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Editorial

EDITORIAL EDITORIAL

José da Rocha Carvalheiro

Morreu Guilherme Rodrigues da Silva, ex-Presidente da Abrasco e um dos mais influentes intelectuais da Saúde Coletiva brasileira e latino-americana. Com produção acadêmica reconhecida e valorizada, Guilherme foi liderança maior na construção da Reforma Sanitária Brasileira que teve seu apogeu na VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, da qual foi o Relator. Sintonizado com a luta da sociedade por melhores condições de vida, exerceu diversos cargos relevantes, dos quais destacamos a Superintendência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, maior centro de atendimento hospitalar da América Latina. Guilherme associava uma vida intelectual intensa a uma expressiva atividade na formulação política e na ação concreta na área da saúde. Um verdadeiro dirigente. Este número da RBE aparece em luto fechado pela morte desse membro de seu Comitê Editorial, presença permanente em nossa memória.

Para homenagear Guilherme Rodrigues da Silva publicamos, além de diversas manifestações de pesar, um de seus textos expressivos no campo da Epidemiologia. Transcrição de conferência pronunciada em importante evento científico no início da década de oitenta do século XX, esse trabalho foi pouco divulgado e aparece em nossa seção de Gavetas e Prateleiras.

A ameaça à saúde global é cada vez mais presente, com a descrição da gripe em aves migratórias e sua difusão em aves domésticas confinadas. Atingindo pessoas na Ásia e, mais recentemente, na Europa e na África. Prosseguindo na linha editorial iniciada no último número da RBE, em dezembro de 2005, publicamos uma seção especial coordenada por Maria Rita Donalísio, com diversas opiniões de especialistas brasileiros sobre questões essenciais desse processo endemo-epidêmico. Esse debate continuará em números sucessivos. Neste, apresentamos: (1) Perspectivas da vigilância virológica no Brasil, Terezinha Maria Paiva, do Laboratório de Vírus Respiratórios, Instituto Adolfo Lutz, São Paulo; (2) Possíveis mutações do vírus H5N1 e sua adaptação na transmissão inter-humana, Rita Catarina Medeiros Souza, do Núcleo de Medicina Tropical, Universidade Federal do Pará e Laboratório de Vírus Respiratórios, Instituto Evandro Chagas; (3) Aspectos clínicos da influenza aviária, Luiz Jacintho da Silva, do Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Ciências Médicas, Unicamp; (4) Eficácia da terapêutica antiviral em casos humanos, Dirceu Bartolomeu Greco, do Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais; (5) Perspectiva da produção da vacina no Brasil, Isaias Raw, do Instituto Butantan, São Paulo.

Na seção de Debates, prosseguimos na publicação de contribuições à polêmica sobre o "papel de filtro" do médico generalista no sistema de saúde. Redefinimos o processo de discussão, indicando dois professores da Faculdade de Medicina da USP para conduzi-lo, Sandra Grisi e Paulo Elias. Neste número colhemos mais uma contribuição ao debate, da prestigiada intelectual norte-americana Bárbara Starfield.

Iniciamos novo debate, com a publicação de um texto sobre o conceito de "problema de saúde" de autoria de dois professores da Universidade Federal de Pelotas, Juvenal Dias da Costa e César Victora. Esperamos contribuições dos leitores.

No âmago deste número, na seção de trabalhos originais que passaram pelo processo regular de peer review, estamos publicando onze artigos. O aumento no fluxo de trabalhos não tem diminuído a presteza de nossos Editores Associados e revisores ad hoc. Mantivemos a regularidade e aumentamos o número de artigos, o que prenuncia para breve um possível acréscimo na freqüência tornando a RBE bimestral. Meta plausível para 2008, quando já tivermos superado os dez anos de existência. Como tem sido regular em nossa RBE: não há nenhum artigo de autor solitário; a média de autores por artigo é de 3,1; as mulheres predominam (67,7%); a distribuição temática e metodológica continua com grande diversidade; há um trabalho encaminhado do exterior, Rosário, na Argentina; dois trabalhos do Nordeste (Ceará e Rio Grande do Norte); outros dois do Sul (Santa Catarina e Rio Grande do Sul); seis do Sudeste (Espírito Santo, Rio de Janeiro, quatro de São Paulo).

Um dos trabalhos, de duas autoras da Unicamp, analisa a mortalidade por doenças respiratórias em idosos e sua relação temporal com as campanhas de vacinação contra inluenza.

O trabalho, de duas pesquisadoras do Instituto de Salud Juan Lazarte e Universidad Nacional de Rosário, Argentina, trata de uma discussão teórica e metodológica sobre os modelos de níveis múltiplos e sua aplicação nos estudos das desigualdades no "processo saúde/doença/cuidados", como preferem chamar o fenômeno.

Dois trabalhos transitam pela discussão das condições de uso de bancos de dados e sistemas de informação em estudos epidemiológicos (de mortalidade infantil). Um deles, de pesquisadores paulista, da USP (FSP e FM), da FEA/PUC e da Fundação SEADE, preocupa-se com a falta de aprimoramento do Sistema de Informações em Mortalidade (SIM) quanto à omissão de informações ligados aos óbitos perinatais, mesmo aqueles ocorridos em estabelecimentos hospitalares. Outro, de professores da Universidade Federal do Ceará, associados a autores pertencentes à Secretaria de Saúde do Estado do Ceará e de uma Secretaria Municipal de Saúde (de Maracanaú), estabelece a ligação (linkage) entre bancos de dados de nascidos vivos e de óbitos infantis, para estudar fatores de risco.

Um trabalho, de autores de Ribeirão Preto, São Paulo, da Faculdade de Medicina da USP e do Instituto Adolfo Lutz locais, analisa fezes de cães que freqüentam áreas públicas para identificar seu "potencial zoonótico", de protozoários e helmintos.

Dois trabalhos discutem alterações posturais de coluna vertebral em escolares e sintomatologia dolorosa em trabalhadores da indústria têxtil. O primeiro foi realizado, em Tangará (SC) por autores que pertencem à Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC). O segundo, no município de Santa Cruz (RN), por autores que pertencem à Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Dois trabalhos dedicam-se à área de fatores de risco de neoplasmas. Um deles, de autores da Universidade Federal de Pelotas e da Universidade Federal de Rio Grande, ambas no RS, dedica-se ao estudo dos fatores associados à "não realização" do exame citopatológico de colo uterino, em mulheres da cidade de Pelotas (RS). No outro, autoras da Universidade Federal Fluminense e da Escola Nacional de Saúde Pública, ambas no Rio de Janeiro, analisam , em estudo ecológico, a mortalidade por Câncer de cólon e reto e sua possível relação com padrões de consumo alimentar em "capitais brasileiras selecionadas".

Finalmente, dois trabalhos analisam consumo de alimentos. Um deles, realizado entre escolares de Piracicaba (SP), por pesquisadores da USP (FSP e ESALQ) e da UNIFESP, trata do consumo de doces, refrigerantes e bebidas adoçadas. Outro, realizado na Grande Vitória (ES), compara o estado nutricional e os "estilos de vida" de vegetarianos e de onívoros, como os Autores chamam as pessoas que usam a "dieta típica ocidental".

Tenham todos uma boa leitura.

O Editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Jun 2007
  • Data do Fascículo
    Mar 2006
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