIC está positivamente relacionada à Pacap.

  • H1a: A AIO das PMEs do setor de TIC está positivamente relacionada à capacidade de aquisição de conhecimento.

  • H1b: A AIO das PMEs do setor de TIC está positivamente relacionada à capacidade de assimilação de conhecimento.

2.2.2 Capacidade absortiva realizada

O desenvolvimento da Acap é potencializado quando a organização estabelece vínculos com outras organizações, já que estas são fontes de conhecimento que podem ampliar seu know-how existente e também qualificar seus funcionários com novas experiências. Entretanto, as organizações precisam desenvolver a Racap, ou seja, transformar e aplicar os conhecimentos adquiridos a fim de aproveitar esses resultados para fins comerciais (Zahra & George, 2002Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
https://doi.org/10.5465/amr.2002.6587995...
; Vinding, 2006Vinding, A. L. (2006). Absorptive capacity and innovative performance: A human capital approach. Economics of Innovation and New Technology, 15(4-5), 507-517. doi: 10.1080/10438590500513057
https://doi.org/10.1080/1043859050051305...
; Song, 2015Song, Z. (2015). Organizational learning, absorptive capacity, imitation and innovation: Empirical analyses of 115 firms across China. Chinese Management Studies, 9(1), 97-113. doi:10.1108/CMS-05-2014-0092
https://doi.org/10.1108/CMS-05-2014-0092...
; Picoli & Takahashi, 2016Picoli, F. R., & Takahashi, A. (2016). Capacidade de absorção, aprendizagem organizacional e mecanismos de integração social. Revista de Administração Contemporânea, 20(1), 1-20. doi:10.1590/1982-7849rac2016140036
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2016...
; Oliveira & Balestrin, 2018Oliveira, S. R., & Balestrin, A. (2018). Cooperação universidade-empresa: Um estudo do projeto Unisinos - HT Micron para o desenvolvimento de capacidade absortiva na área de semicondutores. Gestão & Produção, 25(3), 595-609. doi:10.1590/0104-530x1018-13
https://doi.org/10.1590/0104-530x1018-13...
). A Racap pode ser potencializada a partir das práticas de AIO, se esta é percebida como intensa, podendo ser percebida com diferentes formas de intensidade dependendo da organização. Sendo assim, o grau de criação de valor a partir do conhecimento absorvido resultará em um aumento de desempenho (Koçoglu, Akgün, & Keskin, 2015Koçoglu, I., Akgün, A. E., & Keskin, H. (2015). The differential relationship between absorptive capacity and product innovativeness: A theoretically derived framework. International Business Research, 8(7), 108. doi:10.5539/ibr.v8n7p108
https://doi.org/10.5539/ibr.v8n7p108...
).

A transformação do conhecimento refere-se à capacidade organizacional de refinar e desenvolver processos que favorecem a combinação de conhecimentos existentes com informações externas e assimiladas. A aplicação relaciona-se à capacidade organizacional de expandir, criar, refinar e usar habilidades, conhecimentos e informações por meio da aquisição, assimilação e transformação (Flatten et al., 2011Flatten, T. C., Greve, G. I., & Brettel, M. (2011). Absorptive capacity and firm performance in SMEs: The mediating influence of strategic alliances. European Management Review, 8(3), 137-152. doi:10.1111/j.1740-4762.2011.01015.x
https://doi.org/10.1111/j.1740-4762.2011...
). Novos conhecimentos adquiridos pelo processo de aprendizagem precisam ser assimilados e transformados para que a organização desenvolva novas capacidades oriundas da Acap. De tal modo, o processo de aprendizagem deve ocorrer de forma efetiva, uma vez que, se os conhecimentos adquiridos não forem integrados ou transformados por meio da capacidade de absorção, o resultado da aplicação poderá não ser significativo à organização (Song, 2015Song, Z. (2015). Organizational learning, absorptive capacity, imitation and innovation: Empirical analyses of 115 firms across China. Chinese Management Studies, 9(1), 97-113. doi:10.1108/CMS-05-2014-0092
https://doi.org/10.1108/CMS-05-2014-0092...
).

No contexto de organizações do setor de tecnologia no Brasil, o processo de Acap acontece de forma contínua e a partir da AO por meio de mecanismos de integração social. O fluxo do conhecimento é considerado um elemento-chave tanto da AO quanto de todas as etapas da Acap, porém entende-se que o conhecimento pode não ser absorvido da mesma forma entre as organizações que pertencem ao mesmo ambiente, visto que cada uma possui particularidades na internalização do conhecimento (Picoli & Takahashi, 2016Picoli, F. R., & Takahashi, A. (2016). Capacidade de absorção, aprendizagem organizacional e mecanismos de integração social. Revista de Administração Contemporânea, 20(1), 1-20. doi:10.1590/1982-7849rac2016140036
https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2016...
). Sendo assim, é oportuno compreender a relação da capacidade de AIO com a Racap.

Desenvolver condições favoráveis para a apropriação de conhecimento oriundo das redes interorganizacionais, por meio da construção de novas capacidades e da relação com o conhecimento individual já existente internamente, torna-se o papel central das organizações. O mesmo se pode propor acerca da aplicação desse novo conhecimento que promove o desenvolvimento de novas capacidades (Cassol et al., 2019Cassol, A., Zanesco, D., Martins, C. B., & Marietto, M. L. (2019). Capacidade absortiva como moderadora da relação entre inovatividade organizacional e desempenho inovador de pequenas e médias empresas brasileiras. Interciencia, 44(1), 15-22.). Deduzimos que é possível compreender que a AIO ocorre a partir da interação das organizações com outros atores e que esse relacionamento pode influenciar o desenvolvimento da Racap. Sendo assim, propõe-se o seguinte:

  • Hipótese 2: A AIO das PMEs do setor de TIC está positivamente relacionada à Racap.

  • H2a: A AIO das PMEs do setor de TIC está positivamente relacionada à capacidade de transformação de conhecimento.

  • H2b: A AIO das PMEs do setor de TIC está positivamente relacionada à capacidade de aplicação de conhecimento.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa busca compreender a influência da AIO na Pacap e Racap no ambiente das PMEs do setor de TIC no estado de Santa Catarina. Como método de pesquisa, utilizamos uma survey com questionários validados em estudos nacionais e internacionais, com os quais realizaram-se pré-testes previamente. Todos os constructos do instrumento de pesquisa foram medidos utilizando-se escala do tipo Likert de sete pontos, com opções de respostas variando de "discordo fortemente (1)" a "concordo fortemente (7)".

Os dados foram coletados em PMEs de TICs localizadas no estado de Santa Catarina, com até 99 empregados, segundo critérios definidos pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - Sebrae (2017). Os questionários foram enviados de forma on-line.

