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Por um conceito vigotskiano da identidade profissional do enfermeiro: ensaio reflexive

RESUMO

Objetivo:

Compreender a identidade profissional do enfermeiro a partir de uma perspectiva vigotskiana e depreender suas implicações no processo de formação dos alunos de enfermagem.

Métodos:

Estudo teórico-reflexivo, baseado na abordagem histórico-cultural de Lev Seminovich Vigotski.

Resultados:

A perspectiva de desenvolvimento cultural humano defendida por Vigotski pode alicerçar uma compreensão de identidade profissional do enfermeiro como uma complexa construção psicológica, a qual leva em conta tanto os elementos do solo histórico-cultural que circunscrevem a profissão e o sujeito quanto o conjunto de funções psicológicas, desenvolvido pelo sujeito nas relações pessoais e profissionais.

Considerações finais:

A formação da identidade profissional passa, necessariamente, pelas relações sociais que se dão no processo formativo e que colocam o professor enfermeiro em relevo na condução da aprendizagem, resultando não apenas nas apropriações de atributos e códigos, mas também no desenvolvimento psicológico dos estudantes.

Descritores:
Construção Social da Identidade; Enfermeiras e Enfermeiros; Identificação; Estudantes de Enfermagem; Pesquisa em Educação de Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

to understand the nurse professional identity from a vygotskian perspective and to understand its implications in the education process of nursing students.

Methods:

theoretical-reflexive study, based on the historical-cultural approach of Lev Seminovich Vigotski.

Results:

the perspective of human cultural development defended by Vigotski can support an understanding of nurse professional identity as a complex psychological construction, which takes into account both the elements of the historical-cultural context that circumscribes the profession and the subject, as well as the set of psychological functions, developed by the subject in personal and professional relationships.

Final considerations:

the professional identity formation necessarily passes through the social relations that take place in formative process and it places the nursing professor in relief in the conduct of learning, which results not only in appropriations of attributes and codes, but also in students psychological development.

Descriptors:
Identities, Social; Nurses; Identification; Nursing Students; Nursing Education Research

RESUMEN

Objetivo:

comprender la identidad profesional del enfermero a partir de una perspectiva vigotskiana y comprender sus implicaciones en la formación de los alumnos de enfermería.

Métodos:

Estudio teórico-reflexivo, basado en el enfoque histórico-cultural de Vigotski.

Resultados:

la perspectiva de desarrollo cultural humano defendida por Vigotski puede fundamentar una comprensión de identidad profesional del enfermero como una compleja construcción psicológica, que tiene en cuenta tanto los elementos del suelo histórico-cultural que circunscribe la profesión y el sujeto, como el conjunto de funciones psicológicas, desarrollado por el sujeto en las relaciones personales y profesionales.

Consideraciones finales:

la formación de la identidad profesional pasa necesariamente por las relaciones sociales en el proceso formativo y que colocan al profesor enfermero en relieve en la conducción del aprendizaje, que resulta no sólo en las apropiaciones de atributos y códigos, sino también en el desarrollo psicológico de los estudiantes

Descriptores:
Construcción Social de la Identidad; Enfermeros; Identificación; Estudiantes de Enfermería; Investigación en Educación de Enfermería

INTRODUÇÃO

Em face aos desafios contemporâneos no campo da saúde, tem-se despontado a premente necessidade de se repensar a formação dos enfermeiros, não apenas no que se refere à qualidade formal do ensino, mas sobretudo no que diz respeito à necessidade de potencializar nos estudantes a perspectiva do ser(11 Adamy EK, Teixeira E. The quality of education in times of new National Curriculum Parameters. Rev Bras Enferm. 2018;71( Suppl 4):1485-86. doi: 10.1590/0034-7167-201871sup401
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). Desse modo, desponta-se também a necessidade de que se busque compreender os processos que se relacionam à construção da identidade do enfermeiro, produção esta que possui o itinerário da graduação como um espaço privilegiado(22 Lima RB, Dias MSA, Brito MCC, Silva AV, Silva LMS, Coutinho JFV. Social representations of students in the construction of the professional identity of nurses. Rev RENE. 2018;19:e32468. doi: 10.15253/2175-6783.20181932468
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).

