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A invisibilidade do custo cognitivo no trabalho de policiais militares

RESUMO

Objetivo:

Analisar o custo cognitivo no trabalho dos policiais militares do estado do Rio de Janeiro.

Método:

Trata-se de um estudo de corte transversal com abordagem quantitativa, realizado com 446 policiais militares, de ambos os sexos, distribuídos entre praças e oficiais, nos 7°, 15°, 20°, 24° e 41° batalhões de Polícia Militar. Utilizou-se um instrumento para a caracterização sociodemográfica, laboral, hábitos de vida e condições de saúde e uma escala de avaliação do custo humano no trabalho, que analisa as exigências relativas ao trabalho por meio dos custos físico, cognitivo e afetivo. Os dados foram organizados, processados e analisados com o auxílio do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 13.1.

Resultados:

O custo cognitivo apresentou as maiores médias, com resultados graves (μ = 3,86; DP = 0,86), representando maior exigência em relação ao custo humano no trabalho entre os policiais militares do estado do Rio de Janeiro e associações significativas em relação à obesidade, alterações cognitivas de atenção e memória, idade e horas de sono.

Conclusão:

Na avaliação do custo humano no trabalho, o custo cognitivo foi o mais exigido no contexto de trabalho dos policiais militares pesquisados apresentando um risco grave para o adoecimento.

DESCRITORES
Saúde Ocupacional; Polícia; Enfermagem

ABSTRACT

Objective:

To assess the cognitive cost of work for military police officers in the state of Rio de Janeiro.

Method:

This is a cross-sectional study with a quantitative approach, carried out with 446 military police officers, of both sexes, distributed between non-commissioned officers and officers, in the 7th, 15th, 20th, 24th and 41st Military Police Battalions. An instrument was used to depict sociodemographic, work, lifestyle and health conditions and a scale for assessing the human cost of work, which analyses the demands of the job through physical, cognitive and affective costs. The data was organized, processed and analyzed using the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) software, version 13.1.

Results:

The cognitive cost had the highest means, with severe results (μ = 3.86; SD = 0.86), representing greater demands in relation to the human cost of work among military police officers in the state of Rio de Janeiro and significant associations in relation to obesity, cognitive alterations in attention and memory, age and hours of sleep.

Conclusion:

In assessing the human cost of work, the cognitive cost was the most demanding in the work context of the military police officers surveyed, presenting a serious risk of illness.

DESCRIPTORS
Occupational Health; Police; Nursing

RESUMEN

Objetivo:

Analizar los costos cognitivos producidos por el trabajo de los policías militares del estado de Rio de Janeiro.

Método:

Se trata de un estudio transversal con abordaje cuantitativo, realizado con 446 policías militares, de ambos sexos, distribuidos entre cuadros y oficiales, de los Batallones 7°, 15°, 20°, 24° y 41° de la Policía Militar. Se utilizó un instrumento para caracterizar las condiciones sociodemográficas, laborales, de estilo de vida y de salud, y una escala para evaluar el costo humano del trabajo, que analiza las exigencias del trabajo a través de los costos físicos, cognitivos y afectivos. Los datos fueron organizados, procesados y analizados utilizando el software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versión 13.1.

Resultados:

El costo cognitivo presentó las medias más altas, con resultados graves (μ = 3,86; SD = 0,86), representando mayores exigencias en relación al costo humano del trabajo entre los policías militares del estado de Río de Janeiro y asociaciones significativas en relación a la obesidad, alteraciones cognitivas de atención y memoria, edad y horas de sueño.

Conclusión:

Al evaluar el coste humano del trabajo, el coste cognitivo fue el más exigente en el contexto laboral de los policías militares encuestados, presentando un grave riesgo de enfermedad.

DESCRIPTORES
Salud Ocupacional; Policia; Enfermería

INTRODUÇÃO

No que tange às condições trabalhistas no mundo contemporâneo, não se pode perder de vista que a globalização de ordem pecuniária e a precariedade da ambiência social, em diálogo com inovações de tecnologia e de gestão, têm impactado as múltiplas transformações no ideário tradicional das áreas da Medicina do Trabalho e da Saúde Ocupacional(11. Resende DP. Organização do trabalho na sociedade contemporânea. Rev Trib Reg Trab 3 Reg. 2020;66(102):275–97.).

Outrossim, no que se refere ao aspecto do trabalho como mediador de integração social, seja por meio da constituição da subjetividade sob uma perspectiva econômica ou cultural, admite-se que se devam priorizar não tão somente os aspectos físicos dos ambientes laborais como fatores de risco à saúde dos trabalhadores, mas também os fatores organizacionais e, sobretudo, o processo de formação psicossocial do trabalhador em sua plenitude profissional.