Para maior precisão na estimativa de um tamanho mínimo de amostra, utilizou-se o programa G*Power 3.1.9.2. O tamanho do poder da amostra foi avaliado considerando o cálculo a priori da coleta de dados (Faul, Erdfelder, Lang, & Buchner, 2007Faul, F., Erdfelder, E., Lang, A. G., & Buchner, A. (2007). G*Power 3: A flexible statistical power analysis program for the social, behavioral, and biomedical sciences. Behavior Research Methods, 39(2), 175-191. doi:10.3758/BF03193146
https://doi.org/10.3758/BF03193146...
). O tamanho mínimo da amostra sugerido por G*Power foi de 55 casos, mas, como sugestão de se ter um modelo mais consistente, seria interessante utilizar o dobro ou o triplo desse número de casos (Ringle, Silva, & Bido, 2014Ringle, C. M., Silva, D., & Bido, D. D. S. (2014). Modelagem de equações estruturais com utilização do SmartPLS. Revista Brasileira de Marketing, 13(2), 56-73. doi: 10.5585/remark.v13i2.2717
https://doi.org/10.5585/remark.v13i2.271...
). Assim, o tamanho da amostra da pesquisa foi de 215 respondentes, proporcionando um poder estatístico para detectar a existência de um suposto relacionamento entre as variáveis investigadas. A amostra caracterizou-se como probabilística simples, em que se adotaram parâmetros estatísticos a fim de garantir que todos os elementos fossem escolhidos de forma aleatória (Rea & Parker, 2000Rea, J., & Parker, A. (2000). Metodologia da pesquisa em ciências sociais. São Paulo: Pioneira & Thompson.), com igual probabilidade de serem selecionados.

A amostra caracterizou-se por respondentes do gênero masculino (70%) com graduação ou pós-graduação (65%) apresentando até 35 anos de idade (81%). Desses, 28,37% atuam como administradores e 71,63% exercem funções de liderança. Grande parte das empresas investigadas (54%) está ativa no mercado há menos de dez anos. Dos respondentes, obtivemos a seguinte distribuição: 47,9% são organizações que atuam em atividades relacionadas aos serviços de tecnologia da informação, 15,8% atuam em atividades de prestação de serviços de informação e 8,9% atuam em outras atividades relacionadas ao setor investigado.

Como variável independente, adotou-se o constructo da AIO definido de acordo com Holmqvist (2003)Holmqvist, M. (2003). A dynamic model of intra-and interorganizational learning. Organization Studies, 24(1), 95-123. doi:10.1177/0170840603024001684
https://doi.org/10.1177/0170840603024001...
. As variáveis propostas para medir o constructo de AIO são oriundas do estudo de Valentin (2010)Valentin, S. M. F. A. (2010). Aprendizagem como estoques e fluxos de conhecimento em organizações que integram redes de informação e conhecimento científico em saúde (Dissertação de mestrado, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil)., que é suportado por Holmqvist (2003)Holmqvist, M. (2003). A dynamic model of intra-and interorganizational learning. Organization Studies, 24(1), 95-123. doi:10.1177/0170840603024001684
https://doi.org/10.1177/0170840603024001...
e Jones e Machperson (2005)Jones, O., & Macpherson, A. (2005). Power and inter-organizational learning: Intertwining new knowledge [Working Paper]. Manchester Metropolitan University Business School, Manchester, UK., e avaliadas e validadas por um grupo de especialistas e profissionais que atuam em organizações que operam em redes de informação e conhecimento científico e técnico. A Figura 3.1 apresenta as variáveis usadas para medir o constructo da AIO.

Figura 3.1
VARIÁVEIS DO CONSTRUCTO AIO

Como variável dependente para a compreensão do contexto de Acap, adaptou-se o questionário validado na pesquisa de Flatten, Engelen et al. (2011)Flatten, T. C., Greve, G. I., & Brettel, M. (2011). Absorptive capacity and firm performance in SMEs: The mediating influence of strategic alliances. European Management Review, 8(3), 137-152. doi:10.1111/j.1740-4762.2011.01015.x
https://doi.org/10.1111/j.1740-4762.2011...
. Os autores recomendam uma medida multidimensional composta pelas dimensões da aquisição, assimilação, transformação e aplicação, por meio de sua pesquisa survey realizada com 360 empresas alemãs de setores de pesquisa intensiva, haja vista que a Acap é especialmente importante para esse tipo de organização. Os autores argumentam que futuras pesquisas são necessárias a fim de desenvolver e levantar fatores e novos instrumentos de mensuração da Acap em países e setores diferentes, que não seja a indústria, que detém a maior parte dos estudos existentes. No Brasil, a escala foi traduzida, adaptada e aplicada por Koerich et al. (2015)Koerich, G. V., Cancellier, É. L. P., & Tezza, R. (2015). Capacidade de absorção, turbulência ambiental e desempenho organizacional: Um estudo em empresas varejistas catarinenses. Revista de Administração Mackenzie, 16(3), 238. doi:10.1590/1678-69712015/administracao.v16n3p238-267
https://doi.org/10.1590/1678-69712015/ad...
, com 230 empresas de varejo na região da Grande Florianópolis. A Figura 3.2 apresenta as variáveis da pesquisa.

Figura 3.2
DIMENSÕES E VARIÁVEIS DO CONSTRUCTO CAPACIDADE ABSORTIVA

No processamento e na análise dos dados, utilizaram-se a estatística do SPSS versão de software 22.0 para análise descritiva e o Smart PLS 3.0 (Ringle, Wende, & Will, 2005Ringle, C. M., Wende, S., & Will, A. (2005). Smart PLS 2.0 M3. Hamburg: University of Hamburg.) para a análise das relações entre as variáveis latentes (VL). Optou-se pela técnica de modelagem de equações estruturais baseada em modelos de estimação de ajuste de mínimos quadrados parciais (partial least square - PLS) - Figura 3.3. O uso do SEM-PLS permite testar caminhos causais entre VL de segunda ordem, além de oferecer recursos extensivos, escalonáveis e flexíveis de modelagem causal (Lowry & Gaskin, 2014Lowry, P. B., & Gaskin, J. (2014). Partial least squares (PLS) structural equation modeling (SEM) for building and testing behavioral causal theory: When to choose it and how to use it. IEEE Transactions on Professional Communication, 57(2), 123-146. doi: 10.1109/TPC.2014.2312452
https://doi.org/10.1109/TPC.2014.2312452...
). A técnica é recomendada para modelos mais complexos, ou seja, com muitos constructos e muitas variáveis observadas (Ringle et al., 2014) e com menor número de dados, como se observa nesta pesquisa.

