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Abordagens pedagógicas e tendências de mudanças nas escolas médicas

Pedagogical approach and change trends in medical schools

Resumos

A Abem, por intermédio da Caem, toma a iniciativa de promover a avaliação das tendências de mudanças nas escolas médicas brasileiras, tendo por objetivo impulsionar a construção de um processo avaliativo, que, além de diagnosticar o momento das escolas, permita auxiliar e acompanhar a evolução das mudanças, sem perder de vista o objetivo de melhorar a qualidade da assistência prestada à saúde da população brasileira. Este projeto conta com um instrumento que apresenta 17 vetores distribuídos em cinco eixos relevantes na formação do médico. Um destes é o das Abordagens Pedagógicas, que abrange métodos de construção e acompanhamento do processo pedagógico, buscando identificar a tendência do processo de ensino-aprendizagem, avaliativo e de orientação didático-pedagógica, verificando se é mais centrada no professor ou no estudante, com uso ou não de tutorias. Cada escola pôde se classificar como tradicional, inovadora ou avançada, de acordo com as alternativas para cada vetor que compõe o eixo.

Educação médica; avaliação de programas; tutoria; currículo; metodologia


Through Caem, Abem is promoting the evaluation of change trends in Brazilian Medical Schools in order to build up an evaluation process capable of diagnosing each school's moment and following-up its development attaining to its mission, which is improving the health care provided to the Brazilian population. This project tool presents seventeen directions distributed over five axles relevant for medical education. One of these is the Pedagogical Approach which focuses building and following-up methods to identify the teaching - learning process and evaluation. Is the pedagogical approach student - centered, or teacher - centered? Are tutorials present? The schools can then be classified as traditional, innovative or advanced.

Medical education; program evaluation; preceptorship; curriculum; methodology


SIMPÓSIO: PROJETO DE AVALIAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DAS MUDANÇAS DE GRADUAÇÃO DA ÁREA CAEM/ABEM

PESQUISA

Abordagens pedagógicas e tendências de mudanças nas escolas médicas

Pedagogical approach and change trends in medical schools

Rinaldo Henrique Aguilar-da-SilvaI; Gianna Lepre PerimII; Ively Guimarães AbdallaIII; Nilce Maria da Silva Campos CostaIV; Jadete Barbosa LampertV; Regina Celes de Rosa StellaIII,* * Os autores compõem a Comissão de Avaliação das Escolas Médicas da Associação Brasileira de Educação Médica – Caem/Abem.

IFaculdade de Medicina de Marília. São Paulo, Brasil

IIUniversidade Estadual de Londrina, Paraná, Brasil; Ministério do Esporte, Secretaria Nacional de Esporte Educacional. Distrito Federal, Brasil

IIIUniversidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil

IVUniversidade Federal de Goiás, Goiás, Brasil

VUniversidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Rinaldo Henrique Aguilar-da-Silva Av. Rio Branco, 360 – aptº 1102 – Centro CEP: 17500-090 – Marília – SP E-mail: aguilar@famema.br Apoio: Convênio n 1614/2007 – Fundo Nacional de Saúde/MS.

RESUMO

A Abem, por intermédio da Caem, toma a iniciativa de promover a avaliação das tendências de mudanças nas escolas médicas brasileiras, tendo por objetivo impulsionar a construção de um processo avaliativo, que, além de diagnosticar o momento das escolas, permita auxiliar e acompanhar a evolução das mudanças, sem perder de vista o objetivo de melhorar a qualidade da assistência prestada à saúde da população brasileira. Este projeto conta com um instrumento que apresenta 17 vetores distribuídos em cinco eixos relevantes na formação do médico. Um destes é o das Abordagens Pedagógicas, que abrange métodos de construção e acompanhamento do processo pedagógico, buscando identificar a tendência do processo de ensino-aprendizagem, avaliativo e de orientação didático-pedagógica, verificando se é mais centrada no professor ou no estudante, com uso ou não de tutorias. Cada escola pôde se classificar como tradicional, inovadora ou avançada, de acordo com as alternativas para cada vetor que compõe o eixo.