Nesse contexto, dependendo do tipo de organização e do processo de trabalho ao qual o trabalhador está inserido, as atividades executadas podem ultrapassar seus limites físicos, principalmente quando expostos a riscos biomecânicos, biológicos e riscos à saúde mental, cenário que caracteriza o desgaste funcional. Assim, a maneira como o processo de trabalho está organizado pode levar deterioração da saúde mental(22. Bernardes ARB, Menezes LS. Organização do trabalho e a saúde dos trabalhadores que lidam com doação de órgãos e tecidos para transplantes. Cien Saude Colet. 2021;26(12):5967–76. doi: http://doi.org/10.1590/1413-812320212612.15562021. PubMed PMID: 34909989.
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).

As exigências sofridas pelos trabalhadores têm sido estudadas por diversos autores ao longo dos anos(33. Pochmann M. Tendências estruturais do mundo do trabalho no Brasil. Cien Saude Colet. 2020;25(1):89–99. doi: http://doi.org/10.1590/1413-81232020251.29562019. PubMed PMID: 31859858.
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55. Garbin AC, Chioro A, Pintor EADS, Marques MDS, Branco MAC, Capozzolo AA. Loucura e o trabalho: integralidade e cuidado em rede no SUS. Cien Saude Colet. 2021;26(12):5977–85. doi: http://doi.org/10.1590/1413-812320212612.15142021. PubMed PMID: 34909990.
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). No entanto, a falta de clareza nos papéis atribuídos e as exigências de novas competências implicam em um custo humano que importa avaliar, já que se traduzem em impacto na saúde dos trabalhadores.

Existe uma distância entre o que é imposto ao trabalhador, escrito na descrição de cargo (trabalho prescrito) e aquela atividade que surge a partir dos imprevistos (trabalho real). Nesse sentido, tanto as organizações públicas quanto as privadas devem focar em políticas de gestão de recursos humanos e no desenvolvimento e comportamento dos funcionários. Essas atividades são importantes para desenvolver competências que permitam uma melhor integração das diferentes áreas do conhecimento alcançando resultados para a organização sem sobrecarregar as equipes(66. Bedin ÉP, Fontes ARM, Braatz D. Discrepancy between prescribed and real work: the case of outsourced service contract supervisors at federal universities in the state of São Paulo. Rev Bras Gest Neg. 2020;22(2):232–49. doi: http://doi.org/10.7819/rbgn.v22i2.4055.
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).

Diante do conflito do que é real com o que é prescrito, a organização do trabalho precisa proporcionar autonomia e liberdade para que o trabalhador encare situações inusitadas de forma criativa e, assim, fortalecer sua identidade. Por outro lado, o inesperado gera sofrimento e a maneira com que esse trabalhador vai conseguir driblar as situações inesperadas dependerá da configuração da organização do trabalho(77. Dejours C. A banalização da injustiça social. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas; 2017.).

Assim, quando ela se caracteriza como rígida em suas normas e regras, não confere certa autonomia e liberdade ao trabalhador para buscar resolutividade dos problemas, resulta na ampliação do estado de sofrimento. Salienta-se que o sofrimento é inevitável no contexto da vida e, por sua vez, no trabalho, mas quando ele se torna intenso e repetitivo, pode gerar um sofrimento patogênico, o qual tem potencial para adoecer os trabalhadores(88. Pádua LS, Ferreira MC. Avaliação do custo humano do trabalho e das estratégias de mediação dos médicos de uma unidade de pronto atendimento. Trab (En) Cena. 2020;5(1):28–52. doi: http://doi.org/10.20873/2526-1487V5N1P28.
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).

Por outro lado, a rigidez não conferente de autonomia do trabalhador culmina em custo humano, tais como dispêndio físico, cognitivo e emocional, impostos na execução das atividades laborais. Assim sendo, ressalta-se que o entendimento de custo cognitivo vem a ser atingido pelo esforço intelectual exigido na aprendizagem, assim como na capacidade de sanar problemas e tomadas de decisão no trabalho(99. Dejours C. Psicodinâmica do trabalho: casos clínicos. Porto Alegre: Dublinense; 2017.). Contudo, afirma-se que, entre as profissões com altas demandas cognitivas, que resultam em adoecimento, destacam-se: professores, jornalistas, médicos, enfermeiros e policiais(1010. Neves U. Síndrome de Burnout entra na lista de doenças da OMS. Rio de Janeiro: PEBMED; 2019 [cited 2023 Apr 26]. Available from: https://pebmed.com.br/sindrome-de-burnout-entra-na-lista-de-doencas-da-oms/.
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).