A identidade profissional do enfermeiro é um fenômeno complexo que não ocorre automaticamente nos sujeitos, mas leva em conta as vicissitudes sociais e as relações que estabelecem no seu percurso histórico(33 Teodósio SS, Padilha MI. “To be a nurse”: a professional choice and the construction of identity processes in the 1970s. Rev Bras Enferm. 2016;69(3):428-34. doi:10.1590/0034-7167.2016690303i
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). Dessa forma, para repensar as trajetórias trilhadas no desenvolvimento da identidade profissional do enfermeiro, nos estudantes em formação, de forma que seja possível fazer uma análise das estratégias e recursos que são operacionalizados para esse fim, é necessário empreender um caminho que permita analisar a gênese do fenômeno, não apenas a sua aparência ou como se comporta psicológica ou socialmente.

Este recorte, que procura visualizar o fenômeno não como resultado, mas como processo contínuo de desenvolvimento, implica a busca por referenciais que permitam compreender a dinâmica relação psíquica, socialmente composta, que torna possível a um sujeito constituir-se enfermeiro.

Nesse sentido, a abordagem histórico-cultural proposta por Vigotski* pode favorecer uma análise que lance luz ao desenvolvimento da identidade profissional do enfermeiro, pois parte da concepção de que o ser humano é uma categoria histórica. Além disso, o processo de desenvolvimento de suas Funções Psicológicas Superiores (FPS) depende das relações sociais que oportunizam a apropriação dos elementos da cultura(44 Vygotski LS. Obras escogidas III: problemas del desarrollo de la psique. Madrid: Visor Distribuiciones; 2000. 383 p.), o quais podem, nesta análise, traduzir aqueles que são produzidos e compartilhados no escopo de uma atividade produtiva, como a enfermagem.

A escolha por tal referencial implica abdicação de posturas idealistas ou mecanicistas, uma vez que não se considera possível a compreensão de mundo e de homem bipartidos, como se um não impusesse ao outro modificações recíprocas(44 Vygotski LS. Obras escogidas III: problemas del desarrollo de la psique. Madrid: Visor Distribuiciones; 2000. 383 p.).

Assim, na busca por contribuir com as propostas para avanços no processo de formação no ensino superior em enfermagem, propõe-se esta reflexão sobre a identidade profissional do enfermeiro a partir de uma concepção vigotskiana de desenvolvimento humano, para daí depreender as possíveis implicações no campo do ensino.

OBJETIVO

Este ensaio objetiva compreender a identidade profissional do enfermeiro, a partir de uma concepção vigotskiana de desenvolvimento humano, para depreender as possíveis implicações no campo do ensino.

A gênese histórico-cultural da identidade do enfermeiro: implicações para formação de novos profissionais

Fez-se um recorte da identidade profissional do enfermeiro no contexto do desenvolvimento psicológico humano. Esse desenvolvimento é entendido numa perspectiva materialista e dialética, como um processo revolucionário, não linear, que perpassa transformações qualitativas, em espiral, até níveis superiores de domínio, pelo sujeito, de sua própria conduta(55 García LD. El desarrollo psicológico humano como processo de continuidade y ruptura: la “Situacíon social del desarrollo”. Educ Filos. 2015;57(suppl 29):21-42. doi: 10.14393/REVEDFIL.issn.0102-6801.v29n57a2015-p21a42
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).

Para desenvolver-se, o ser humano assimila a experiência social, formulada no sistema de conceitos abstratos e, a partir dessas novas apropriações, transpõe os limites da experiência sensorial que, então, o restringiam à esfera biológica(66 Luria AR. Pensamento e linguagem: as últimas conferências de Luria. Porto Alegre: Artes Médicas; 1986. 251 p.). Isso traduz o desenvolvimento cultural do ser humano, que reside na capacidade de elaborar signos e estímulos artificiais a partir dos quais orienta sua conduta, adquirindo o domínio do próprio comportamento por meio do desenvolvimento de suas FPS(44 Vygotski LS. Obras escogidas III: problemas del desarrollo de la psique. Madrid: Visor Distribuiciones; 2000. 383 p.).