Palavras-chave: Educação médica; avaliação de programas; tutoria; currículo; metodologia

ABSTRACT

Through Caem, Abem is promoting the evaluation of change trends in Brazilian Medical Schools in order to build up an evaluation process capable of diagnosing each school's moment and following-up its development attaining to its mission, which is improving the health care provided to the Brazilian population. This project tool presents seventeen directions distributed over five axles relevant for medical education. One of these is the Pedagogical Approach which focuses building and following-up methods to identify the teaching – learning process and evaluation. Is the pedagogical approach student – centered, or teacher – centered? Are tutorials present? The schools can then be classified as traditional, innovative or advanced.

Keywords: Medical education; program evaluation; preceptorship; curriculum; methodology.

INTRODUÇÃO

Nas discussões e reflexões sobre a formação do profissional médico no curso de graduação frente às necessidades básicas de saúde, são considerados aspectos conceptuais de relevância que permeiam a construção e a execução dos programas curriculares. Estes são identificados como relevantes com base em estudos existentes na área de educação médica, encerrando áreas temáticas que direcionam as ações para a formação do médico na graduação em acordo com as diretrizes curriculares1. A tese de Lampert2 identifica eixos de um processo de construção de mudanças das instituições de ensino médico na direção da transformação do paradigma flexneriano para o paradigma da integralidade, tendendo para uma aproximação da formação de profissionais de saúde voltados para as necessidades da Atenção Básica.

Pela forma como isto é observado e/ou percebido na implementação do programa curricular, pode-se, pela predominância de ações, abalizar tendências do curso de graduação para seguir um rumo mais tradicional, hegemônico, nos moldes flexnerianos, ou uma direção mais inovadora e mesmo mais avançada, a caminho de reformas transformadoras, na construção do paradigma da integralidade. A meta é, pois, oferecer uma formação que atenda às recomendações em educação médica contempladas nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o curso de graduação em Medicina, de modo que, ao final do curso de graduação, o grau de médico atribuído seja condizente com a formação recebida para atender às necessidades da população brasileira e dar os encaminhamentos necessários dentro do sistema de saúde com referências e contrarreferências.

Partindo do pressuposto de que a educação crítica é promotora de mudança e uma forma de intervenção no mundo que se faz por meio do diálogo constante com o outro, da permanente revisão e análise crítica da realidade, busca-se, então, tornar o sujeito cada vez mais "consciente de sua transitividade, que deve ser usada tanto quanto possível criticamente". E, assim, conduzir o sujeito a adotar outra atitude frente aos problemas de seu tempo e espaço3.

Dessa forma, o currículo adotado pelo projeto pedagógico é compreendido como um "projeto seletivo de cultura, social, política e administrativamente condicionado, que preenche a atividade escolar e que se torna realidade dentro das condições da escola tal como se acha configurada"4. Assim, para que o currículo propicie o sentido emancipatório, precisa ser entendido como uma práxis e, portanto, considerado um mediador "entre a sociedade exterior às escolas e as práticas sociais concretas que nelas se exercitam como consequência do desenvolvimento do currículo"4. Neste projeto isto pôde ser avaliado mediante um instrumento em que as abordagens pedagógicas foram estudadas dentro de três vetores: Estrutura Curricular, Orientação Didática e Apoio e Tutoria.

A estrutura curricular abordou desde os currículos tradicionalmente organizados em ciclos básicos e profissionalizantes, passando pela realização de algumas estratégias integradoras, até os currículos integrados com áreas de prática real em diversos níveis de atenção à saúde.

A orientação didática esteve configurada em aulas expositivas com práticas isoladas, passando por alguma integração multidisciplinar e avançando para a utilização de métodos ativos de ensino-aprendizagem com ênfase na realidade dos serviços de saúde e abordagem multidisciplinar.

Finalmente, apoio e tutoria como uma estratégia de trabalho em pequeno grupo, orientada pela resolução de problemas e amparada por uma estrutura física e material que suportem a realização desta estratégia.