Figura 3.3
MODELO TEÓRICO DAS HIPÓTESES

Para atingir os objetivos deste estudo, estimou-se a Acap com um modelo reflexivo para as VL de segunda ordem, que são modeladas de acordo com a Abordagem dos Componentes Hierárquicos (Wetzels, Odekerken-Schröder, & Van Oppen, 2009Wetzels, M., Odekerken-Schröder, G., & Van Oppen, C. (2009). Using PLS path modeling for assessing hierarchical construct models: Guidelines and empirical illustration. MIS Quarterly, 33(1), 177-195. doi:10.2307/20650284
https://doi.org/10.2307/20650284...
; Hair, Hult, Ringle, & Sarstedt, 2016Hair J. F., Jr., Hult, G. T. M., Ringle, C., & Sarstedt, M. (2016). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). Los Angeles: Sage.). O modelo reflexivo para Acap é compartilhado por estudos anteriores (Flatten, Engelen et al., 2011Flatten, T. C., Greve, G. I., & Brettel, M. (2011). Absorptive capacity and firm performance in SMEs: The mediating influence of strategic alliances. European Management Review, 8(3), 137-152. doi:10.1111/j.1740-4762.2011.01015.x
https://doi.org/10.1111/j.1740-4762.2011...
; Leal-Rodríguez, Ariza-Montes, Roldán, & Leal-Millán, 2014Leal-Rodríguez, A. L., Ariza-Montes, J. A., Roldán, J. L., & Leal-Millán, A. G. (2014). Absorptive capacity, innovation and cultural barriers: A conditional mediation model. Journal of Business Research, 67(5), 763-768. doi:10.1016/j.jbusres.2013.11.041
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2013.1...
; Hernández-Perlines, Moreno-García, & Yáñez-Araque, 2016Hernández-Perlines, F., Moreno-García, J., & Yañez-Araque, B. (2016). The mediating role of competitive strategy in international entrepreneurial orientation. Journal of Business Research, 69(11), 5383-5389. doi:10.1016/j.jbusres.2016.04.142
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2016.0...
).

4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

As VL deste estudo foram modeladas de modo reflexivo (Wetzels et al., 2009Wetzels, M., Odekerken-Schröder, G., & Van Oppen, C. (2009). Using PLS path modeling for assessing hierarchical construct models: Guidelines and empirical illustration. MIS Quarterly, 33(1), 177-195. doi:10.2307/20650284
https://doi.org/10.2307/20650284...
; Hair et al., 2016Hair J. F., Jr., Hult, G. T. M., Ringle, C., & Sarstedt, M. (2016). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). Los Angeles: Sage.). Para a avaliação do modelo de mensuração, inicialmente todos os indicadores foram utilizados na mensuração dos constructos e seguiram-se os critérios propostos pela literatura. Foram analisadas a validade convergente (AVE > 0,5), a validade discriminante pelo critério de Fornell-Larcker e a confiabilidade alfa de Cronbach (CA > 0,7) e confiabilidade composta (CR > 0,7) (Ringle, Sarstedt, & Straub, 2012Ringle, C. M., Sarstedt, M., & Straub, D. (2012). A critical look at the use of PLS-SEM. MIS Quarterly, 36, 3-14. Recuperado de http://www.jstor.org/stable/41410402
http://www.jstor.org/stable/41410402...
; Hair et al., 2016; Henseler, Ringle, & Sinkovics, 2009Henseler, J., Ringle, C. M., & Sinkovics, R. R. (2009). The use of partial least squares path modeling in international marketing. In R. R. Sinkovics & P. N. Ghauri (Eds.). New challenges to international marketing. Bingley, UK: Emerald Group. doi:10.1108/S1474-7979(2009)0000020014
https://doi.org/10.1108/S1474-7979(2009)...
; Hair, Black, Babin, Anderson, & Tatham, 2009Hair J. F., Jr., Black, W. C., Babin, B. J., Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2009). Análise multivariada de dados. Porto Alegre: Bookman.).

Após a análise dos betas, excluíram-se algumas variáveis do modelo, sendo: no constructo Pacap, três variáveis da dimensão aquisição (AQ1 = 0,543; AQ2 = 0,443; AQ3 = 0,645) e seis variáveis da dimensão assimilação (AS13 = 0,511; AS14 = 0,457; AS15 = 0,557; AS16 = 0,645; AS17 = 0,534; AS18 = 0,453). No constructo Racap, foram excluídas três variáveis da dimensão de transformação (TR20 = 0,568; TR21 = 0,621; TR31 = 0,613) e nenhuma variável da dimensão aplicação. No constructo AIO, também não se excluiu nenhuma variável, obtendo-se a estrutura da análise final.

A partir da análise da validade convergente, da validade discriminante e da confiabilidade, os resultados indicaram uma avaliação positiva do modelo de mensuração. Desse modo, é possível afirmar que as VL foram adequadamente mensuradas e as variáveis que se mantiveram no modelo cumprem os requisitos de validade e confiabilidade, conforme Figura 4.1.

Figura 4.1
MATRIZ DE CORRELAÇÕES ENTRE AS VARIÁVEIS LATENTES

Calcularam-se os coeficientes estruturais por meio do software SmartPLS 3.0.M3 (Ringle et al., 2005Ringle, C. M., Wende, S., & Will, A. (2005). Smart PLS 2.0 M3. Hamburg: University of Hamburg.), e os valores p foram estimados por bootstrap, considerando-se uma amostra de 215 casos e mil reamostragens, para que se pudessem obter intervalos de confiança para avaliar a significância dos coeficientes estimados. Os resultados do modelo estrutural estão ilustrados na Figura 4.2.

Figura 4.2
MODELO ESTRUTURAL FINAL

A Figura 4.3 reúne as estatísticas das relações estruturais. Os coeficientes de caminho indicam o quanto os constructos se relacionam entre si. Observamos os valores de β: os valores que variam de -1,0 a +1,0 indicam respectivamente relação negativa ou positiva entre dois constructos (Hair, Sarstedt, Hopkins, & Kuppelwieser, 2014Hair J. F., Jr., Sarstedt, M., Hopkins, L., & G. Kuppelwieser, V. (2014). Partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). European Business Review, 26(2), 106-121. doi:10.1108/ebr-10-2013-0128
https://doi.org/10.1108/ebr-10-2013-0128...
). No modelo testado, observamos uma relação forte entre os constructos pesquisados. Para que o beta seja aceito, é preciso testar a relação causal entre dois constructos e verificar se é significante ou não. Sendo assim, utilizamos o teste t de Student (t > 1,96) (Hair et al., 2009Hair J. F., Jr., Black, W. C., Babin, B. J., Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2009). Análise multivariada de dados. Porto Alegre: Bookman.).

Figura 4.3
PARÂMETROS DA ESTRUTURA QUANTITATIVA DA PESQUISA

Os resultados suportam a hipótese de que a AIO das PMEs está positivamente relacionada à Pacap e, consequentemente, à aquisição e assimilação de novos conhecimentos. Essa relação pode ser explicada porque as PMEs que buscam conhecimentos e aprendem com seus parceiros tornam-se mais rápidas e flexíveis para responder aos desafios do mercado competitivo no qual estão inseridas (Jiménez-Jiménez & Sanz-Valle, 2011Jiménez-Jiménez, D., & Sanz-Valle, R. (2011). Innovation, organizational learning, and performance. Journal of Business Research, 64(4), 408-417. doi:10.1016/j.technovation.2010.12.002
https://doi.org/10.1016/j.technovation.2...
), o que é perce bido no ambiente em que as empresas de tecnologia atuam.