Nessa conjuntura, diante da problemática que envolve as exigências cognitivas no contexto de trabalho policial, assim como sua importância no sentido individual e coletivo, o presente estudo objetivou analisar o custo cognitivo no trabalho dos policiais militares do estado do Rio de Janeiro.

MÉTODO

Tipo do Estudo

Trata-se de um estudo transversal de abordagem quantitativa, embasado nas diretrizes do Strengthening the Reportingof Observational Studies in Epidemiology (STROBE) para a redação do manuscrito.

Como local de estudo, considerando os altos índices de criminalidade apresentados no Simpósio Nacional de Vitimização Policial no Estado do Rio de Janeiro, realizado pela Polícia Militar em 2019(1111. Associação Beneficente Heróis do Rio de Janeiro. I Simpósio Nacional de Vitimização Policial. Rio de Janeiro; 2019 [cited 2023 Sep 11]. Available from: https://www.heroisdoriodejaneiro.com/simposio2019/.
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) elencou-se como locais de estudo desta tese, os batalhões que apresentaram os maiores enfrentamentos armados na Região Metropolitana I do Rio de Janeiro.

A amostra, por batalhão, foi composta por 446 policiais militares de ambos os sexos, distribuídos entre as graduações (cabos, soldados, sargentos e subtenentes) e patentes (tenente, capitão, major, tenente-coronel e coronel), integrantes de uma população de policiais no 7°, 15°, 20°, 24° e 41° batalhões de Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.

Teve-se como critério de inclusão: todos os policiais militares lotados nos batalhões escolhidos que tivessem condições físicas e psíquicas de responder ao questionário no momento da entrevista. Como critérios de exclusão: todos os militares inativos, em período de férias e em tratamento de saúde sem reabilitação.

Cálculo da Amostra

O tamanho da amostra foi calculado a partir da população de 44.336 policiais. Para determinar o tamanho da amostra, foi utilizado o programa EPI-INFO na versão 7.2.2.16, estabelecendo-se um erro de 5,0%, confiabilidade de 95,0%, uma proporção esperada de 50,0% e um percentual de perda de 20,0%.

Após o cálculo da amostra estratificada por batalhão (n = 417), os participantes do estudo foram convidados e não houve recusa quando abordados. Contudo, houve outros policiais que, durante a coleta de dados, quiseram também fazer parte do estudo e foram incorporadas à amostra, considerando que atendiam aos critérios de inclusão, totalizando n = 446 participantes, assim distribuídos por batalhão: 7° BPM n = 108; 15° BPM n = 104; 20 BPM n = 98; 24° BPM n = 54; 41 BPM n = 82.

Coleta de Dados

A coleta de dados foi realizada por demanda espontânea/conveniência, entre os meses de dezembro de 2021 a junho de 2022, por meio de dois instrumentos. O preenchimento dos instrumentos foi realizado pelo próprio policial, sendo estipulado o prazo de devolução do material para o plantão seguinte. Nos casos em que não houve retorno no prazo determinado, foi realizado um novo contato com o participante, sendo marcada nova data para a devolução dos instrumentos de coleta de dados, não havendo perda de participantes.

O primeiro instrumento, constituído de questões autoreferidas para a caracterização sociodemográfica, de saúde e laboral. Dentre as variáveis sociodemográficas, laborais e de saúde elencou-se para este estudo as referentes ao sexo, idade, posto de graduação, batalhão de atuação, tempo de serviço na Polícia Militar, comorbidades, motivos de licença médica e horas de sono. Não foi realizado teste piloto.

O segundo instrumento foi uma escala do Inventário sobre Trabalho e Riscos de Adoecimento (ITRA). O Inventário sobre Trabalho e Riscos de Adoecimento se trata de um questionário autoaplicável que avalia as dimensões do trabalho com riscos de adoecimento, apontando indicadores críticos que se relacionam com o trabalho e composto por quatro escalas: Escala de Avaliação do Contexto de Trabalho (EACT), Escala de Avaliação do Custo Humano no Trabalho (EACHT), Escala de Indicadores de Prazer e Sofrimento no Trabalho (EIPST) e Escala de Avaliação dos Danos Relacionados ao Trabalho (EADRT), e seus efeitos na saúde do trabalhador(1212. Mendes AM. Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2007.).

O instrumento, no Brasil, foi validado em 2003, por Ferreira e Mendes, sendo adaptado e revalidado em 2006 e publicado por Mendes em 2007. Foi criado com a finalidade de atender à demanda de pesquisas que buscavam a relação entre o trabalho e os riscos de adoecimento(1212. Mendes AM. Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2007.).