Considerando assim a proposta de avaliação da escola médica que busca um currículo integrado, com uso de metodologias ativas e tutorias, resolução de problemas em pequenos grupos e interdisciplinaridade, esta deve se configurar numa atividade permanente e dinâmica do processo de ensino-aprendizagem, que permita acompanhar este processo, visualizar avanços, detectar dificuldades e, por fim, realizar as intervenções necessárias em tempo útil. Este aspecto de autoavaliação e avaliação interpares com ampla participação dos segmentos, incluindo a comunidade civil organizada, fortalece o compromisso e a responsabilidade social junto à sociedade.

Saul5 defende uma proposta avaliativa que foge aos paradigmas clássicos, definida como avaliação emancipatória. Sustenta que o compromisso principal desta avaliação é fazer com que as pessoas, direta ou indiretamente envolvidas por uma ação educacional, escrevam sua própria história e gerem suas próprias alternativas de ação. Defende que a conscientização é o que orienta um fazer pedagógico emancipador de uma organização, que vê seus membros como sujeitos capazes de, criticamente, desenvolver suas próprias ações.

Portanto, a proposta de Saul5 representa o esforço de determinado segmento de teóricos da avaliação, que buscam construir um novo paradigma de avaliação.

Diante desta realidade, é preciso um posicionamento pessoal, responsável e radical do sujeito comprometido com a construção, como afirma Belloni6:

[ ] uma sistemática de avaliação que vise o aperfeiçoamento da qualidade da educação – isto é, do ensino, da aprendizagem – com a finalidade de transformar a escola atual em uma instituição voltada e comprometida com a aprendizagem de todos e com a transformação da sociedade em uma sociedade realmente democrática.

A avaliação deve ser um processo contínuo e de responsabilidade de todos, uma vez que o resultado esperado é a aprendizagem organizacional e dos sujeitos. Sacristán7 define que:

Avaliar se refere a qualquer processo por meio do qual alguma ou várias características de um estudante, de um grupo de estudantes, de um ambiente educativo, de objetivos educacionais, de materiais, professores, programas, etc. recebem a atenção de quem avalia, analisando-se e valorizando-se suas características e condições em função de alguns critérios ou pontos de referência para emitir um juízo que seja relevante para a educação.

A avaliação não é um fim em si mesma, mas deve possibilitar a análise da realidade para focar as ações com a finalidade de refletir sobre essa realidade na perspectiva da reconstrução da ação. Patton8 propõe nesta direção a ponderação avaliativa como uma forma de pensar sobre a conexão entre a ação e a reflexão.

MÉTODO

O instrumento de avaliação de tendências de mudanças das escolas médicas adotado pela Caem foi respondido pelos atores sociais de cada escola: representantes docentes, discentes e técnico-administrativos e da comunidade externa local. Cada vetor apresentou três situações alternativas (tradicional, inovadora e avançada para as transformações). As escolas puderam classificar-se em cada um dos três níveis. A tradicional corresponde a características de um ensino tradicional, flexneriano; a inovadora apresenta inovações, buscando adequar-se às mudanças; e a avançada apresenta características predominantemente de mudanças implantadas, que estão de acordo com as DCN. No mesmo exercício, a cada situação predominante são identificadas as justificativas e as evidências da alternativa escolhida. O instrumento, o método e a descrição dos vetores podem ser consultados no artigo Projeto de avaliação de tendências de mudanças no curso de graduação nas escolas médicas brasileiras (Lampert et al., p.5-18), disponível nesta revista.

Este trabalho apresenta os resultados do eixo 3, Abordagens Pedagógicas, no conjunto do curso de graduação, composto dos seguintes vetores: Estrutura Curricular; Orientação Didática; Apoio e Tutoria.