A partir das variáveis que permaneceram no modelo final, foi possível evidenciar algumas práticas presentes nas rotinas das empresas investigadas, isso em virtude de os respondentes (gestores) afirmarem que suas empresas realizam essas ações em suas organizações. No que se refere às práticas relacionadas à Pacap na aquisição de conhecimentos, as empresas habitualmente buscam informações sobre o seu setor de atuação e estimulam os funcionários a fazer o mesmo, o que ocorre por meio da inserção em redes de colaboração, como participação em eventos, capacitações, presença em associações, entre outras possibilidades. Ao analisarmos a capacidade de assimilação de conhecimentos, percebemos que as empresas investigadas possuem práticas de troca de conhecimentos entre colaboradores e setores, como reuniões periódicas para compartilhamento de novos conhecimentos, problemas ou resultados. As empresas também fazem uso de ferramentas como intranet, estudos internos e relatórios para difundir conhecimentos e informações entre todos os colaboradores.

A segunda hipótese também confirmou que a AIO das PMEs está positivamente relacionada à Racap e à transformação e aplicação do conhecimento adquirido e internalizado. Nesse processo, a Racap evolui por meio de AIO, pois quanto maior o nível de capacitação técnica, experiência e conhecimento dos colaboradores ao longo do tempo, mais aptos eles estarão para assimilar e transformar novos aprendizados em habilidades adquiridas nas relações interorganizacionais (Todorova & Durisin, 2007Todorova, G., & Durisin, B. (2007). Absorptive capacity: Valuing a reconceptualization. Academy of Management Review, 32(3), 774-786. doi:10.5465/AMR.2007.25275513
https://doi.org/10.5465/AMR.2007.2527551...
).

Ao analisarmos as práticas presentes nas empresas investigadas, observamos que a capacidade de transformação do conhecimento é verificada por meio de políticas de incentivo à formação e aprendizagem contínua dos colaboradores. As empresas promovem a combinação de ideias e conhecimentos entre setores para resolução de problemas e fazem uso de ferramentas e metodologias capazes de aprimorar o conhecimento e assegurar a competitividade do negócio, além de ficar evidente que os seus colaboradores são capazes de aplicar os novos conhecimentos em seu trabalho prático no dia a dia. Complementando a Racap, verificamos a capacidade de aplicação de conhecimentos das empresas, em que ficou evidente a inserção de novos processos, produtos ou serviços no mercado. As empresas desenvolvem protótipos, transformam ideias inovadoras em soluções e patentes, reconsideram tecnologias e as adaptam de acordo com os novos conhecimentos.

A Pacap e Racap são interativas e cada um dos seus componentes contribui para o desenvolvimento do outro; e as interações entre as dimensões trazem à vida o conceito da Acap (Koçoglu et al., 2015Koçoglu, I., Akgün, A. E., & Keskin, H. (2015). The differential relationship between absorptive capacity and product innovativeness: A theoretically derived framework. International Business Research, 8(7), 108. doi:10.5539/ibr.v8n7p108
https://doi.org/10.5539/ibr.v8n7p108...
). No contexto das PMEs de TIC investigadas neste estudo, tanto a Acap (aquisição, assimilação, transformação e aplicação) quanto os processos de AIO ocorrem em etapas que estão inter-relacionadas. As capacidades de aquisição e assimilação (Pacap) que proporcionam a absorção de um novo conhecimento apresentam processos de aprendizagem que suportam a Racap, pois dão início à reflexão, à discussão e ao desenvolvimento de novos conhecimentos. Por fim, a Racap, que se refere à legitimação do conhecimento novo, compreende todos os fluxos processuais anteriores, estando inter-relacionada com a aquisição, pois incorpora o novo conhecimento que passa a fazer parte da rotina da empresa, criando novos processos e práticas. Posteriormente, ao confirmarmos as hipóteses da relação positiva entre AIO, Racap e Pacap, evidenciamos a inter-relação das dimensões da Acap e sua dependência dos fluxos de AIO em PMEs.

4.1 Discussão dos resultados

A literatura propõe que a construção da Acap é baseada em processos de aprendizagem que são direcionados à aquisição, assimilação, transformação e aplicação de conhecimentos externos (Lane et al., 2006Lane, P. J., Koka, B. R., & Pathak, S. (2006). The reification of absorptive capacity: A critical review and rejuvenation of the construct. Academy of Management Review, 31(4), 833-863. doi:10.5465/AMR.2006.22527456
https://doi.org/10.5465/AMR.2006.2252745...
; Camisón & Forés, 2010Camisón, C., & Forés, B. (2010). Knowledge absorptive capacity: New insights for its conceptualization and measurement. Journal of Business Research, 63(7), 707-715. doi:10.1016/j.jbusres.2009.04.022
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2009.0...
). Seguindo essa lógica, a formação e o desenvolvimento da Acap também dependerão da consolidação de um ambiente de aprendizagem na organização, nos quais se destacariam as práticas de aprendizagem (Gebauer et al., 2012Gebauer, H., Worch, H., & Truffer, B. (2012). Absorptive capacity, learning processes and combinative capabilities as determinants of strategic innovation. European Management Journal, 30(1), 57-73. doi:10.1016/j.emj.2011.10.004
https://doi.org/10.1016/j.emj.2011.10.00...
). As relações interorganizacionais são capazes de influenciar o nível de desenvolvimento de novas competências e possuem forte influência sobre o desenvolvimento da Acap. Em um relacionamento interorganizacional, cada empresa parceira traz a colaboração de um conjunto de capacidades e conhecimento prévio (Dutta, 2012Dutta, D. K. (2012). Inter-organizational relationships and firm performance: Impact of complementary knowledge and relative absorptive capacity. Journal of Management Policy and Practice, 13(2), 46-55.). Ambas as capacidades de absorção, potencial e realizada, são cumulativas e dependem da AIO, conforme evidenciado nos resultados deste estudo.

Os esforços das organizações estão em desenvolver a capacidade de absorção em um período e torná-la mais fácil de acumulá-la no próximo (Cohen & Levinthal, 1990Cohen, W. M., & Levinthal, D. A. (1990). Absorptive capacity: A new perspective on learning and innovation. Administrative Science Quarterly, 35(1), 128-152. doi:10.2307/2393553
https://doi.org/10.2307/2393553...
). Assim, a Acap não é estática, mas evolui por meio de processos de aprendizagem (Todorova & Durisin, 2007Todorova, G., & Durisin, B. (2007). Absorptive capacity: Valuing a reconceptualization. Academy of Management Review, 32(3), 774-786. doi:10.5465/AMR.2007.25275513
https://doi.org/10.5465/AMR.2007.2527551...
), que se evidenciaram nesta pesquisa a partir das práticas das PMEs investigadas.