Essas funções, como, por exemplo, o pensamento abstrato, a memória lógica e a formação de conceitos, são desenvolvidas a partir do meio social(44 Vygotski LS. Obras escogidas III: problemas del desarrollo de la psique. Madrid: Visor Distribuiciones; 2000. 383 p.). Assim, toda função psicológica do sujeito, de categoria intrapsíquica, é antes uma função da ordem interpsicológica, do âmbito social, e não característica herdada biologicamente. Dessa forma, aquilo que antes era compartilhado entre duas pessoas, ao ser apropriado pelo sujeito, torna-se seu patrimônio(66 Luria AR. Pensamento e linguagem: as últimas conferências de Luria. Porto Alegre: Artes Médicas; 1986. 251 p.).

Participam desse processo de apropriação os estímulos auxiliares denominados signos. O ser social cria uma série de estímulos artificiais para dominar a conduta, própria ou alheia. Esses elementos primariamente estão presentes nas relações entre os homens e depois se convertem em meio de influência do homem sobre si, possibilitando o domínio de sua conduta e o uso consciente de suas potencialidades(44 Vygotski LS. Obras escogidas III: problemas del desarrollo de la psique. Madrid: Visor Distribuiciones; 2000. 383 p.).

Portanto, é por meio da operação com os signos que a atividade psicológica pode ser reestruturada e as formas culturais de comportamento apropriadas(44 Vygotski LS. Obras escogidas III: problemas del desarrollo de la psique. Madrid: Visor Distribuiciones; 2000. 383 p.).

Nesse processo, o ser humano precisa se apropriar cada vez mais das ideias, códigos e modelos explicativos da realidade que lhe permitem acessar e conhecer o mundo que o rodeia, sendo, para isso, imprescindível o papel do outro que lhe indique o signo e sua significação(77 Sigardo AP. O social e o cultural na obra de Vigotski. Educ Soc. 2000;21(suppl 71):45-78. doi: 10.1590/S0101-73302000000200003.
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). É a indicação dada por outro, no meio social, que estabelece as relações recíprocas entre signo e significado(44 Vygotski LS. Obras escogidas III: problemas del desarrollo de la psique. Madrid: Visor Distribuiciones; 2000. 383 p.).

Assim, dá-se ênfase ao papel do meio social nesse processo de constituição do sujeito e à sua participação no mundo cultural, profissional e social(88 Vygotski LS. Obras escogidas II: problemas de psicología general. Madrid: A. Machado Libros; 2001. 484 p.). O meio social não é estático, mas se modifica na medida em que o homem cria as condições de existência social, assim como as próprias condições de existência material(77 Sigardo AP. O social e o cultural na obra de Vigotski. Educ Soc. 2000;21(suppl 71):45-78. doi: 10.1590/S0101-73302000000200003.
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).

O meio social apresenta ao sujeito novas exigências que provocam o desenvolvimento das funções especificamente humanas(88 Vygotski LS. Obras escogidas II: problemas de psicología general. Madrid: A. Machado Libros; 2001. 484 p.). Dito de outra forma, modificam-se as relações do sujeito para com o meio em função do nível de seu desenvolvimento psicológico. Esse desenvolvimento, por sua vez, é influenciado pelas novas relações, então, estabelecidas pelo sujeito.

Diante disso, é possível compreender a identidade profissional do enfermeiro como fenômeno de procedência social e cultural. Portanto, a formação dessa identidade provém da vida social, em razão da constituição social da categoria humana, cuja trajetória histórica propiciou a emergência de necessidades singularmente humanas que, por sua vez, possibilitaram o desenvolvimento de atividades profissionais, a acumulação de conhecimento e o desenvolvimento de atributos e códigos relativos a essa atividade produtiva.