RESULTADOS

Os resultados apresentados no Quadro 1 e no Gráfico 1 demonstram a percepção dos atores sociais de um grupo de 28 escolas médicas brasileiras quanto às tendências de mudança em relação ao eixo Abordagens Pedagógicas, e deste no contexto dos projetos pedagógicos. Além da classificação dos vetores, as escolas apresentaram justificativas e evidências (Quadros 2, 3 e 4) que indicam as fragilidades e as potencialidades que interferem nas abordagens pedagógicas que tratam dos métodos de construção e acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem, buscando identificar a tendência deste processo por meio da avaliação dos vetores de Estrutura Curricular, Orientação Didática, e Apoio e Tutoria.






Em relação às alternativas percebidas como predominantes no eixo Abordagem Pedagógica:

No vetor Estrutura Curricular, a maioria das escolas (46,42%) se classificou como avançada, ou seja, tem currículos em grande parte integrados com áreas de prática real; as demais escolas (39,29%) se classificaram como inovadoras, tendo disciplinas integradoras, mas mantendo a organização em ciclo básico e ciclo clínico; e 14,29% se classificaram como tradicionais, com ciclos básicos e profissionalizantes bem separados e organizados por disciplinas.

O vetor Orientação Didática também apresenta a maior parte das escolas (57,14%) como avançadas, assumindo que adotam métodos de aprendizagem ativos, com ênfase na realidade de saúde e com abordagem multidisciplinar, além de possuírem serviços e espaços de prática comunitária que avaliam conhecimento, habilidades e atitudes e com autoavaliação. Outros 25% das escolas se classificaram como inovadoras, enfatizando ainda aulas teóricas com alguma integração multidisciplinar, mas com práticas ainda centradas em habilidades no âmbito hospitalar. Finalmente, 14,29% das escolas assumiram que possuem aulas teóricas de exposição em disciplinas isoladas, com práticas predominantemente demonstrativas e centradas no professor.

No vetor Apoio e Tutoria, a maioria das escolas (60,71%) se encontra como inovadora, proporcionando condições físicas e materiais de apoio ao processo ensino-aprendizagem, e oferece ensino realizado em pequenos grupos em rodízio por várias disciplinas. Outras 32,14% das escolas estão no nível avançado, possuindo condições adequadas de espaço físico e materiais para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, oferecendo tutorias com análise e solução de problemas baseados em situações reais. No nível tradicional, 7,15% das escolas assumem não proporcionar condições físicas e materiais de apoio ao processo de ensino-aprendizagem (biblioteca, salas, laboratórios, recursos audiovisuais e de informática, biotério, etc.) e não oferecem tutoria.

O Gráfico 2 apresenta o eixo Abordagens Pedagógicas e a tipologia de tendências de mudanças com a percepção de cada escola quanto ao percentual da alternativa predominante.


DISCUSSÃO

Atualmente, tanto no Brasil como em vários países, questiona-se o papel do sistema educacional, incluindo o universitário, no processo de formação das pessoas na sociedade, bem como de sua articulação com setores específicos desta9,10.

A educação não comporta mais uma bagagem escolar baseada em volume de conteúdos, o que é pouco operacional e inadequado. O que se acumula no começo da vida deve ser constantemente atualizado e aprofundado, pois vivemos um período em que as mudanças ocorrem com grande velocidade. Ressalta-se também que a educação, para dar resposta ao conjunto de suas missões, deve se organizar em torno de quatro aprendizagens fundamentais, que serão ao longo da vida os quatro pilares do conhecimento: aprender a conhecer (ou aprender a aprender, adquirir os instrumentos de compreensão), aprender a fazer (para poder agir sobre o meio envolvente), aprender a viver juntos (a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas) e aprender a ser (via essencial que integra as três precedentes)11.

Na busca de favorecer esta visão ampliada de saúde com a formação de sujeitos ativos comprometidos com a transformação da realidade e com a complexidade que a caracteriza, é necessário introduzir novas formas de organizar os currículos e produzir o conhecimento, antes representado pela disciplinaridade, ou seja, baseado na fragmentação do objeto e com crescente especialização do sujeito científico12.

Neste contexto, as abordagens pedagógicas aqui apresentadas têm o propósito de ampliar a visão das escolas médicas, na intenção de superar a visão dos ciclos básico/profissionalizante, teórico/prático, disciplinar/multidisciplinar, centrado no professor/centrado no estudante.