Com o intuito de atender ao objetivo do estudo, utilizou-se a Escala de Avaliação do Custo Humano no Trabalho, que analisa as exigências relativas ao trabalho por meio dos custos: Custo físico (questões de 1 a 10); Custo cognitivo (questões de 11 a 20); Custo afetivo (questões de 21 a 30), composta de cinco pontos, no qual: “1 = nada exigido, 2 = pouco exigido, 3 = mais ou menos exigido, 4 = bastante exigido, 5 = totalmente exigido”, seguindo as mesmas recomendações de classificação de risco. A escala apresenta eigenvalue maior que 2, variância total de 44,98%, KMO de 0,91 e 50% das correlações acima de 0,30(1212. Mendes AM. Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2007.).

Os resultados da EACHT foram interpretados seguindo as orientações de Mendes (2007)(1111. Associação Beneficente Heróis do Rio de Janeiro. I Simpósio Nacional de Vitimização Policial. Rio de Janeiro; 2019 [cited 2023 Sep 11]. Available from: https://www.heroisdoriodejaneiro.com/simposio2019/.
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) e para a classificação de risco para os fatores da escala foram utilizados critérios: quando as médias foram: acima de 3,7 – avaliação mais negativa, risco grave para adoecimento; entre 3,69 e 2,3 – avaliação moderada, risco crítico para adoecimento; e abaixo de 2,29 – avaliação positiva/satisfatória, o ambiente de trabalho favorece a saúde do profissional.

Análise dos Dados

Para organização e tabulação do banco de dados, foram utilizados os Softwares SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) para Windows e o Excel 365 com dupla digitação, objetivando minimizar os erros de digitação e inconsistências. Todos os testes foram aplicados com 95% de confiança e calculados levando em consideração respostas válidas, ou seja, não foram contabilizadas as respostas ignoradas.

Os resultados são apresentados em forma de tabela com suas respectivas frequências absoluta e relativa. As variáveis numéricas estão representadas pelas medidas de tendência central e medidas de dispersão das características sociodemográficas e laborais e dos itens da Escala de Avaliação do Custo Humano no Trabalho.

Como recurso de avaliação de associação estatisticamente significativa, recorreu-se ao Teste Qui-Quadrado e o Teste Exato de Fisher. Para testar a normalidade, foi utilizado o teste não paramétrico de Kolmogorov-Smirnov para as variáveis quantitativas.

Com o objetivo de testar a comparação de três ou mais amostras independentes, foi utilizado o teste não paramétrico de Kruscal-Wallis.

Aspectos Éticos

A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética e Pesquisa da Escola de Enfermagem Anna Nery (CEP da EEAN), Instituto de Atenção Básica São Francisco de Assis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, atendendo aos preceitos da Resolução n.° 466/2012 e autorizada pelo parecer consubstanciado de número: 5.137.132.

Outrossim, foi entregue aos participantes o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE juntamente com os questionários. Nesse momento, os objetivos da pesquisa foram apresentados e realizou-se a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos participantes, a fim de esclarecer as dúvidas; por fim, a assinatura foi solicitada. Ressalta-se que a participação na pesquisa foi voluntária.

RESULTADOS

Fizeram parte do estudo 446 participantes, desses a maioria composta por homens (86.7%, n = 379), com idade média de 37 anos (38,5%), casados (78%, n = 311) e com um filho(4%, n = 137). Obteve-se maior adesão dos praças (soldados, cabos, sargentos e subtenentes) (94%, n = 420) em comparação aos oficiais (4,5%, n = 20), com 10 anos de serviço em média.

Ainda de acordo com a caracterização desses trabalhadores, observou-se uma média de seis (6) horas de sono diário (24,7%), e 29,7% (n = 110) afirmaram comprometimento cognitivo relacionado à memória.

Na avaliação do Custo Humano no Trabalho, entre os fatores, as avaliações mais negativas foram para o custo cognitivo, com 65% (n = 282), com avaliação negativa grave, indicando que o contexto de trabalho oferece riscos para adoecimento, conforme Tabela 1.

Tabela 1
Distribuição da classificação de risco da Escala de Avaliação do Custo Humano no Trabalho. (n = 446) – Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2023.

Conforme constatado na Tabela 2, entre os fatores da Escala de Avaliação do Custo Humano no Trabalho, o custo cognitivo apresentou a maior média, com resultados graves (μ = 3,86; DP = 0,86), representando maior exigência no contexto de trabalho dessa população.

Tabela 2
Distribuição das respostas, de acordo com os fatores do Custo Humano no Trabalho segundo presença de adoecimento no trabalho (n = 446) – Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2023.