Com base na perspectiva teórica da AIO suportada pela atuação em rede, a pesquisa de Ernst (2010)Ernst, D. (2010). Upgrading through innovation in a small network economy: Insights from Taiwan's IT industry. Economics of Innovation and New Technology, 19(4), 295-324. doi:10.1080/10438590802469560
https://doi.org/10.1080/1043859080246956...
evidenciou que o desempenho de uma organização é significativamente aumentado pela sua centralidade na rede. A partir de oportunidades de aprendizagem compartilhada, transferência de conhecimento e troca de informações, a aquisição e utilização de novos conhecimentos tornam-se mecanismos-chave para a AIO. Percebe-se que, a partir da interação com parceiros estratégicos, surgem novas oportunidades, o que fortalece a competitividade do setor.

Um estudo realizado com organizações do setor de TIC nos Estados Unidos evidenciou que os fluxos de conhecimentos são fortalecidos nos estágios avançados de relacionamento com os parceiros estratégicos, aumentando a capacidade das empresas em identificar e assimilar conhecimento. Os resultados reforçam que a Acap das empresas de tecnologia está diretamente relacionada com AIO (Schildt et al., 2012Schildt, H., Keil, T., & Maula, M. (2012). The temporal effects of relative and firm-level absorptive capacity on interorganizational learning. Strategic Management Journal, 33(10), 1154-1173. doi:10.1002/smj.1963
https://doi.org/10.1002/smj.1963...
).

Em investigação realizada com empresas do Brasil, da China e da África do Sul, constatou-se o papel das redes de relacionamento como fator determinante para o processo de aprendizagem e inserção das empresas em diferentes mercados, sendo a atuação em redes relevante para o crescimento das empresas de tecnologia pertencentes a esses países emergentes (Zonta & Amal, 2017Zonta, T. C., & Amal, M. (2017). Institutions, networks and the international growth of born globals from emerging markets. Anais do XLI Encontro da Anpad, São Paulo, SP, Brasil.).

Nesta pesquisa, corroborando os achados das pesquisas mencionadas, evidenciou-se que a AIO no ambiente das PMEs de tecnologia se fortalece por meio da atuação em redes com outras organizações do mesmo setor. Ficou evidente a prática de atuação em rede para atualizar e desenvolver as metodologias e tecnologias existentes nas empresas. Verificamos que as empresas têm a percepção de que os produtos e serviços produzidos e utilizados de forma cooperativa e em rede são mais eficazes e fortalecem a estratégia das organizações.

Os resultados desta pesquisa forneceram suporte à compreensão de que a AIO no ambiente de PMEs no setor de TIC é fundamental para o desenvolvimento de novas capacidades, neste estudo observada pela Acap. Os achados desta pesquisa poderão contribuir para a discussão de Acap no ambiente de PMEs ainda pouco explorado (Cassol et al., 2016Cassol, A., Gonçalo, C. R., & Ruas, R. L. (2016). Redefining the relationship between intellectual capital and innovation: The mediating role of absorptive capacity. BAR-Brazilian Administration Review, 13(4), 2-25. doi:10.1590/1807-7692bar2016150067
https://doi.org/10.1590/1807-7692bar2016...
; Koerich & Cancellier, 2017Koerich, G. V., & Cancellier, E. L. P. de L. (2017). Capacidade de absorção: Levantamento e análise de pesquisas quantitativas e principais constructos relacionados. Seminários de Administração, São Paulo, SP, Brasil, 20.; Cassol et al., 2019Cassol, A., Zanesco, D., Martins, C. B., & Marietto, M. L. (2019). Capacidade absortiva como moderadora da relação entre inovatividade organizacional e desempenho inovador de pequenas e médias empresas brasileiras. Interciencia, 44(1), 15-22.), bem como ampliar a investigação em ambientes de economias de países emergentes, como o Brasil (Flatten et al., 2011Flatten, T. C., Greve, G. I., & Brettel, M. (2011). Absorptive capacity and firm performance in SMEs: The mediating influence of strategic alliances. European Management Review, 8(3), 137-152. doi:10.1111/j.1740-4762.2011.01015.x
https://doi.org/10.1111/j.1740-4762.2011...
).

A presente pesquisa contribuiu também para a construção de um corpo teórico junto às pesquisas já existentes (Lane et al., 2006Lane, P. J., Koka, B. R., & Pathak, S. (2006). The reification of absorptive capacity: A critical review and rejuvenation of the construct. Academy of Management Review, 31(4), 833-863. doi:10.5465/AMR.2006.22527456
https://doi.org/10.5465/AMR.2006.2252745...
; Camisón & Forés, 2010Camisón, C., & Forés, B. (2010). Knowledge absorptive capacity: New insights for its conceptualization and measurement. Journal of Business Research, 63(7), 707-715. doi:10.1016/j.jbusres.2009.04.022
https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2009.0...
; Melkas, Uotila, & Kallio, 2010Melkas, H., Uotila, T., & Kallio, A. (2010). Information quality and absorptive capacity in service and product innovation processes. Interdisciplinary Journal of Information, Knowledge, and Management, 5, 357-374.; Flatten et al., 2011Flatten, T. C., Greve, G. I., & Brettel, M. (2011). Absorptive capacity and firm performance in SMEs: The mediating influence of strategic alliances. European Management Review, 8(3), 137-152. doi:10.1111/j.1740-4762.2011.01015.x
https://doi.org/10.1111/j.1740-4762.2011...
; Mukherji & Silberman, 2013Mukherji, N., & Silberman, J. (2013). Absorptive capacity, knowledge flows, and innovation in US metropolitan areas. Journal of Regional Science, 53(3), 392-417. doi:10.1111/jors.12022
https://doi.org/10.1111/jors.12022...
; Koçoglu et al., 2015Koçoglu, I., Akgün, A. E., & Keskin, H. (2015). The differential relationship between absorptive capacity and product innovativeness: A theoretically derived framework. International Business Research, 8(7), 108. doi:10.5539/ibr.v8n7p108
https://doi.org/10.5539/ibr.v8n7p108...
), potencializando a compreensão a respeito de como promover a Acap, apoiada por processos de aprendizagem.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta investigação explorou a relação entre a AIO e a Acap no ambiente de PMEs de TIC. Evidenciou-se, por meio dos testes das hipóteses, a existência da influência positiva da AIO na Pacap e Racap.