No vetor Estrutura Curricular constata-se que a maioria das escolas está no nível avançado (46,42%), seguido pelo inovador (34,29%). As principais justificativas e evidências apresentadas se referem à capacidade de integração disciplinar e à diversificação dos cenários de prática. Em relação à prática, algumas das justificativas se referem ao aumento do tempo destinado à sua realização.

A interdisciplinaridade presente nas abordagens pedagógicas avançadas possibilita ampliar a capacidade humana de compreender a realidade e os problemas que nela se apresentam. Em se tratando do conhecimento que fundamenta as práticas dos profissionais médicos, a interdisciplinaridade favorece articular o conhecimento de várias áreas com os seus saberes e os seus fazeres, de forma a dar mais sentido à teoria, ampliar a compreensão dos problemas de saúde e, consequentemente, melhorar a prática.

Ainda, segundo Perrenoud13, a integração entre teoria e prática não decorre magicamente da simples sucessão de tempo de formação e de tempo de estágios; ao contrário, a integração ocorre de fato quando os cenários utilizados são reais e permitem uma imersão do estudante, que passa a ser capaz de medir a distância entre a sua formação e as condições da prática.

A tendência de avanço continuou a ser verificada no vetor Orientação Didática, no qual a maioria das escolas (57,14%) se classificou. As justificativas e evidências apontam o uso de métodos ativos de ensino-aprendizagem, diversificação do corpo docente e participação dos estudantes nas estratégias curriculares.

A concepção do aprender a aprender como um processo evolutivo coloca nas decisões do homem contemporâneo a capacidade e a responsabilidade de ser um co-construtor de um projeto de aprendizagem desejado. A convivência com o excesso de informações impostas pelo mundo atual não nos deixa alternativa que não a de desenvolver estratégias para "aprender a aprender". Sobre a aprendizagem significativa, a orientação de Morin14 é: "todo o nosso ensino tende para o programa, ao passo que a vida exige estratégia e, se possível, serendipidade e arte". Assim, a predisposição à descoberta e à criação dificilmente poderá ser possibilitada por uma abordagem pedagógica rígida e centrada nos conteúdos e professores.

Finalmente, no vetor Apoio e Tutoria, constata-se que a maioria das escolas (60,71%) se encontra no nível inovador, seguida por 14,29% no nível avançado. Este resultado se deve ao número de escolas que conseguiram implantar métodos ativos de ensino-aprendizagem, com trabalhos em pequenos grupos e resolução de problemas. Assim, apesar de a grande maioria reconhecer que possui condições físicas e materiais para trabalhos em pequenos grupos, estes ainda ocorrem de maneira disciplinar. Mas é necessário ressaltar a grande fortaleza do trabalho em pequeno grupo, em que o professor passa a ser o mediador e os conhecimentos são produzidos fazendo com que o professor e o estudante aprendam conjuntamente. A esse respeito, Amâncio15 esclarece:

Entendo o educador como um mediador no processo de construção de conhecimento avançando para a noção de emancipação social que esse conhecimento poderá proporcionar aos sujeitos problematizadores de suas realidades.

Portanto, diante dessas contínuas mudanças que vêm ocorrendo na prática acadêmica, das novas modalidades de abordagens pedagógicas implantadas pelas instituições e das dificuldades de gestores, docentes, discentes e técnico-administrativos de trabalhar suas resiliências, coloca-se a possibilidade de processos avaliativos como o da Caem para evidenciar as contribuições das propostas educativas ao sistema de saúde e as necessidades internas de melhoria da graduação. Assim, um segundo momento deste processo avaliativo já está sendo implantado e estará alicerçado na construção de indicadores quantitativos e qualitativos que suportem as escolhas feitas por cada escola no instrumento inicial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As 28 escolas médicas que participaram da pesquisa demonstraram interesse na construção deste momento avaliativo. Num segundo momento, serão construídos indicadores qualitativos e quantitativos que suportarão as escolhas feitas. Até agora, neste eixo das Abordagens Pedagógicas, pôde-se verificar que estas escolas caminham em direção aos avanços de uma construção curricular mais centrada no estudante e orientada pelo desenvolvimento da prática profissional. Entretanto, se por um lado as escolas apontaram fortalezas, como a criação de grupos de construção/revisão curricular, adequação da estrutura física e maior participação discente, por outro ainda se percebe a grande influência histórico-cultural na formação dos profissionais médicos em virtude do modelo flexneriano que sempre foi utilizado.