A Tabela 3 nos mostra que os itens mais negativos no Custo Cognitivo foram: “ter que resolver problemas” (μ = 4,09; DP = 1,02); “ser obrigado a lidar com imprevistos” (μ = 4,20; DP = 0,98); “usar a visão de forma contínua” (μ = 3,85; DP = 1,18); “usar a memória” (μ = 4,12; DP = 1,01); “ter desafios intelectuais” (μ = 3,78; DP = 1,14); “fazer esforço mental” (μ = 3,93; DP = 1,12); “ter concentração mental” (μ = 4,15; DP = 0,98); “usar a criatividade” (μ = 3,94; DP = 1,07).

Tabela 3
Distribuição da média, desvio padrão e classificação de risco para cada item que compõe o fator Custo Cognitivo (n = 446) – Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2023.

Em relação à associação do custo cognitivo com as variáveis sociodemográficas, laborais, hábitos de vida e condições de saúde e alterações cognitivas (Tabela 4), houve associação estatisticamente significativa nas variáveis “Obesidade”, “Atenção” e “Memória” com classificação de risco grave. Nas variáveis numéricas houve diferença estatisticamente significativa na “Idade” e “Hs de sono por dia”. Embora a variável “Crise de Ansiedade” tenha p-valor maior que 0,05, ficou bem próximo de ser significativo e, quando leva-se em consideração os objetivos do estudo, torna-se relevante destacar também esse resultado.

Tabela 4
Associação entre o custo cognitivo e as variáveis sociodemográficas (pessoais, laborais e condições de saúde) (n = 446) – Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2023.

DISCUSSÃO

Assim como nos resultados dessa pesquisa, estudos mostraram que, em relação aos aspectos sociodemográficos, houve maior participação no sexo masculino(1313. Poirier S, Allard-Gaudreau N, Gendron P, Houle J, Trudeau F. Health, safety, and wellness concerns among law enforcement officers: an inductive approach. Workplace Health Saf. 2023;71(1):34–42. doi: http://doi.org/10.1177/21650799221134422. PubMed PMID: 36515207.
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), com faixa etária prevalente de 30 a 39 anos (42,1%)(1414. Loiola AA. Análise das condições de saúde dos policiais militares com incapacidade laboral no estado de Goiás [tese]. Brasília: Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Políticas Públicas em Saúde, Escola Fiocruz de Governo; 2019.), casados ou em união estável, com número de filhos cada vez menor, variando entre 0 a 4 filhos, sendo que a maioria (44,2%) não possuía filhos(1515. Arroyo TR, Borges MA, Lourenção LG. Saúde e qualidade de vida de policiais militares. Rev Bras Promoç Saúde. 2019;32:7738. doi: http://doi.org/10.5020/18061230.2019.7738.
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) e maior adesão à graduação de praças(1616. Ferreira LB, Dias CA. Subjetivação e adoecimento no trabalho policial militar à luz da psicodinâmica. Rev Gest Anál. 2022;11(2):110–26. doi: http://doi.org/10.12662/2359-618xregea.v11i2.p110-126.2022.
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).

Quanto às capacidades cognitivas, à medida que o tempo vai passando, maior é a probabilidade de redução das mesmas em todos os domínios(1717. Freitas HH, Acencio FR, Oliveira DV, Bertolini SMMG. Equilíbrio em idosos institucionalizados e não institucionalizados e sua relação com a qualidade de vida. Rev Ciênc Méd Biol. 2020;19(2):331–4. doi: http://doi.org/10.9771/cmbio.v19i2.33361.
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), sendo eles: memória, percepção, linguagem, funções executivas e atenção(1818. Ramos FP, Silva SC, Freitas DF, Gangussu LMB, Bicalho AH, Sousa BVO, et al. Fatores associados à depressão em idoso. Rev Eletrôn Acervo Saúde. 2019;19:e239. doi: http://doi.org/10.25248/reas.e239.2019.
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). E, ainda, a função cognitiva é a capacidade que mais sofre com o envelhecimento(1919. Nascimento JLA, Oliveira BGD, Cruz GSM, Sá ACA, Bomfim ES. Influência da qualidade do sono na qualidade de vida no trabalho de policiais militares. Rev Muldiscip Saúde. 2021;2(4):289. doi: http://doi.org/10.51161/rems/3063.
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), fatores que estão em conformidade com os resultados desse estudo, onde o custo cognitivo teve relação significativa com a idade dos policiais.