O estudo também constatou que, mesmo nas PMEs, o aprendizado gerado pode aumentar a capacidade das organizações em absorver algo novo. Uma vez que o conhecimento é compreendido e incorporado, ele eleva o nível de conhecimento existente na organização, ampliando, assim, as possibilidades de AIO, conforme evidenciado por meio da confirmação das hipóteses da pesquisa. No entanto, destacamos que a Acap e a AIO diferem entre as organizações. Ainda que a fonte de conhecimento seja a mesma para as organizações presentes na rede, o ambiente intraorganizacional e suas características internas impactam o modo como o conhecimento novo é recebido e utilizado.

Por fim, uma vez que a base conceitual de Acap tem sido construída com a prática efetiva das organizações e enriquecida com novos elementos oriundos de estudos empíricos, buscamos com este estudo tornar mais consistente a discussão sobre Acap e AIO em organizações brasileiras, proporcionando novos insights e contribuição para os meios acadêmico e gerencial.

Algumas limitações evidenciadas neste estudo podem ser identificadas a partir da perspectiva quantitativa, que não proporciona a evidenciação detalhada das práticas presentes nas organizações. As que foram investigadas estão inseridas em um ambiente que possui características peculiares no estado de Santa Catarina no que se refere à formalização de um ecossistema direcionado ao desenvolvimento inovador. Sugerimos para futuros estudos a utilização da base conceitual de AIO e sua relação com a Acap no universo de PMEs presentes em outros estados brasileiros, bem como em outras economias em desenvolvimento, a fim de investigar a influência das práticas de AO na formação de novas competências, como a Acap.