É a vida em sociedade que permite ao homem a criação e o desenvolvimento de complexos sistemas psicológicos que possibilitam a atividade laboral e a própria vida social, de forma que, primeiramente, todo cultural é social(44 Vygotski LS. Obras escogidas III: problemas del desarrollo de la psique. Madrid: Visor Distribuiciones; 2000. 383 p.). Contudo, se, por um lado, o social é condição para o aparecimento da cultura, por outro, é também resultado da cultura, haja vista que é em função da ação criadora do homem que se configuram outras formas de sociabilidade humana(77 Sigardo AP. O social e o cultural na obra de Vigotski. Educ Soc. 2000;21(suppl 71):45-78. doi: 10.1590/S0101-73302000000200003.
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). Como um produto da vida social e da atividade humana(44 Vygotski LS. Obras escogidas III: problemas del desarrollo de la psique. Madrid: Visor Distribuiciones; 2000. 383 p.), a cultura retrata a totalidade das produções humanas, a exemplo das produções técnicas, artísticas, científicas, das tradições, das instituições e práticas sociais. A cultura, portanto, relaciona-se às novas condições de existência criadas pelo homem na medida em que se descobriu capaz de transformar a natureza da qual é integrante(77 Sigardo AP. O social e o cultural na obra de Vigotski. Educ Soc. 2000;21(suppl 71):45-78. doi: 10.1590/S0101-73302000000200003.
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).

Desses apontamentos, depreende-se que a identidade profissional do enfermeiro vincula-se à enfermagem concebida como atividade produtiva dialeticamente construída, isto é, tanto é resultado das condições de possibilidades históricas, circunscritas à esfera social, quanto determina as mesmas condições de possibilidade, na medida em que seu desenvolvimento modifica o meio social e cultural.

Ao se conceber a enfermagem como profissão, reconhece-se que seus trabalhadores exercem uma função socialmente tida como necessária, fundada em um conjunto de saberes próprios, produzidos pelos trabalhadores e transmitidos para aqueles que estão em processo formativo, contando com padrões de condutas profissionais e éticas norteados por um código de ética próprio e possuindo entidades representativas de classe(99 Pires D. A enfermagem enquanto disciplina, profissão e trabalho. Rev Bras Enferm. 2009;62(5):739-44. doi: 10.1590/S0034-71672009000500015
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). Esses atributos são produções culturais que, evidentemente, têm sua gênese relacionada às atividades laborais, as quais, em sua trajetória histórica, propiciaram a constituição da enfermagem enquanto tal.

Implica reconhecer que a identidade profissional do enfermeiro não pode ser tomada como uma categoria estática, manifesta apenas pelo comportamento dos sujeitos no contexto de um grupo, assim como não pode representar somente a acepção desse sujeito sobre suas ações enquanto profissional. Trata-se de uma complexa construção psicológica que leva em conta tanto os elementos do contexto histórico-cultural que circunscreve a profissão e o sujeito, ambos em movimento, quanto o conjunto de funções psicológicas, desenvolvido e operado pelo sujeito nas relações pessoais e profissionais, o qual é produto e produtor de novas apropriações culturais.

Sempre em movimento, o desenvolvimento desse conjunto de funções relaciona-se intimamente aos espaços formais de ensino porque aí são oportunizadas condições propícias para que o sujeito se aproprie das produções culturais as quais consistem no ser enfermeiro. Tais apontamentos a respeito do desenvolvimento das FPS provocam novas formas de ver a educação e outro modo de enfocar a tarefa educativa(88 Vygotski LS. Obras escogidas II: problemas de psicología general. Madrid: A. Machado Libros; 2001. 484 p.).

Para a corrente histórico-cultural, o desenvolvimento do sujeito, considerando suas FPS e sua consciência, é estreitamente relacionado ao processo de aprendizagem, que precede o desenvolvimento e é dependente da cooperação dos outros. O desenvolvimento decorrente da aprendizagem é um fato fundamental no surgimento das propriedades tipicamente humanas. O aprendizado impulsiona o desenvolvimento do sujeito e o amadurecimento de suas funções para toda a vida. Os dois processos mutuamente se implicam, em complexas inter-relações(88 Vygotski LS. Obras escogidas II: problemas de psicología general. Madrid: A. Machado Libros; 2001. 484 p.).

É no espaço escolar que o sujeito encontra ambiente favorável para o desenvolvimento do pensamento conceitual. Os conceitos científicos ensinados no espaço escolar são capazes de transformar ou potencializar os conceitos cotidianos, aqueles apreendidos pela experiência. Podem, assim, conferir ao sujeito a possibilidade de subordinar, ao seu próprio poder, suas operações psicológicas, orientar sua atividade no sentido de solucionar os problemas ao seu entorno e operar voluntariamente com as suas próprias habilidades(88 Vygotski LS. Obras escogidas II: problemas de psicología general. Madrid: A. Machado Libros; 2001. 484 p.).