Destarte, o sono é outro aspecto importante observado nas características sociodemográficas de saúde que merece discussão, visto que é uma das necessidades básicas do ser humano e tem relação direta com a qualidade de vida(2020. Freitas AMC, Araújo TM, Pinho PS, Sousa CC, Oliveira PCS, Souza FO. Qualidade do sono e fatores associados entre docentes de educação superior. Rev Bras Saúde Ocup. 2021;46:e2. doi: http://doi.org/10.1590/2317-6369000018919.
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). De acordo com os resultados do estudo em tela, as horas de sono foram um fator que demandou um custo cognitivo alto entre os policiais, principalmente em virtude da escala de serviço irregular, que ora é diurna, ora é noturna.

Nessa lógica, um estudo realizado para avaliar a influência da qualidade do sono na qualidade de vida no trabalho de policiais militares de três municípios baianos, concluiu que a qualidade de vida no ambiente laboral foi prejudicada por problemas relacionados à condição do sono e obteve a pior percepção de qualidade de vida em todas as dimensões: biológica/fisiológica, psicológica/comportamental, sociológica/relacional, econômica/política, ambiental/organizacional(1919. Nascimento JLA, Oliveira BGD, Cruz GSM, Sá ACA, Bomfim ES. Influência da qualidade do sono na qualidade de vida no trabalho de policiais militares. Rev Muldiscip Saúde. 2021;2(4):289. doi: http://doi.org/10.51161/rems/3063.
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).

Quanto à classificação do custo cognitivo, dos dez itens do fator, oito foram classificados como grave e dois como críticos. Um estudo que buscou compreender as condições, processos de trabalho e risco de adoecimento no batalhão feminino da PM do Rio Grande do Norte, Brasil, também teve avaliação de moderada a crítica no fator cognitivo (μ = 3,52; DP = 1,39), em particular os subitens “ser obrigado a lidar com imprevistos” (μ = 4,2) e “usar a memória” (μ = 4,2)(2121. Figueiró R A, Dias AO, Lima AIO, Barros HCL. Trabalho e risco de adoecimento: o caso da companhia feminina da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, Brasil. RECIMA21 [cited 2023 May 17];2022;3(8):e381783. Available from: https://recima21.com.br/index.php/recima21/article/view/1783
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).

Por outro lado, quanto à associação entre o custo cognitivo e as variáveis sociodemográficas, percebeu-se uma estreita relação da localização dos batalhões “mais violentos” com a demanda cognitiva.

Em consonância a esse achado, estudo realizado com trabalhadores da saúde da atenção primária apontou que a saúde mental do trabalhador é diretamente afetada pelas condições do local onde o trabalho é realizado. Entre os diversos agravos, destacam-se a depressão, a ansiedade e a síndrome de burnout como os mais frequentes(2222. Faria MGA, Silveira EA, Cabral GRFC, Silva RO, Daher DV, David HMSL. Saúde do trabalhador no contexto da estratégia de saúde da família: revisão integrativa de literatura. Esc Anna Nery. 2020;24(4):e20200027. doi: http://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2020-0027.
https://doi.org/10.1590/2177-9465-ean-20...
).

Um estudo comparativo dos níveis e fontes de estresse organizacional em policiais que trabalhavam em um centro de comunicação de ocorrências policiais no Reino Unido, apontou que o nível de estresse estava diretamente associado à saúde física e mental, bem como ao consumo de substâncias. À medida que o estresse aumentou em todos os perfis, também observou-se uma piora na saúde física e mental e um aumento no consumo de substâncias. Além disso, os fatores sociodemográficos e a interferência familiar no trabalho previram tipologias de alto estresse organizacional(2323. Galbraith N, Boyda D, McFeeters D, Galbraith V. Padrões de estresse ocupacional no pessoal de contato e despacho policial: implicações para a saúde física e psicológica. Int Arch Occup Environ Health. 2021;94(2):231–41. doi: http://doi.org/10.1007/s00420-020-01562-1. PubMed PMID: 33044570.
https://doi.org/10.1007/s00420-020-01562...
).

Os resultados aqui encontrados também foram observados em um estudo que buscou avaliar os custos humanos relacionados ao serviço médico em uma unidade de pronto atendimento. A pesquisa apontou que a solicitação cognitiva contínua no trabalho é grande influenciadora no processo saúde-doença, trazendo dificuldades ao trabalhador de gerenciar estratégias para superação de problemas(88. Pádua LS, Ferreira MC. Avaliação do custo humano do trabalho e das estratégias de mediação dos médicos de uma unidade de pronto atendimento. Trab (En) Cena. 2020;5(1):28–52. doi: http://doi.org/10.20873/2526-1487V5N1P28.
https://doi.org/10.20873/2526-1487V5N1P2...
).