Recebido em: 02/07/2008

Reencaminhado em: 20/12/2008

Aprovado em: 09/01/2009

CONFLITOS DE INTERESSE

Declarou não haver

  • 1
    Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Ensino Superior. Resolução CNE/CES nº 4 de 7 de novembro de 2001. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina. Brasília; 2001.
  • 2. Lampert JB. Tendência de mudança na Educação Médica no Brasil: tipologia das escolas. São Paulo, Hucitec; Rio de Janeiro: Abem; 2002.
  • 3. Freire P. Educação como prática de liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2006.
  • 4. Sacristán JG. Aproximação ao conceito de currículo. In: ____. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed; 1998. p.1353.
  • 5. Saul AM. Avaliação emancipatória: desafio à teoria e à prática de avaliação e reformulação de currículo. São Paulo: Cortez; 1994.
  • 6. Belloni I. Avaliação Institucional: um instrumento de democratização da educação. Linhas Críticas. 1999;5(9):7-30.
  • 7. Sacristán JG. O currículo: os conteúdos do ensino ou uma análise prática? In: Sacristán JG, Pérez Gómez AL. Compreender e transformar o ensino. 4Ş ed. Porto Alegre: Artmed;1998. p. 119-48.
  • 8. Patton MQ. The Roots of Utilization-Focused Evaluation. In: Alkin MC (Ed.) Evaluation Roots: tracing theorists views and influences. Thousand Oaks: Sage Publications; 2004. p.276-92.
  • 9
    Unesco. Educação: um tesouro a descobrir. 4ª ed. São Paulo: Corte; Brasília: MEC/UNESCO; 2000. cap. 4.
  • 10. Santos BS. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. 6Ş ed. São Paulo: Cortez; 1999.
  • 11. Delors J. (Org.). Educação: um tesouro a descobrir: relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. 4Ş.ed. São Paulo: Cortez; 2000.
  • 12. Almeida Filho N. Transdiciplinaridade e saúde pública. Ciênc saúde coletiva. 1997;2(1/2): 5-20.
  • 13. Perrenoud P. A qualidade de uma formação profissional é executada primeiramente em sua concepção. Texto de uma intervenção no âmbito do "Encontro dos profissionais da saúde" organizado pelo CEFIEC. Marseille, 21 de novembro de 1997.
  • 14. Morin E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 2.Ş ed. São Paulo: Cortez; 2000.
  • 15. Amâncio C O da G. Educação popular e intervenção comunitária: contribuições para a reflexão sobre empoderamento. Anais da 27Ş. Reunião Anual da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Educação; 2004, Caxambu. Rio de Janeiro:ANPED; 2004. v.1
  • Endereço para correspondência:
    Rinaldo Henrique Aguilar-da-Silva
    Av. Rio Branco, 360 – aptº 1102 – Centro
    CEP: 17500-090 – Marília – SP
    E-mail:
    Apoio: Convênio n 1614/2007 – Fundo Nacional de Saúde/MS.
  • *
    Os autores compõem a Comissão de Avaliação das Escolas Médicas da Associação Brasileira de Educação Médica – Caem/Abem.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Jun 2009
    • Data do Fascículo
      2009

    Histórico

    • Aceito
      09 Jan 2009
    • Recebido
      02 Jul 2008
    Associação Brasileira de Educação Médica SCN - QD 02 - BL D - Torre A - Salas 1021 e 1023 | Asa Norte, Brasília | DF | CEP: 70712-903, Tel: (61) 3024-9978 / 3024-8013, Fax: +55 21 2260-6662 - Brasília - DF - Brazil
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