REFERENCES

  • Apriliyanti, I. D., & Alon, I. (2017). Bibliometric analysis of absorptive capacity. International Business Review, 26(5), 896-907. doi:10.1016/j.ibusrev.2017.02.007
    » https://doi.org/10.1016/j.ibusrev.2017.02.007
  • Argote, L., & Ophir, R. (2002). Intraorganizational learning. In J. A. C. Baum (Ed.), The Blackwell companion to organizations (pp. 181-207). Oxford: Blackwell Business.
  • Caccia-Bava, M. D., Guimarães, T., & Harrington, S. J. (2006). Hospital organization culture, capacity to innovate and success in technology adoption. Journal of Health Organization and Management, 20(3), 194-217. doi:10.1108/14777260610662735
    » https://doi.org/10.1108/14777260610662735
  • Camisón, C., & Forés, B. (2010). Knowledge absorptive capacity: New insights for its conceptualization and measurement. Journal of Business Research, 63(7), 707-715. doi:10.1016/j.jbusres.2009.04.022
    » https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2009.04.022
  • Cassol, A., Gonçalo, C. R., & Ruas, R. L. (2016). Redefining the relationship between intellectual capital and innovation: The mediating role of absorptive capacity. BAR-Brazilian Administration Review, 13(4), 2-25. doi:10.1590/1807-7692bar2016150067
    » https://doi.org/10.1590/1807-7692bar2016150067
  • Cassol, A., Zanesco, D., Martins, C. B., & Marietto, M. L. (2019). Capacidade absortiva como moderadora da relação entre inovatividade organizacional e desempenho inovador de pequenas e médias empresas brasileiras. Interciencia, 44(1), 15-22.
  • Child, J. (2001). Learning through strategic alliance. In M. Dierkes, A. B. Antal, J. Child, & I. Nonaka (Eds.), Handbook of organizational learning and knowledge (pp. 657-680). Oxford: Oxford University Press.
  • Cohen, W. M., & Levinthal, D. A. (1990). Absorptive capacity: A new perspective on learning and innovation. Administrative Science Quarterly, 35(1), 128-152. doi:10.2307/2393553
    » https://doi.org/10.2307/2393553
  • Cooper, C. L., & Rousseau, D. M. (Eds.). (1999). Trends in organizational behavior: The virtual organization (Vol. 6). New York: Wiley.
  • Crossan, M. M., Lane, H. W., & White, R. E. (1999). An organizational learning framework: From intuition to institution. Academy of Management Review, 24(3), 522-537. doi:10.5465/AMR.1999.2202135
    » https://doi.org/10.5465/AMR.1999.2202135
  • Crossan, M. M., Mauer, C. C., & White, R. E. (2011). Reflections on the 2009 AMR decade award: Do we have a theory of organizational learning? Academy of Management Review, 36(3), 446-460. doi:10.5465/amr.2010.0544
    » https://doi.org/10.5465/amr.2010.0544
  • Dutta, D. K. (2012). Inter-organizational relationships and firm performance: Impact of complementary knowledge and relative absorptive capacity. Journal of Management Policy and Practice, 13(2), 46-55.
  • Easterby-Smith, M., & Lyles, M. A. (Eds.). (2011). Handbook of organizational learning and knowledge management Chichester: Wile.
  • Ernst, D. (2010). Upgrading through innovation in a small network economy: Insights from Taiwan's IT industry. Economics of Innovation and New Technology, 19(4), 295-324. doi:10.1080/10438590802469560
    » https://doi.org/10.1080/10438590802469560
  • Faul, F., Erdfelder, E., Lang, A. G., & Buchner, A. (2007). G*Power 3: A flexible statistical power analysis program for the social, behavioral, and biomedical sciences. Behavior Research Methods, 39(2), 175-191. doi:10.3758/BF03193146
    » https://doi.org/10.3758/BF03193146
  • Ferreira, G. C., & Ferreira, J. J. (2017). Absorptive capacity: An analysis in the context of Brazilian family firms. Revista de Administração Mackenzie, 18(1), 174-204. doi: 10.1590/1678-69712017/administracao.v18n1p174-204
    » https://doi.org/10.1590/1678-69712017/administracao.v18n1p174-204
  • Fiol, C. M., & Lyles, M. A. (1985). Organizational learning. Academy of Management Review, 10(4), 803-813.
  • Flatten, T. C., Engelen, A., Zahra, S. A., & Brettel, M. (2011). A measure of absorptive capacity: Scale development and validation. European Management Journal, 29(2), 98-116. doi:10.1016/j.emj.2010.11.002
    » https://doi.org/10.1016/j.emj.2010.11.002
  • Flatten, T. C., Greve, G. I., & Brettel, M. (2011). Absorptive capacity and firm performance in SMEs: The mediating influence of strategic alliances. European Management Review, 8(3), 137-152. doi:10.1111/j.1740-4762.2011.01015.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1740-4762.2011.01015.x
  • Fletcher, M., & Prashantham, S. (2011). Knowledge assimilation processes of rapidly internationalizing firms: Longitudinal case studies of Scottish SMEs. Journal of Small Business and Enterprise Development, 18(3), 475-501. doi:10.1108/14626001111155673
    » https://doi.org/10.1108/14626001111155673
  • Fredrich, V., Bouncken, R. B., & Kraus, S. (2018). The race is on: Configurations of absorptive capacity, interdependence and slack resources for interorganizational learning in coopetition alliances. Journal of Business Research, 101, 862-868. doi:10.1016/j.jbusres.2018.11.038
    » https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2018.11.038
  • Gebauer, H., Worch, H., & Truffer, B. (2012). Absorptive capacity, learning processes and combinative capabilities as determinants of strategic innovation. European Management Journal, 30(1), 57-73. doi:10.1016/j.emj.2011.10.004
    » https://doi.org/10.1016/j.emj.2011.10.004
  • Hair J. F., Jr., Black, W. C., Babin, B. J., Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2009). Análise multivariada de dados Porto Alegre: Bookman.
  • Hair J. F., Jr., Hult, G. T. M., Ringle, C., & Sarstedt, M. (2016). A primer on partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM) Los Angeles: Sage.
  • Hair J. F., Jr., Sarstedt, M., Hopkins, L., & G. Kuppelwieser, V. (2014). Partial least squares structural equation modeling (PLS-SEM). European Business Review, 26(2), 106-121. doi:10.1108/ebr-10-2013-0128
    » https://doi.org/10.1108/ebr-10-2013-0128
  • Henseler, J., Ringle, C. M., & Sinkovics, R. R. (2009). The use of partial least squares path modeling in international marketing. In R. R. Sinkovics & P. N. Ghauri (Eds.). New challenges to international marketing Bingley, UK: Emerald Group. doi:10.1108/S1474-7979(2009)0000020014
    » https://doi.org/10.1108/S1474-7979(2009)0000020014
  • Hernández-Perlines, F., Moreno-García, J., & Yañez-Araque, B. (2016). The mediating role of competitive strategy in international entrepreneurial orientation. Journal of Business Research, 69(11), 5383-5389. doi:10.1016/j.jbusres.2016.04.142
    » https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2016.04.142
  • Holmqvist, M. (2003). A dynamic model of intra-and interorganizational learning. Organization Studies, 24(1), 95-123. doi:10.1177/0170840603024001684
    » https://doi.org/10.1177/0170840603024001684
  • Ireland, R. D., Hitt, M. A., & Vaidyanath, D. (2002). Alliance management as a source of competitive advantage. Journal of Management, 28(3), 413-446. doi:10.1016/S0149-2063(02)00134-4
    » https://doi.org/10.1016/S0149-2063(02)00134-4
  • Jain, S., Kashiramka, S., & Jain, P. K. (2018). Impact of organizational learning and absorptive capacity on the abnormal returns of acquirers: Evidence from cross-border acquisitions by Indian companies. Global Journal of Flexible Systems Management, 19(4), 289-303. doi:10.1007/s40171-018-0193-9
    » https://doi.org/10.1007/s40171-018-0193-9
  • Jansen, J. J., Van Den Bosch, F. A., & Volberda, H. W. (2005). Managing potential and realized absorptive capacity: How do organizational antecedents matter? Academy of Management Journal, 48(6), 999-1015. doi:10.1007/BF03396721
    » https://doi.org/10.1007/BF03396721
  • Jiménez-Jiménez, D., & Sanz-Valle, R. (2011). Innovation, organizational learning, and performance. Journal of Business Research, 64(4), 408-417. doi:10.1016/j.technovation.2010.12.002
    » https://doi.org/10.1016/j.technovation.2010.12.002
  • Jones, O., & Macpherson, A. (2005). Power and inter-organizational learning: Intertwining new knowledge [Working Paper]. Manchester Metropolitan University Business School, Manchester, UK.
  • Jung-Erceg, P., Pandza, K., Armbruster, H., & Dreher, C. (2007). Absorptive capacity in European manufacturing: a Delphi study. Industrial Management & Data Systems, 107(1), 37-51. doi:10.1108/02635570710719043
    » https://doi.org/10.1108/02635570710719043
  • Koçoglu, I., Akgün, A. E., & Keskin, H. (2015). The differential relationship between absorptive capacity and product innovativeness: A theoretically derived framework. International Business Research, 8(7), 108. doi:10.5539/ibr.v8n7p108
    » https://doi.org/10.5539/ibr.v8n7p108