Nesse sentido, os índices importantes de policiais com sérios níveis de estresse ocupacional no trabalho em decorrência do ambiente hostil, levam à vulnerabilidade física e mental, na esfera individual, grupal e organizacional(44. Santos FB, Lourenção LG, Vieira E, Ximenes No FRG, Oliveira AMN, Oliveira JF, et al. Estresse ocupacional e engajamento no trabalho entre policiais militares. Cien Saude Colet. 2021;26(12):5987–96. doi: http://doi.org/10.1590/1413-812320212612.14782021. PubMed PMID: 34909991.
https://doi.org/10.1590/1413-81232021261...
). Dessa forma, pode-se inferir que são fatores presentes no cotidiano do trabalho policial, preditor de riscos à saúde do trabalhador.

Levando-se em consideração as exigências no contexto de trabalho do policial, o estresse psicológico agudo afeta significativamente a memória episódica, que consiste em memória para eventos ligados a um contexto específico. Entretanto, um estudo realizado com o objetivo de avaliar os níveis auto-relatados de ansiedade pré e pós-estresse, com noventa e dois estudantes da Tufts University, em Massachusetts, nos Estados Unidos, revelou que o estresse melhorou a memória semântica recuperação(2424. Smith AM, Hughes GI, Davis FC, Thomas AK. Acute stress enhances general-knowledge semantic memory. Horm Behav. 2019;109:38–43. doi: http://doi.org/10.1016/j.yhbeh.2019.02.003. PubMed PMID: 30742829.
https://doi.org/10.1016/j.yhbeh.2019.02....
).

O nível de estresse vivenciado pelos policiais no cotidiano laborativo é atribuído àquele que é produto do ambiente (pressões e coerções sociais), gerador de efeitos psicológicos e físicos importantes, resultando desequilíbrio nas funções executivas, memória, atenção, psicomotricidade e rebaixamento cognitivo de forma geral(2525. Silva MST, Torres CROV. Alterações neuropsicológicas do estresse: contribuições da neuropsicologia. Rev Cient Novas Confi Diálogos Plur. 2020 [cited 2023 June 5];1(2):67–80. Available from: http://www.dialogosplurais.periodikos.com.br/article/doi/10.4322/2675-4177.2020.021.
http://www.dialogosplurais.periodikos.co...
).

No tocante a obesidade, exigiu um custo cognitivo entre os policiais, onde fatores podem desencadear o distúrbio, incluindo fatores físicos, emocionais e cognitivos. Contudo, além dos fatores tradicionais, existem resultados relacionados às modificações cognitivas, emotivas e neurofisiológicas, como a ansiedade e a dificuldade de controlar o apetite, que tem importância nesse sentido(2626. Rodrigues FO, Rodrigues FAA. Problemas neuropsicológicos para a Obesidade. Contrib Cienc Soc [cited 2023 Sep 20];2023;7:5604–12. Available from: https://ojs.revistacontribuciones.com/ojs/index.php/clcs/article/view/1170.
https://ojs.revistacontribuciones.com/oj...
). A ansiedade tem relação direta com a dificuldade de controlar a compulsão alimentar e com a qualidade do sono em adultos jovens, na faixa etária entre 20 e 44 anos(2727. Fusco SFB, Amancio SCP, Pancieri AP, Alves MVMFF, Spiri WC, Braga EM. Ansiedade, qualidade do sono e compulsão alimentar em adultos com sobrepeso ou obesidade. Rev Esc Enferm USP. 2020;54:e03656. doi: http://doi.org/10.1590/s1980-220x2019013903656. PubMed PMID: 33331507.
https://doi.org/10.1590/s1980-220x201901...
), assim como nos resultados deste estudo.

Situações como as expostas anteriormente podem desencadear extenuação ao trabalhador com consequências à saúde, tais como a “ansiedade, depressão, síndrome do pânico, chegando ao último estágio de exaustão que é a Síndrome de Burnout”, designada por degradação física e mental(2828. Silva AVV, Silva RC, Souza CMFS, Silva RP, Abecassis R. Prevenção e manejo do comportamento suicida na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Rev Cient Esc Sup Políc Mil. 2022;3(3):192–227. doi: http://doi.org/10.5935/2178-4590.20220007.
https://doi.org/10.5935/2178-4590.202200...
), o que coincide com o quadro encontrado entre os policiais em estudo. Tendo em vista que os motivos de licença relatados pelos policiais foram crise de ansiedade (18%), depressão (14,3%), síndrome do pânico (4,7%), 3,8% bipolaridade, 3,8% outras desordens psíquicas, 2,0% com diagnóstico confirmado de síndrome de burnout e 1,3% dependência química.