Por meio do desenvolvimento do pensamento em conceitos, o ser humano consegue participar ativa e criativamente da vida cultural que se lhe é apresentada, bem como compreender e manejar o mundo que o cerca(88 Vygotski LS. Obras escogidas II: problemas de psicología general. Madrid: A. Machado Libros; 2001. 484 p.).

Daí se depreende a relevância do espaço escolar na formação da identidade profissional do enfermeiro, tendo em vista que é nesse âmbito que os estudantes podem avançar das concepções empíricas sobre a profissão, originárias do senso comum, para novas apropriações que contribuam para outras configurações dessa atividade laboral.

Isso se dá porque o processo de nova configuração dos conceitos cotidianos, por meio do aprendizado dos conceitos científicos, contribui para que o sujeito dê um salto qualitativo no seu desenvolvimento, aprimore-se e adquira novas funções psicológicas, dominando novas formas de conduta(88 Vygotski LS. Obras escogidas II: problemas de psicología general. Madrid: A. Machado Libros; 2001. 484 p.).

Nessa esteira de pensamento, as atividades de ensino, teóricas ou práticas, a inserção nos serviços de saúde de diversas naturezas, os projetos de extensão e as atividades de pesquisa precisam ser considerados, no contexto da graduação em enfermagem, como oportunidades de desenvolvimento de funções referentes à identidade profissional do enfermeiro. Ou seja, a operacionalização desses componentes deve ter a intencionalidade propiciar aos estudantes aprendizagens que provoquem o desenvolvimento de suas funções, as quais, por sua vez, possam ser expressas em condutas profissionais que transformam a realidade.

A educação e o professor, nesse paradigma, ocupam aspecto central na configuração do homem. O processo educativo desponta-se como elemento de grande importância na construção da identidade profissional do futuro enfermeiro, pois os estudantes podem se apropriar dos signos e significados do que é ser enfermeiro em si, para tornarem-se enfermeiros para o outro que se lhes indica, antes que se tornem enfermeiros para si, com autoconsciência e domínio voluntário dos processos aí relacionados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os pressupostos vigotskianos que alicerçam a compreensão de desenvolvimento humano possibilitam o entendimento da identidade profissional do enfermeiro como uma complexa construção psicológica. Para tanto, leva em conta os elementos do contexto histórico-cultural que circunscreve a profissão e o sujeito, ambos em movimento, bem como o conjunto de funções psicológicas, desenvolvido pelo sujeito nas relações pessoais e profissionais, produto e produtor de novas apropriações culturais.

Assumir a identidade profissional como esse conjunto de funções em contínuo desenvolvimento implica abdicar de uma concepção de ensino que alicerça práticas pedagógicas de transmissão de conhecimentos, como se a identidade então decorrente fosse resultado de uma equação.

Assim, a formação da identidade, necessariamente, passa pelas relações sociais que se dão no processo formativo, as quais colocam o professor enfermeiro em relevo na condução da aprendizagem. Dessa forma, é necessário que resulte não apenas nas apropriações de atributos e códigos, mas provoque o desenvolvimento psicológico dos estudantes para que possa transformá-los - não somente reproduzi-los - por ocasião de seu exercício profissional.

REFERENCES

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  • 2
    Lima RB, Dias MSA, Brito MCC, Silva AV, Silva LMS, Coutinho JFV. Social representations of students in the construction of the professional identity of nurses. Rev RENE. 2018;19:e32468. doi: 10.15253/2175-6783.20181932468
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  • 3
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    Vygotski LS. Obras escogidas II: problemas de psicología general. Madrid: A. Machado Libros; 2001. 484 p.
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    Pires D. A enfermagem enquanto disciplina, profissão e trabalho. Rev Bras Enferm. 2009;62(5):739-44. doi: 10.1590/S0034-71672009000500015
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Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José De Almeida Filho
EDITOR ASSOCIADO: Mitzy Reichembach

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    08 Mar 2019
  • Aceito
    20 Out 2019
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