  • Koerich, G. V., & Cancellier, E. L. P. de L. (2017). Capacidade de absorção: Levantamento e análise de pesquisas quantitativas e principais constructos relacionados. Seminários de Administração, São Paulo, SP, Brasil, 20.
  • Koerich, G. V., Cancellier, É. L. P., & Tezza, R. (2015). Capacidade de absorção, turbulência ambiental e desempenho organizacional: Um estudo em empresas varejistas catarinenses. Revista de Administração Mackenzie, 16(3), 238. doi:10.1590/1678-69712015/administracao.v16n3p238-267
    » https://doi.org/10.1590/1678-69712015/administracao.v16n3p238-267
  • Lane, P. J., Koka, B. R., & Pathak, S. (2006). The reification of absorptive capacity: A critical review and rejuvenation of the construct. Academy of Management Review, 31(4), 833-863. doi:10.5465/AMR.2006.22527456
    » https://doi.org/10.5465/AMR.2006.22527456
  • Larsson, R., Lars Bengtsson, K. H., & Sparks, J. (1998). The interorganizational learning dilemma: Collective knowledge development in strategic alliances. Organization Science 9(3), 285-305. doi:10.1287/orsc.9.3.285
    » https://doi.org/10.1287/orsc.9.3.285
  • Leal-Rodríguez, A. L., Ariza-Montes, J. A., Roldán, J. L., & Leal-Millán, A. G. (2014). Absorptive capacity, innovation and cultural barriers: A conditional mediation model. Journal of Business Research, 67(5), 763-768. doi:10.1016/j.jbusres.2013.11.041
    » https://doi.org/10.1016/j.jbusres.2013.11.041
  • Lowry, P. B., & Gaskin, J. (2014). Partial least squares (PLS) structural equation modeling (SEM) for building and testing behavioral causal theory: When to choose it and how to use it. IEEE Transactions on Professional Communication, 57(2), 123-146. doi: 10.1109/TPC.2014.2312452
    » https://doi.org/10.1109/TPC.2014.2312452
  • Melkas, H., Uotila, T., & Kallio, A. (2010). Information quality and absorptive capacity in service and product innovation processes. Interdisciplinary Journal of Information, Knowledge, and Management, 5, 357-374.
  • Mozzato, A. R., & Bitencourt, C. C. (2014). Understanding interorganizational learning based on social spaces and learning episodes. Brazilian Administration Review, 11(3), 284-301. doi:10.1590/1807-7692bar2014370
    » https://doi.org/10.1590/1807-7692bar2014370
  • Mozzato, A. R., Bitencourt, C. C., & Grzybovski, D. (2015). The interorganizational level in the learning continuum: Analytic conceptual scheme. International Business Research, 8(4), 94. doi:10.5539/ibr.v8n4p94
    » https://doi.org/10.5539/ibr.v8n4p94
  • Mukherji, N., & Silberman, J. (2013). Absorptive capacity, knowledge flows, and innovation in US metropolitan areas. Journal of Regional Science, 53(3), 392-417. doi:10.1111/jors.12022
    » https://doi.org/10.1111/jors.12022
  • Nonaka, I., & Von Krogh, G. (2009). Perspective tacit knowledge and knowledge conversion: Controversy and advancement in organizational knowledge creation theory. Organization science, 20(3), 635-652. doi:10.1287/orsc.1080.0412
    » https://doi.org/10.1287/orsc.1080.0412
  • Oliveira, S. R., & Balestrin, A. (2018). Cooperação universidade-empresa: Um estudo do projeto Unisinos - HT Micron para o desenvolvimento de capacidade absortiva na área de semicondutores. Gestão & Produção, 25(3), 595-609. doi:10.1590/0104-530x1018-13
    » https://doi.org/10.1590/0104-530x1018-13
  • Otto, P. (2012). Dynamics in strategic alliances: A theory on interor ganizational learning and knowledge development. International Journal of Information Technologies and Systems Approach, 5(1), 74-86. doi:10.4018/jitsa.2012010105
    » https://doi.org/10.4018/jitsa.2012010105
  • Patterson, W., & Ambrosini, V. (2015). Configuring absorptive capacity as a key process for research intensive firms. Technovation, 36, 77-89. doi:10.10 16/j.technovation.2014.10.003
    » https://doi.org/10.10 16/j.technovation.2014.10.003
  • Picoli, F. R., & Takahashi, A. (2016). Capacidade de absorção, aprendizagem organizacional e mecanismos de integração social. Revista de Administração Contemporânea, 20(1), 1-20. doi:10.1590/1982-7849rac2016140036
    » https://doi.org/10.1590/1982-7849rac2016140036
  • Rea, J., & Parker, A. (2000). Metodologia da pesquisa em ciências sociais São Paulo: Pioneira & Thompson.
  • Ringle, C. M., Sarstedt, M., & Straub, D. (2012). A critical look at the use of PLS-SEM. MIS Quarterly, 36, 3-14. Recuperado de http://www.jstor.org/stable/41410402
    » http://www.jstor.org/stable/41410402
  • Ringle, C. M., Silva, D., & Bido, D. D. S. (2014). Modelagem de equações estruturais com utilização do SmartPLS. Revista Brasileira de Marketing, 13(2), 56-73. doi: 10.5585/remark.v13i2.2717
    » https://doi.org/10.5585/remark.v13i2.2717
  • Ringle, C. M., Wende, S., & Will, A. (2005). Smart PLS 2.0 M3 Hamburg: University of Hamburg.
  • Schildt, H., Keil, T., & Maula, M. (2012). The temporal effects of relative and firm-level absorptive capacity on interorganizational learning. Strategic Management Journal, 33(10), 1154-1173. doi:10.1002/smj.1963
    » https://doi.org/10.1002/smj.1963
  • Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (2017). Anuário do trabalho nos pequenos negócios: 2015. Brasília, São Paulo: Sebrae. Recuperado de https://www.dieese.org.br/anuario/2017/anuarioDosTrabalhadoresPequenosNegocios.pdf
    » https://www.dieese.org.br/anuario/2017/anuarioDosTrabalhadoresPequenosNegocios.pdf
  • Song, Z. (2015). Organizational learning, absorptive capacity, imitation and innovation: Empirical analyses of 115 firms across China. Chinese Management Studies, 9(1), 97-113. doi:10.1108/CMS-05-2014-0092
    » https://doi.org/10.1108/CMS-05-2014-0092
  • Sparrow, J., Tarkowski, K., Lancaster, N., & Mooney, M. (2009). Evolving knowledge integration and absorptive capacity perspectives upon university-industry interaction within a university. Education and Training, 51(8), 648-664. doi:10.1108/00400910911005217
    » https://doi.org/10.1108/00400910911005217
  • Teece, D., Pisano, G., & Shuen, A. (1997). Dynamic capabilities and strategic managerial. Strategic Managerial Journal, 18(7), 509-533. doi:10.1002/(SICI)1097-0266(199708)18:7<509::AID-SMJ882>3.0.CO;2-Z
    » https://doi.org/10.1002/(SICI)1097-0266(199708)18:7<509::AID-SMJ882>3.0.CO;2-Z
  • Teixeira, E. K., Oliveira, M., & Curado, C. M. M. (2018). Knowledge management process arrangements and their impact on innovation. Business Information Review, 35(1), 29-38. doi:10.1177/0266382118757771
    » https://doi.org/10.1177/0266382118757771
  • Todorova, G., & Durisin, B. (2007). Absorptive capacity: Valuing a reconceptualization. Academy of Management Review, 32(3), 774-786. doi:10.5465/AMR.2007.25275513
    » https://doi.org/10.5465/AMR.2007.25275513
  • Tracey, P., & Clark, G. L. (2003). Alliances, networks and competitive strategy: Rethinking clusters of innovation. Growth and Change, 34(1), 1-16. doi:10.1111/1468-2257.00196
    » https://doi.org/10.1111/1468-2257.00196
  • Valentin, S. M. F. A. (2010). Aprendizagem como estoques e fluxos de conhecimento em organizações que integram redes de informação e conhecimento científico em saúde (Dissertação de mestrado, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil).
  • Vinding, A. L. (2006). Absorptive capacity and innovative performance: A human capital approach. Economics of Innovation and New Technology, 15(4-5), 507-517. doi: 10.1080/10438590500513057
    » https://doi.org/10.1080/10438590500513057
  • Wang, C. F., & Zhang, P. (2009). An empirical study on the relationship between properties of knowledge, network topology and corporation innovation performance. International Conference on Management Science and Engineering, Moscow. doi: 10.1109/ICMSE.2009.5318085
    » https://doi.org/10.1109/ICMSE.2009.5318085
  • Wetzels, M., Odekerken-Schröder, G., & Van Oppen, C. (2009). Using PLS path modeling for assessing hierarchical construct models: Guidelines and empirical illustration. MIS Quarterly, 33(1), 177-195. doi:10.2307/20650284
    » https://doi.org/10.2307/20650284
  • Zahra, S. A., & George, G. (2002). Absorptive capacity: A review, reconceptualization, and extension. Academy of Management Review, 27(2), 185-203. doi:10.5465/amr.2002.6587995
    » https://doi.org/10.5465/amr.2002.6587995
  • Zonta, T. C., & Amal, M. (2017). Institutions, networks and the international growth of born globals from emerging markets. Anais do XLI Encontro da Anpad, São Paulo, SP, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Fev 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    14 Mar 2019
  • Aceito
    22 Jan 2020
Editora Mackenzie; Universidade Presbiteriana Mackenzie Rua da Consolação, 896, Edifício Rev. Modesto Carvalhosa, Térreo - Coordenação da RAM, Consolação - São Paulo - SP - Brasil - cep 01302-907 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista.adm@mackenzie.br