Ainda que os percentuais tenham sido baixos, tornam-se significativos, já que são capazes de adoecer gravemente essa classe de trabalhadores. À vista disso, entre os sintomas dessas doenças que podem ter um cunho ocupacional também se encontram os problemas cognitivos, como a dificuldade de memorização e concentração, além de alterações do sono, cansaço físico e dores corporais(2929. Kimura CSFG, Marui FRRH, Amaral JG, Vieira ECB, Mazzieri ML, Ferreira RS, et al. Principais consequências da síndrome de burnout em profissionais de enfermagem. Global Acad Nurs J. 2021;2(2):e114. doi: http://doi.org/10.5935/2675-5602.20200114.
https://doi.org/10.5935/2675-5602.202001...
,3030. Queirós C, Passos F, Bártolo A, Marques AJ, Silva CF, Pereira A. Burnout and stress measurement in police officers: literature review and a study with the operational police stress questionnaire. Front Psychol. 2020;11:587. doi: http://doi.org/10.3389/fpsyg.2020.00587. PubMed PMID: 32457673.
https://doi.org/10.3389/fpsyg.2020.00587...
), coadunando com os resultados desse estudo.

Em suma, o processo de trabalho policial perpassa adversidades complexas, como a violência, pressão organizacional e social, que demandam um alto custo cognitivo. Esses fatores resultam no sofrimento patogênico que impacta negativamente a memória e concentração, além dos distúrbios no sono e condições neuropsicológicas para desencadear a obesidade e reações desproporcionais aos eventos laborais no cotidiano da organização do trabalho e processo de trabalho, podendo ocasionar riscos para todos os elementos do processo de trabalho.

Nessa perspectiva, diante da precarização do trabalho cada vez mais intensificada(22. Bernardes ARB, Menezes LS. Organização do trabalho e a saúde dos trabalhadores que lidam com doação de órgãos e tecidos para transplantes. Cien Saude Colet. 2021;26(12):5967–76. doi: http://doi.org/10.1590/1413-812320212612.15562021. PubMed PMID: 34909989.
https://doi.org/10.1590/1413-81232021261...
), faz-se necessário pensar que determinadas mudanças e medidas tomadas em relação à gestão organizacional poderão contribuir para a melhoria da qualidade de vida do trabalhador policial militar e reduzir riscos e adoecimentos provenientes desse processo(1717. Freitas HH, Acencio FR, Oliveira DV, Bertolini SMMG. Equilíbrio em idosos institucionalizados e não institucionalizados e sua relação com a qualidade de vida. Rev Ciênc Méd Biol. 2020;19(2):331–4. doi: http://doi.org/10.9771/cmbio.v19i2.33361.
https://doi.org/10.9771/cmbio.v19i2.3336...
).

O tipo de estudo pode ser considerado uma limitação, uma vez que o estudo transversal restringe inferências sobre a influência entre as variáveis investigadas, não permitindo afirmações de causa e efeito entre elas. Sugerem-se, assim, estudos com delineamentos longitudinais para melhor compreensão do fenômeno em momentos temporais distintos.

Os resultados do estudo contribuíram para o conhecimento sobre o custo humano no trabalho de policiais militares do Rio de Janeiro, destacando fatores que contribuem para o adoecimento dos policiais militares, participantes do estudo. Esses resultados podem ser apresentados aos gestores da Polícia Militar, visando a revisão dos contextos de trabalho para melhor qualificar a gestão dos serviços. Isso pode resultar na redução dos custos humanos, atendendo às demandas de atenção à saúde e de trabalho desse grupo de trabalhadores. Desta forma, melhorando a prestação de serviço aos usuários servidores da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro.

CONCLUSÃO

Os resultados do estudo permitiram concluir que houve risco grave para o adoecimento no custo cognitivo, onde todos os itens indicaram que o contexto de trabalho contribui fortemente para o adoecimento dos policiais. Houve também associações significativas em relação à obesidade, alterações cognitivas de atenção e memória, idade e horas de sono.

Ressalta-se que, os custos físico e afetivo não foram classificados como graves, contudo tiveram a classificação crítica considerada preocupante. Portanto, um dos maiores desafios, talvez, seja repensar a configuração da organização de trabalho da Polícia Militar na promoção de uma gestão resiliente e mais flexível, na construção de programas de identificação, acolhimento e intervenção no setor saúde.

  • Apoio Fincanceiro “O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001”

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Editado por

EDITOR ASSOCIADO

Thiago da Silva Domingos

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    13 Nov 2023
  • Aceito
    20 Mar 2024
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